Nossa luta cotidiana para melhorar o serviço público e a vida do trabalhador
Hoje é dia do servidor público e me ocorreu falar um pouco,
não sobre nós, trabalhadores, mas sobre o serviço público mesmo. Porque muitas
vezes aquele problema que vivemos no atendimento é jogado para a conta do mau
trabalhador. E, assim, vai se criando o preconceito de que todo o trabalhador público
é vagabundo, relapso ou incompetente. Coisa que não é de todo verdade.
Outro dia tive problemas com minha declaração de imposto de
renda. Tentei resolver pela internet. Não deu. Apelei para o telefone. Era uma
simples dúvida. “Não fazemos atendimento por telefone, só presencial”. Tudo
bem, lá fui eu para a Receita Federal. “Moça, eu tenho uma dúvida, é coisa
simples, não estou conseguindo transmistir...” Ela nem deixou eu terminar. “Tem
que pegar uma senha e aguardar”. Tudo bem, lembrando que as atendentes ou são
estagiárias ou terceirizadas.
Peguei a senha e fiquei sentada em frente a TV. Minutos,
minutos, minutos. Uma hora e meia e nada de aparecer as letrinhas do meu
cartão. Já tinham aparecido todas as letras do alfabeto, manos as minhas. “Moça,
será que não está tendo algum problema, não chamaram nenhuma senha com essas
letras”. Cara amarrada. “Tem que aguardar”. Tudo bem.
Dali há pouco chega minha vez. Uma hora e 45 minutos de
espera. Fui em direção a uma sala que tinha 30 mesas de atendimento. Mas, a
maioria delas estava vazia. Apenas cinco seres humanos se desdobravam para
fazer andar a fila quilométrica. “Oi, tenho uma dúvida”. Expliquei o caso e o
rapaz me mandou fazer o procedimento pela internet. Não demorou um minuto. “Por
que vocês não fazem o atendimento de dúvidas por telefone? Não seria melhor
para todos?”. O homem suspirou. “Senhora, olha em volta. Não tem gente. Se
formos atender ao telefone, tudo piora”. Está bem, concordei. Agradeci e sai.
Toda essa aventura para tirar uma dúvida me custou cinco
horas. O tempo de ir até lá, de esperar e de voltar para casa. Cinco horas. E
sem resolver o problema. Cheguei a casa e fui fazer o que ele disse. Não deu
certo. E agora? Voltar lá e viver tudo de novo? Pois...
Então, tudo isso para dizer que os colegas trabalhadores
públicos têm também os seus dramas. Excesso de trabalho, acúmulo de funções,
falta de condições, enfim. O que parece claro é que o estado não existe para
servir com qualidade as pessoas comuns, normais, sem poder econômico. Tudo
precisa ser batalhado, suado, conquistado. Uma simples informação vira uma
novela. A saúde não funciona, a educação é ruim. Aquilo que deveria ser um
direito precisa que se trave uma larga peleia. E, no fim das contas, não é
culpa do trabalhador. O problema está no estado, ou no governo que não prioriza
os bons serviços.
Eu fico imaginando o atendimento de um empresário no BNDS.
Como seria? Teria todo esse mau humor dos atendentes? Seriam obrigados a ficar
com o papelzinho na mão por horas? Ou os grandes fazendeiros buscando
empréstimos nos Bancos Públicos? Viveriam o mesmo drama?
O estado capitalista existe para os interesses da classe
dominante. Os “normais”, os “comuns”, esses precisam disputar no braço cada
atendimento, cada política pública.
Nesse dia do servidor público, o que eu mais queria desejar
é que meus colegas pudessem perceber essa dolorosa verdade e que fizessem das
tripas coração para mudar esse estado de coisas. Que pudessem receber com um
sorriso os velhinhos desinformados, as pessoas empobrecidas, os feios, os
sujos. Que pudessem acolher, sabendo que é esse povo que precisa do seu
trabalho e que, muitas vezes, é só isso que eles têm ao alcance.
Sabemos que os salários são ruins, que a carreira não é suficiente,
que as condições de trabalho são duras, mas as pessoas que precisam do nosso
trabalho não têm culpa disso. Elas são nossas companheiras na luta por um mundo
novo e melhor.
As pessoas que buscam saúde, educação, informação,
segurança, moradia, empréstimo ou qualquer outro serviço público só precisam disso:
um olhar de amor, ternura, sorriso, cuidado, um aperto de mão, um abraço. O
resto, com todos os entraves e dificuldades, acaba ficando mais fácil de
garantir.
Então, meu abraço apertado a todos os colegas de profissão e
meu desejo profundo de que possam dar o melhor de si. O cuidado com outro não muda
apenas o outro, muda a nós mesmos.
Feliz dia, tudo de bom!!!!
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