Já está em andamento a
campanha eleitoral para a Federação dos Jornalistas. Muita gente que está
chegando agora na profissão, e mesmo os mais antigos, não tem muita noção do
que seja a federação e qual o papel que ela representa no nosso cotidiano. Isso
por si só já é um dado revelador. Se uma federação de trabalhadores não está
encarnada na vida concreta da categoria a qual representa, alguma coisa não
deve andar bem.
A organização sindical
brasileira atual se estrutura dentro de um sistema confederativo, criado em
1930. Na base está o sindicato, há uma estrutura intermediária que é a
federação, depois a confederação. O sindicato é a estrutura mais próxima do
trabalhador, atua na organização da categoria, encaminha as lutas, faz as
negociações diretamente com os patrões, assina acordos coletivos. A federação é
uma estrutura que reúne vários sindicatos (no mínimo cinco) representativos de
uma determinada categoria e sua função é articular as lutas em nível nacional,
disponibilizar análises periódicas de conjuntura, debater nacionalmente os
problemas da categoria, definir a linha política da luta nacional, discutir a
formação dos trabalhadores. Existe para potencializar a luta. As confederações
tem semelhante papel e reúne federações, também para garantir maior poder de
barganha nas disputas entre trabalhador e patrão. Por conta disso é que a
classe patronal também se organiza em federações e confederações.
A Fenaj é uma
federação, entidade que reúne os Sindicatos de Jornalistas do país e seu papel
deveria ser o de garantir os instrumentos políticos aos sindicatos de base a ela
filiados, para que esses pudessem se fortalecer e enfrentar os patrões – que
são singulares, regionais, de diversos pesos e tamanhos. Mas, no campo dos
jornalistas, o que se vê é uma federação completamente descolada dos grandes
problemas nacionais e dos trabalhadores jornalistas. Basta se perguntar: qual a
última avaliação de conjuntura da Fenaj que foi divulgada? Como a federação
está atuando no sentido de garantir informações sobre a realidade nacional,
sobre a situação das empresas oligopólicas, para que os sindicatos possam atuar
com mais segurança na hora de negociar salários? Qual a posição da Fenaj sobre
os acontecimentos que têm balançado o país nas últimas semanas? Como garante
aos sindicatos filiados subsídios políticos e de formação para que esses possam
melhor informar seus trabalhadores de base? Que papel tem representado na luta
contra os oligopólios, contra as seis famílias que mandam na comunicação
brasileira? No geral o que se vê é a denúncia das agressões a jornalistas, más
condições de trabalho, coisas necessárias, mas não suficientes.
Ao longo dos últimos
anos um mesmo grupo político tem comandado a Fenaj. O que se vê é uma troca de
cadeiras nos cargos, mas, ao fim, são praticamente as mesmas pessoas que vão se
perpetuando nas instâncias, muitas vezes criando verdadeiros feudos, intocáveis.
Entra ano, sai ano e a categoria dos jornalistas vai administrando perdas. O
grande debate que deveria ser feito pela Fenaj – que diz respeito ao poder das
empresas e suas práticas de superexploração dos trabalhadores – fica subsumido
em lutas particulares que reduzem danos, é fato, mas não atacam as verdadeiras
causas. A Fenaj praticamente perdeu sua cara sindical. Não há lutas, não há
formação para a rebeldia, não há um embate real contra os oligopólios da
comunicação.
Como então que essa
política de “bom mocismo” e de negociações de gabinete da Fenaj interfere na
vida de cada um, mesmo daqueles que sequer são filiados a um sindicato?
Disseminando entre os sindicatos filiados essa forma de agir, titubeante com
relação aos poderosos, ao governo. A Fenaj faz algumas campanhas importantes,
mas que se configuram em lutas pontuais – a defesa do diploma, o assédio moral,
as diretrizes curriculares dos cursos de jornalismo. Lutas necessárias, sem
dúvida, mas, repito, não suficientes. A categoria dos jornalistas é bastante
heterogênea. Nos dias atuais há uma grande parcela que trabalha “por conta”,
freelance, “pessoa projeto”, pessoas que estão longe de qualquer proteção
trabalhista legal, precisam se virar sozinhas, são as que negociam seus
vencimentos direto com o contratador. Muitos sequer estão se preparando para a
velhice, para aposentadoria. Outros se transformaram legalmente em empresas, os
famosos “pejotizados” e seguem trabalhando para os oligopólios, no mais das
vezes duplamente explorados porque uma vez que são “empresários” já não têm o
direito do descanso, das férias e tudo mais. Alguns se dão bem e ficam ricos,
mas a maioria rala muito para fechar o ano. E há os que estão no “chão da
fábrica”, os que trabalham nos jornais, emissoras de televisão, agências de
notícias. Esses trabalhadores de carteira assinada são os mais desprotegidos.
Acossados pela máquina de moer que são as empresas, têm a vida sugada na famosa
multifunção. Jornalistas cumprindo a função de vários profissionais com um
único salário: apuram a notícia, redigem, entrevistam, fazem vídeo para o blog
do jornal, fotografam para o blog, alimentam o blog, redigem a matéria do
jornal de papel, dirigem o carro, enfim, vivem a exploração elevada ao cubo.
Pois esses dramas
pessoais e coletivos praticamente não são considerados nas análises, nas
propostas, nos encontros nacionais, nas políticas que saem da federação e se
espraiam pelos estados, via sindicatos. E, sem uma direção mais segura e
guerreira, as entidades de base fazem o que podem para reduzir os danos que vão
aparecendo a cada dia. As políticas, ao não atacarem a causa central da
exploração, acabam sendo paliativas, sem
trazer perspectiva de melhoras para os trabalhadores.
Agora, às vésperas de
nova eleição para a Fenaj, há uma proposta de mudança que é o grupo do Luta, Fenaj. Porque por todo o país
existem jornalistas que querem uma federação que enfrente a batalha com os
grandes empresários da comunicação, que denuncie o oligopólio, que faça
campanhas enraizadas na vida cotidiana do jornalista, que garanta os
instrumentos teórico-políticos aos dirigentes sindicais para que possam atuar
com mais valentia e segurança nas bases, que produza análises de conjuntura,
que interfira na vida real dos trabalhadores oferecendo conhecimento,
informação, formação, que debata os grandes temas nacionais, as matrizes do
pensamento, os desafios do milênio. Uma federação que tenha uma política de
enfrentamento com as empresas exploradoras dos trabalhadores e das gentes, já
que as mesmas são verdadeiras usinas, produtoras de mais-valia ideológica,
alienando quem as consome e consumindo quem as produz. Jornalistas há que
acreditam que já basta de reuniões de gabinete que levam a lugar nenhum. Que é
chegada a hora de essa federação assumir uma cara sindical, de combate real.
Para quem está na
redação, nas assessorias, ou mesmo em casa esse debate e essa eleição podem
parecer coisas que não tem nada a ver com sua vida, com o pão na mesa que
precisa garantir Mas, desgraçadamente, tem. É a federação que, em última
instância, dá a direção sobre como atuar com os patrões, sobre o país que
queremos, sobre as possibilidades de emancipação ou não. E isso interfere
diretamente no cotidiano de quem vive de fazer jornalismo.
Então, pense nisso. No
dia da eleição, escolha a proposta da mudança. A Fenaj sindical, de luta. Não
hesite. Dê o seu voto ao Luta, Fenaj - Chapa 2.
Mais informação sobre
as propostas no sítio da Chapa: http://www.lutafenaj.com.br/
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