quarta-feira, 5 de outubro de 2011

No centro da velha Desterro


A vida para mim é coisa sagrada. Andar por aí, respirar, ver o por do sol, ouvir os passarinhos, observar uma árvore florida, comer um bom macarrão. Ah... fruição desse mágico jardim! Nem a guerra, a fome, o ódio, a opressão, o desespero, nada tira de mim essa gana de viver e dançar a dança louca da criação. Pelo contrário, essas coisas me movem, me fazem ir à luta. Porque quero, como os indígenas de Abya Yala, o sumak causai, o bem-viver, para mim e para tudo o que vive.

Nessa cidade perdida no mar há coisas demais que nos enlouquecem. O trânsito, os governantes, a apatia, a destruição ambiental, enfim, a lista é longa. Mas, ao mesmo tempo há o centro. Poucas coisas podem ser mais prazerosas que andar pelo centro da cidade, a velha Desterro. Ali, a vida brota na sua mais esplendorosa alegria/dor/turbulência/ternura.

Todos os dias, antes de ir para casa, eu desço no terminal central e faço uma incursão pelas ruas centrais. Na Conselheiro Mafra, olhando as roupas penduradas nas portas do mercado, vendo nas novidades nas lojas de mil e uma coisas, observando os vendedores de bugigangas. Depois, pela Felipe Schmidt, olhando as vitrines, admirando as pessoas que esperam nas longas filas das lotéricas, sonhando com a riqueza fácil. Olho as revistas nas bancas, compro água de coco, vejo os livros na livraria, circulo pelas galerias. Todo dia é uma aventura nova.

O centro tem um cheiro, um sabor, uma vida vibrante. Tem música, tem pintura, tem os velhos, caminhando, tem a figueira, imensa, acolhendo os viandantes. Tem a Margarida em frente à igreja São Francisco, tem o homem do megafone, tem os entrega-papéis de todo tipo, tem o Luciano vendendo seu Tra-lá-lá, os pipoqueiros, os equatorianos que vendem lenços, as mulheres das meias, os peruanos que vendem Cds, os guris do DVD, as mulheres que vendem sexo, tem o café com a boa amiga Jussara. O centro é um coração pulsando. É espaço de encontro, de riso, de luta. Meu coração canta quando por ali circulo. É o que carrega minhas baterias.

Ontem levei um amigo mexicano para ver o que de mais precioso eu penso que temos nessa cidade: a vida em movimento no centro da cidade. Ele, então, encantado com meu amor por esse espaço de prazer, me presenteou com essa linda canção de Petula Clark. Compartilho a canção e o meu amor. Florianópolis não é a ilha da magia que tanto se fala nas propagandas, mas tem um povo lutador que torna esse lugar especial. Florianópolis é onde eu moro, meu lugar, onde divido a vida com seres de primeira qualidade. A despeito dos calhordas destruidores, ainda vale a pena viver aqui...



Um comentário:

Osni Dias disse...

Nossa, que depoimento apaixonante. Mostra o quanto pertencer a este lugar te encanta e emociona. Adorei. Bjs