Livro foi lançado durante as Jornadas Bolivarianas - X Edição
Matheus Lobo Pismel e Rodrigo Simões Chagas eram ainda estudantes de Jornalismo às voltas com o trabalho final quando decidiram que era preciso voltar os olhos para os demais países da América Latina. Não que faltassem pautas aqui mesmo no Brasil, mas os dois sabiam também que havia uma riquezas imensa de histórias nessa “américa baixa”, ainda tão desconhecida. A busca apontou para a Colômbia, um país que vive uma guerra civil desde 1948, quando os conservadores mataram Jorge Gaitán, um candidato que aparecia liberal e progressista demais aos olhos da elite local. O assassinato provocou revoltas populares que geraram uma resposta descabida do poder. Desde aí a Colômbia mergulhou num processo de violência, terrorismo de estado e medo que ainda perdura. Nesse ínterim, nasceram movimentos guerrilheiros de libertação, cresceram os paramilitares e mercenários e, a tudo isso, seguiu-se uma rotina de mortes e desaparições também provocadas pelo exército colombiano.
Hoje, a Colômbia tenta mais uma vez levar ao fim um processo de paz que possa permitir à população viver em paz. Para isso, iniciaram, na cidade de Havana – solo neutro – uma série de diálogos entre guerrilheiros e estado. Não é coisa fácil, uma vez que isso já foi tentado e acabou em chacina de todos aqueles que decidiram largar as armas. Mas, as mesas de conversa vão avançando, ao mesmo tempo em que na Colômbia aparecem novos movimentos de luta, não armada, buscando outro protagonismo.
A guerra e o terrorismo de estado tem transformado – principalmente o povo empobrecido – num exército de viandantes, uma vez que são obrigados a perambular pelo país, desalojados pela violência ou pela busca de uma vida melhor. São essas gentes que começam a atar os fios de novas tramas políticas. E foi esse país que Matheus e Rodrigo buscaram desvelar. Botaram a mochila nas costas e partiram em busca das informações que – via de regra – são negadas pela imprensa comercial. Durante dois meses eles viajaram pelo país, conversando com lideranças populares e políticas, tentando tecer uma visão totalizante dessa imensa colcha de retalhos que é a Colômbia. O resultado desse esforço acabou virando o trabalho final que lhes rendeu o título de bacharéis em jornalismo.
Mas, tudo o que puderam ver com os “olhos livres” – para usar uma expressão de Oswald de Andrade – não podia ficar confinado numa prateleira de trabalhos finais. Era preciso dar visibilidade para todo esse processo quase heroico do povo colombiano em busca da paz, depois de tanto tempo em guerra, num processo de violência naturalizada. Então, o trabalho virou livro, com o apoio da Editora Insular, de Florianópolis. O resultado é um panorama muito rico da situação da Colômbia que, nesse mês de maio, enfrenta mais uma eleição presidencial. Uma eleição na qual o tema do livro - a paz - é ponto crucial. Enquanto forças de esquerda e de centro tentam o caminho da negociação, grupos à direita – dirigidos pelo ex-presidente Uribe – buscam consolidar o caminho do terror, e são essas duas vias que estarão em disputa no 25 de maio.
Assim, a leitura do trabalho de Matheus e Rodrigo aparece como imprescindível para quem quer conhecer o que se passa na América Latina, afinal, ali, na Colômbia, também se enfrentam visões de mundo e de integração. Não é à toa que o país tem nove bases militares estadunidenses com a desculpa de “combate ao tráfico”. No livro “Colômbia – movimentos pela paz”, o leitor vai encontrar importantes relatos da luta pela educação pública, a batalha pela terra e a sonhada conquista da paz. O que o torna fundamental é o fato de que os autores não se limitaram a estudos bibliográfico. Eles se fizeram repórteres, colocando o pé na realidade, ouvindo as gentes, sentindo os cheiros, vivenciando cotidiano. O resultado é um trabalho de fôlego que vale a pena ser lido.
O livro, que foi lançado durante as Jornadas Bolivarianas, em abril desse ano, já está à venda nas livrarias - também no Iela - e é um documento riquíssimo sobre a realidade colombiana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário