sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Um dia de janeiro


Ontem fui ao Centro, coisa que me dá prazer. Mas, distraída, não percebi que era janeiro. Depois de um banho refrescante fui para a parada do ônibus, em frente ao castanheira. A idéia era pegar o carro que passa por ali às 16:10. Não passou. Eram 16:25 quando ele assomou. Tudo bem, lá fui eu, ainda distraída. O ônibus desse horário faz a volta por dentro do bairro, levando em média uns 20 minutos. Levou 45. Assim, passava das cinco quando cheguei ao Terminal do Rio Tavares. Ali, a fila para o centro estava quilométrica. Se quisesse ir sentada, só esperando por uns três carros. Fui até o fiscal para perguntar sobre os horários. “Está tudo atrasado”, já foi dizendo quando me viu. “E não há carros extras? É férias, a ilha deve estar com o triplo do número de habitantes...”  Não! Não há carros extras. As empresas mantêm os mesmos horários dos dias normais. Para eles é lucro. Transportam o triplo de gente e não sofrem desgaste. Só lucro.

Eram 17:25 quando consegui entrar no ônibus para o Centro. A ida foi arrastada, mas não havia tanto engarrafamento ainda. Tudo bem. No Centro, a vida fluia sem atropelos, já que a maioria dos turistas estava na praia. As ruas estavam com movimento normal e até o mercado público, onde parei para um chope, estava tranquilo, com várias mesinhas vagas. Ufa... Fiquei ali apreciando essa minha cidade amada, deliciando-me com o por-do-sol e o vai-e-vem das gentes no caminho para o terminal. Fiquei pensando se as pessoas que planejam a cidade são capazes de coisas assim. Observar a vida real, perceber suas belezas e compreender onde estão os problemas para então resolvê-los. Nós, os que vivemos aqui, sabemos muito bem o quê fazer e como fazer.  Vivemos a cidade, andamos de ônibus, caminhamos pelas ruas, pelos bairros, sofremos os serviços públicos. Tudo parece tão simples. Mas, os que mandam estão à serviço de outros interesses. Importam-se com um número bem reduzido de pessoas. Dessas, do tipo das que vêm para o “clubes de praia” passar os verão. As que chegam de helicóptero e não sabem sequer o que seja um ônibus urbano, que não se importam com a cidade onde estão, afinal, sequer a percebem para além dos limites do seu mundo dourado.

Eram 19:30 quando resolvi votar para casa. No terminal a vida fervilhava. Moradores voltando do trabalho, turistas chegando. As filas estavam gigantes, pois os ônibus seguiam com seus horários normais. Além disso, as empresas não se preparam para os engarrafamentos e os ônibus que vêm das praias chegam todos com atraso, por conta da lentidão do trânsito. Mas, não há carros extra. Assim, os horários de saída não são cumpridos. A desculpa: são as filas. Ora, a prefeitura deveria exigir das empresas que mantivessem carros extras para colocar nos horários certos, assim, as pessoas não precisariam amargar horas nas filas. Mas, qual! Nem os fiscais ficam à vista, com medo das cobranças, as quais tampouco são muitas. No geral, as pessoas esperam, olhares tristes, mas mansos. Eu não. Faço salseiros, ainda que inúteis. 

Como as pistas da SC 405 ficam abertas para quem está voltando das praias, a ida até o Rio Tavares se estendeu por mais de uma hora. Calor de matar, ônibus sem ar condicionado, lotado até a boca. Uma antecipação do inferno. Eram 20:40 quando cheguei no terminal do Rio Tavares. Bueno, pegaria o carro das 20:45. Doce ilusão. Havia um atraso de três horários, pois os ônibus estavam parados no engarrafamento da praia. Toca a esperar. Eram 21:05 quando finalmente entrei no ônibus que me levaria para casa. O estresse é tanto que toda a beleza vivida lá no Centro, sentada na beira do mercado vendo o sol se pôr, já havia se esgotado. No coração, só aquele aperto de ver a cidade amada tão mal cuidada, tão entregue à mãos irresponsáveis. Para os turistas, que estão à passeio, tudo é festa. Um atraso, um engarrafamento, nada os tira dos sério. Mas, para a gente que aqui vive e que sabe porquê as coisas são assim, e como poderiam ser diferentes, é impossível não sofrer. 

Às 21:20 enfim desci na minha ruazinha de areia e vim andando pelo caminho com cheiro de arlecrim. E, enquanto as corujas revoavam eu pensava: “quando será que as gentes daqui finalmente elegerão alguém que cuide dessa nossa cidade e dos moradores? Quando será? Será?” 


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