O domingo já prenunciava e a segunda-feira apontou, através
do blog de um jornalista gaúcho, Felipe Vieira: a venda das ações da RBS em
Santa Catarina já teria sido efetuada e a família Sirotski não controlaria mais
o grupo no estado. O comprador majoritário seria o grupo liderado por um empresário
do ramo dos medicamentos (?) Carlos Sanchez, 52 anos, e que tem como sócio o
milionário gaúcho, Lírio Parisotto que é hoje também o maior acionista da
Celesc. Há informações também de que o Boni (Globo) também teria um bom número
de ações. O mesmo jornalista informa que a operação de venda teria passado de
um bilhão. Segundo ele o anúncio será feito hoje , dia 7.
A troca das cadeiras no poder do oligopólio midiático em Santa
Catarina – se confirmada pelo grupo RBS hoje - possivelmente não mudará nada no
estrutural. O grupo que passa a dominar seguirá reproduzindo a propaganda do
sistema, cuidando dos interesses da classe dominante, pois esse é sentido da existência
dos meios de comunicação no mundo capitalista. De resto, o grupo gaúcho seguirá
tocando a comunicação no Rio Grande e ninguém por lá ficará mais pobre. Da
mesma forma os novos donos certamente encherão os bolsos servindo aos mesmos
velhos interesses, agregando um ou outro mais. Como o novo dono produz
remédios, as farmacêuticas estão prosas.
Os problemas deverão ficar na ponta da rede e quem sofrerá
de maneira mais intensa as consequências da troca de comando serão os
trabalhadores. Nova gestão sempre vem acompanhada de soluções mirabolantes para
enxugamento das despesas e maximização dos lucros. A RBS está acossada pelas
denúncias da Operação Zelotes, a qual investiga sua participação em esquema de
sumiço de tributos, desfalcando os cofres públicos em milhões de reais. A acusação
é de que a empresa pagou 15 milhões em suborno para evitar marchar com 150
milhões em dívidas tributárias. Isso
pode ter detonado a decisão de entregar os anéis (Santa Catarina) para não
perder os dedos, que é o poder midiático no Rio Grande do Sul.
Os novos donos não são gente oriunda da comunicação, logo,
haverá outra razão administrativa, meramente comercial. A RBS já era assim, mas
mantinha certa mística, por conta de seu fundador, Maurício, que era um homem
de rádio. Agora, sem qualquer vínculo com compromissos comunicacionais, a nova
RBS que emergirá será mais pragmática no mundo dos negócios. Logo, nenhuma
mudança real se fará.
Ainda assim, no meio desse turbilhão, o jornalismo poderá
ser o setor mais aviltado. Não que já não fosse, mas pode piorar. No espaço da
empresa gaúcha, o jornalismo estava vivendo dias amargos, com os trabalhadores
sofrendo a mais dura exploração, baseada na multifunção. A mesma pessoa dando
conta de três ou mais funções, num processo violento de cobranças, levando
muita gente ao adoecimento. E tudo isso com um piso salarial de pouco mais de
dois mil reais. Tudo isso refletia num jornalismo cada dia mais fraco, insosso,
sem qualquer viés crítico, totalmente amarrado aos interesses patronais.
Imagino a angústia que deve estar acometendo todo o grupo de
trabalhadores que se manteve completamente alheio às negociações, sem saber
quais foram as questões acordadas e como será sua vida de agora em diante. Viveram
como os viviam os servos no tempo dos feudos, mudando de “senhor” sem que
fossem levados em conta. Logo, esse é um momento crucial, no qual o Sindicato
dos Jornalistas, bem como os demais sindicatos das categorias que conformam
todo o bloco comunicacional, devem atuar unidos e imediatamente, buscando
canais de conversa para garantir saúde espiritual de todos os trabalhadores,
bem como a garantia dos empregos até que se possa saber quais são os planos dos
novos donos. Se houver organização e luta renhida, pode ser que se consiga
salvaguardar os empregos.
Os otimistas dirão que uma mudança é coisa boa, um choque de
gestão para remexer as bases. Mas, os realistas sabem muito bem que no embate
de gente graúda, quem sai lascado é o pequeno. Não me parece haver dúvidas de
que serão os trabalhadores os que pagarão o preço mais alto. Se houver
enxugamento, lá vêm as demissões. Se houver um choque de gestão, lá vem o
aumento da super-exploração e os baixos salários. De todo o lado virá bomba,
afinal, nenhum empresário entra em uma canoa que está afundando sem um plano
para colocá-la no rumo. E os planos, no mundo capitalista, são sempre muito
simples. Cortar na carne dos trabalhadores para garantir maiores lucros aos
patrões.
Manifesto aqui minha solidariedade aos colegas de todos os
veículos da empresa. Serão tempos duros. Por isso conclamo a necessidade de
união através do sindicato. Ainda que também essa seja uma instituição que anda
perdida, frágil e sem poder, ainda é o instrumento que temos nós, os
jornalistas, para organizar a luta que precisa ser travada. Como as emissoras
de TV pública são concessões, a transação terá de passar pelos órgãos
reguladores, logo, temos tempo.
Não ouso sonhar com uma luta pelo jornalismo de qualidade,
crítico, libertador. Mas, pelo menos a batalha pela sobrevivência dos
trabalhadores. Vencida essa, quem sabe se possa avançar para o debate sobre o
jornalismo e sobre a necessidade de organizar a luta nessa direção. O jornalismo
é um fazer que requer valentia, capacidade intelectual e vontade política, para
se fazer crítico e transformador. E ele deve ser praticado nas grandes
empresas, mesmo correndo o risco de se ser demitido.
Como podemos ver agora, o risco do desemprego está
permanentemente sob as cabeças. Lutando ou não lutando por um jornalismo de
qualidade, todos cairão. Melhor, é, como diz José Martí, enfrentar de pé, cair
com honra.
Esse é um bonito momento para o ressurgimento da luta
sindical no campo do jornalismo. Vamos arregaçar as mangas e unir as forças no
amparo dos companheiros e companheiras que fazem parte do grupo RBS.
Da minha parte, estou à postos, para o que vier. Vamos vencer o temor e partir para a ofensiva.
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