Desde bem pequena fui encarnada em discos voadores. Lia tudo
sobre isso e nas noites claras da fronteira eu procurava por eles, ingenuamente
pensando que se viessem outros seres de algum lugar, eles seriam bons. Naqueles
dias de infância até os humanos me pareciam bons, afinal, eram só os desse tipo
que eu conhecia. Nos anos 70, ninguém me tirava de frente da televisão na hora
do “Jornadas nas Estrelas”. Era fissurada, e amava Spock, o vulcano, tão inteligente
tão doce.
Assim, foi com alegria que em 1993 vi nascer a série Arquivo
X. Ela vinha com essa temática e eu comecei a seguir, um pouco desconfiada de
que pudesse ter alguma série melhor do que a velha Jornada nas Estrelas. Mas,
aqueles eram outros tempos e outras temáticas assomavam. Era bom e era diferente.
Arquivo X também fazia crítica ao governo estadunidense e sua velha mania de
acobertar os fenômenos UFOs. Com o passar dos capítulos, Arquivo X ainda
tratava de outros assuntos quentes como as armações secretas e as maracutaias
da CIA e do FBI, bem como sobre outros fenômenos do campo dos mitos e das
lendas urbanas.
Não demorou muito e eu já estava apaixonada pelo Mulder,
tanto quando amara Spock. O jovem agente do FBI personificava aquela criatura
bondosa e irreparável. Amoroso, crédulo, compassivo, doce, corajoso. Tudo de
bom.
Dentre os tantos episódios bonitos que mostram a bondade
humana, essa coisa tão rara, um deles me encanta e faz chorar. É o do encontro
entre Mulder e uma gênia que sai de uma lâmpada que ele encontra. Na história
ele investiga uma série de mortes estranhas e violentas e acaba encontrando o
que então descobre ser a lâmpada mágica, aquele que contém um gênio que permite
três pedidos.
A cena é fantástica. Lá estão Mulder e a gênia, sentados num
café. Ele tenta conversar com ela para que pare com as mortes. Ela insiste que
tudo é culpa das próprias pessoas e dos desejos que fazem. O agente Fox percebe
que ela sofre com seu destino e pergunta qual seria o seu desejo, se pudesse
ter um. E ela, com olhos sonhadores, diz que tudo o que queria era ser uma
pessoa comum, tomando um café em Paris, livre dessa maldição.
Mas, Mulder havia libertado a gênia, precisava fazer os
pedidos. Era lei. Ele, podia pedir algo bem pessoal, como a volta da irmã, mas
prefere o altruísmo, como sempre, e faz seu primeiro pedido: “que haja paz na
terra”. Estava feito, disse a gênia. E se foi. Mulder então olha pela janela e
vê que tudo está parado. Não há movimento nem pessoas. Ele liga para sua amada
Scully e ela não responde. Não há mais pessoas no mundo. Tudo está vazio. Ele
pira e invoca a gênia.
- O que você fez?
- Coloquei a paz no mundo – ela diz – Somente sem os seres
humanos a paz é possível.
Aquele momento aterrador. Mulder entende a mensagem sobre o
perigo dos pedidos. Faz então seu segundo pedido: “que tudo volte a ser como
antes”. E, em um segundo, lá estavam todos na rua, a vida, o barulho, o
turbilhão. Mais tarde o vemos com Scully e ela pergunta sobre o caso dos
assassinatos. Ele revela as causas e conta sobre seu incrível encontro com a
gênia. Scully, sempre cética, não acredita muito na história, fantástica demais
para sua razão instrumental. Mas, ainda assim, pergunta a Mulder sobre o
terceiro pedido, já que ele teria direito a mais um, depois da cagada do “paz
no mundo”. Ele sorri, aquele sorriso adorável, e faz uma carinha sapeca, bem
típica do personagem quando comete um de seus arroubos de bondade e beleza. Não
diz nada. Nós, os que estamos do outro lado da tela, entendemos tudo. Na cena,
aparece a gênia, tomando um café, numa pequena mesa de um bulevar em Paris.
Mulder a tinha libertado. Pode algo tão singelo?
Uma delicada visão de Cris Carter sobre o humano,
personificado naquele doce personagem. Não é sem razão que Mulder sumiu e o personagem mais famoso
hoje nos EUA é Drexler, um psicopata que mata com requintes de crueldade e
tortura.
E eu, quando vejo notícias sobre o horror que o humano pode
produzir, me encolho e evoco Fox Mulder e sua amorosa traquinagem. Abriu mão de
toda riqueza e poder que podia ter, apenas para ver uma mulher feliz.
E tal qual a gênia, sento num café e fico olhando o
infinito. Sempre haverá bondade? Ou isso apenas é possível numa fantasia de TV?
Não sei...
Um comentário:
Malvada, (risos), me fez chorar. Obrigado!
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