Quando chega maio, o Campeche se prepara. Friozinho, vento suli, é chegada a hora da tainha. Nessa comunidade do sul do Miembipe, o peixe é, mais do que alimento, cultura. Por ali assomam as canoas que saem para o mar em busca do sustento e o tempo da tainha vira tempo de festa. Os peixes chegam aos milhares, e a praia se enche de gente e bicho numa alegre algaravia.
Assim, como também é uma comunidade de fé, o Campeche instituiu, bem no dia do trabalhador, primeiro de maio, o dia de rezar pela boa pesca. Então, no feriado, cedinho, as gentes se reúnem na praia para pedir proteção e peixe aos montões. Todo ano é assim. Um altar é montado na praia, onde acontece a missa.
Nessa hora a comunidade consegue, de alguma forma, juntar todas as forças, ainda que antagônicas, numa mesma vibração. Ali estão os lutadores sociais, os indiferentes, os bajuladores e os crentes. Não é hora de divergir, mas de vibrar numa única onda para que venha o peixe e a praia se encha de vida.
Ainda assim, durante a missa, não faltam os desconfortos. No mesmo espaço está o prefeito Dário, que tem ajudado a destruir a comunidade, com as vistas grossas aos empreendimentos ilegais e imorais, e com suas propostas de emissário na praia. Ou ainda a insólita oferenda de um oficial da polícia militar, que colocou diante do altar o cassetete, o mesmo que nos dias de luta cai sobre a cabeça do trabalhador. Mas, apesar dos olhares indignados, ninguém se manifestou. Aquele era um momento de união, coisa rara nas comunidades. “Talvez ele esteja querendo entregar a arma, pedindo que ela não seja usada”, dizia a turma do deixa-disso.
Depois, os pescadores inauguraram, dentro do rancho da canoa, um pequeno altar, onde colocaram, no centro, a figura de São Sebastião, o padroeiro do bairro. E, junto a ele, outros santos de devoção do povo. Afinal, reza e caldo de calinha não faz mal para ninguém.
Depois das bênçãos e desejos de boa pesca foi a vez da banda e Amor à Arte tocar e animar a galera. Música, bolo de fubá, café forte, alegria, pé na areia, cheiro de mar. O primeiro de maio no Campeche, apesar de alguns pesares, é só prazer...
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