A direção do Centro Socioeconômico chamou uma reunião para
discutir a proposta de mudança de regras nas eleições no Centro. Mas,
infelizmente não compareceu. Quem coordenou a mesa foi o secretário Roberto
Alves, e a reunião já começou um pouco tumultuada, pois o professor Armando, da
Economia, insistia que havia sido acordado com a direção de que ele falaria 15
minutos para defender sua proposta de 70/30. Depois de algum debate ficou
acertado que seriam abertas as inscrições e cada pessoa falaria 10 minutos.
Ao longo da plenária, apenas o professor Armando Lisboa se
manifestou e defendeu os 70/30. Todas as demais falas vieram no sentido de que
fosse mantida a forma histórica, que é a paridade. Também foi feito o apelo aos
conselheiros presentes – mesmo os que não se manifestaram – que pensassem sobre
o tema, observando que mudar as regras nesse momento do processo praticamente
se configura um golpe. A discussão do tema no Conselho de Unidade está marcada para
essa quinta-feira, dia 22, justamente no dia da Greve Geral, o que reforça
ainda mais a ideia de golpismo. Aproveitar um dia de luta externa para decidir
sobre as eleições é, no mínimo, desonesto.
Ainda assim, os que mantêm a proposta da paridade estão
organizados e deverão atuar em consequência. Da reunião ficou encaminhado que será levado até a direção o pedido de que na reunião de quinta seja decidido apenas o calendário da eleição e não os critérios.
Ficou claro para a maioria que qualquer diretor ou diretora que se eleja sob o signo do 70/30 não terá legitimidade.
A seguir um resumo das falas das pessoas que se manifestaram
no debate.
O primeiro a falar foi Armando Lisboa, da Economia. Ele veio
defender a mudança das regras, de paritário para 70/30. Segundo ele, a alma da
universidade é o mérito e que por conta disso os professores seriam os mais
preparados para decidir os rumos da mesma. Citou Darcy Ribeiro, o qual
considera um dos maiores intelectuais da esquerda, e pontuou que ele mesmo
considerava que não havia igualdade entre os segmentos na universidade. Também lembrou
Adorno e o fato de que esse chegou a chamar a polícia, em 1968, contra os
estudantes revolucionários. Apontou ainda que as ideias de Córdoba estão
superadas. Ou seja, usou teóricos de esquerda para respaldar a sua teoria de
que os professores são mais iguais que
técnicos e estudantes.
A jornalista Elaine Tavares falou em seguida, lembrando que
a democracia é uma palavra que precisa de adjetivo. Ela não existe em si mesma.
Apontou que a América Latina tem sido
exemplo para a Europa na construção de
uma democracia participativa e protagônica (Venezuela ) ou na democracia direta
(zapatistas) e que se precisamos buscar exemplo fora do Brasil para referendar nossas
propostas, que esses exemplos sejam os avanços que temos conseguido nos países
latino-americanos e não o atraso da Europa envelhecida. Também recordou aos presentes
que Darcy Ribeiro teve seus equívocos na vida, ele não é uma religião. Quando
da discussão da LDB – na qual ele propôs a lógica do 70/30 – os trabalhadores
da educação foram muito críticos a ele. O fato de ele acreditar que os
professores são os únicos que podem dirigir a universidade não significa que
ele tenha de ser tomado como verdade. Apontou que a universidade ainda divide
trabalho manual de intelectual e que isso é algo que já está superado, pois até
mesmo para apertar um botão, o trabalhador precisa do intelecto. Falou ainda
que o perfil dos trabalhadores técnico-administrativos nos anos 60 era diferente.
A universidade não está descolada da mentalidade colonial e escravista. Tanto que
os trabalhadores eram contratados por compadrio, e estavam acostumados a beijar
a mão dos professores. Hoje não é mais assim. O mundo mudou, a universidade
mudou, os trabalhadores mudaram. Ressaltou que historicamente os técnicos tem
lutado pelo voto universal, e que aceitam o paritário como um ponto de
convergência numa luta que ainda está se fazendo. Logo, caminhar para trás é
inaceitável.
O professor Jaime, do Serviço Social, rebateu os argumentos
de Armando Lisboa, mostrando que se a eleição no CSE tem de se dar no 70/30
porque os professores estão melhor preparados, então isso deveria valer para a
eleição a qualquer cargo. Ou seja, a burguesia poderia dizer que é melhor preparada
e dar menor peso ao voto dos trabalhadores numa eleição par a prefeito, por
exemplo. Para Jaime, todo ser social é
capaz de exercer uma função na universidade. Também lembrou que em 1968 foram
os estudantes que iniciaram as mudanças sociais, e que todos aplaudiram e se
aproveitaram ao bel prazer da luta deles. Agora eles não são capazes? Criticou
a direção do centro por se ausentar do debate e insistiu que o CSE não pode restringir a
democracia com base em argumentos sem validade.
Armando Lisboa voltou a se inscrever, trazendo novas
passagens de Darcy Ribeiro e argumentou que já está na hora de a universidade
como um todo fazer uma avaliação dos efeitos danosos do voto paritário. Também
citou Cristóvão Buarque, apontando que o mesmo sempre foi contra a paridade.
Ricardo, aluno da Economia, também lamentou a ausência da
direção do Centro e criticou Armando por usar Darcy Ribeiro – que sempre
defendeu o protagonismo dos estudantes – para tentar defender o atraso. Alegou
que o paritário não é suficiente, há que avançar para o universal e ressaltou
que nada indica que os professores sejam os melhores preparados para gerir a
universidade, basta ver como se comportam no dia a dia, com autoritarismo e arrogância,
mandando os alunos calarem a boca.
A professora Vânia, do Serviço Social, apontou que toda a
argumentação de Armando era contraditória. Como defender os 70/30 acusando os
técnicos e estudantes de corporativismo, se a essência dessa proposta é
corporativista. Dar poder somente aos professores. É o quê? Ela ainda lembrou
que esse debate já estava superado desde o tempo das freiras no Serviço Social.
Os professores não são os mais inteligentes para dirigir a universidade e isso
se vê na própria organização dos mesmos. Segundo ela, os professores tem sido
incapazes de atuar politicamente no sindicato, sendo que hoje existem dois
sindicatos da categoria dentro da UFSC, e um impede o outro de atuar. Que
inteligência é essa? Conhecimento técnico não tem nada a ver com conhecimento
científico.
O estudante Tiago, da Economia, também se manifestou dizendo
que a proposta do 70/30 rebaixa os estudantes e que é de estranhar que os
professores - que formam os estudantes –
não tenham confiança na capacidade dos alunos. Sobre Darcy Ribeiro, ele lembrou
que a própria UNB já superou essa ideia atrasada e hoje atua na paridade.
O professor Pedro Melo, da Administração, se manifestou
argumentando que esse debate sobre a paridade vem desde o tempo em que ele
entrou na UFSC, em 1978. E que essa discussão do 70/30 já está superada
historicamente. Não há qualquer razão para mudar as regras do que já está
estabelecido pela prática histórica.
O técnico-administrativo Maicon apontou que alegar mudança
de regras pelo fato de o CSE ter poucos técnicos é absolutamente medíocre e
mostra, inclusive, a incapacidade que o centro tem de gerir o próprio local de
trabalho. Porque não se mudam as regras na eleição para reitor? Porque aí os
técnicos são a maioria e as velhas regras de manutenção do poder podem ser
usadas. É tudo casuísmo.
O professor Irineu, da Administração, considerou lamentável
a ausência da direção do centro. Mostrou que o debate do 70/30 apenas expõe uma
realidade do CSE que é a de um pequeno grupo que se acha dono do centro.
Lembrou que são as mesmas pessoas que na eleição para reitor levantaram o mesmo
ponto, chegando a entrar na Justiça contra o voto paritário. E que a própria
Justiça negou seus argumentos, considerando legal e legítima a consulta
paritária. Apontou que a eleição para direção do centro será no dia 8 de
outubro e não tem qualquer cabimento querer mudar as regras a essa altura do
processo. A própria criação de uma comissão com número par mostra a
incompetência.
A professora Beatriz, do Serviço Social, também desmontou os
argumentos de Armando ao mostrar que a desigualdade já existe. O professor é
quem detém o poder na hierarquia da universidade. Por que aprofundar ainda mais
a desigualdade? O papel do intelectual é criticar as estruturas de dominação e
as práticas discriminatórias, e não aprofundá-las. Como mudar as regras em
pleno processo? Isso não tem fundamento. Afirmou ainda que se o Conselho de
Unidade alterar as regras, sem um debate profundo, estará alterando à revelia
da comunidade, de uma forma antidemocrática, impondo uma tirania.
O professor Rafael, da Administração, contou que trabalhou
na UDESC como técnico-administrativo e que quando passou no concurso para professor
ouviu dos colegas: agora sim tu cresceu. O que significa que para a maioria,
ser técnico é não ter valor. Argumentou
que o professor não é neutro e que o que está em jogo são interesses. A
universidade não é a-histórica e ninguém é superior a ninguém. Todos são
capazes.
O técnico-administrativo Roberto lembrou que esse debate só
estava acontecendo por causa do vídeo do Maurício, que, inclusive, está sendo
bastante pressionado. Lembrou a todos que a fala do Maurício e a decisão de
fazer o vídeo foi resultado de uma reunião dos TAEs do Centro e não uma decisão
pessoal. Também deixou claro que a universidade é administrada por grupos de
interesses e esse debate não está descolado desses grupos e desses interesses.
Apontou que o corporativismo dos professores é grande. Não entende como abrir
mão de um avanço democrático. “Como vou dizer ao meu filho que ele é igual a
todo mundo na vida se ele chega aqui e vale mesmo?”
O professor Jaime, do Serviço Social, fez um apelo aso Conselheiros
que estavam na reunião (poucos) que mesmo querendo os 70/30 fizessem um esforço
para perceber que querer mudar as regras do jogo agora é o mesmo que golpismo.
Não há lógica na mudança de uma prática histórica, a menos que seja para dar um
golpe. Pediu que recuassem nessa proposta, que mantivessem o paritário e
depois, aí sim, se quisessem, chamassem um amplo debate. Mas, agora, é golpe.
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