É muito comum as pessoas acreditarem que por investirem
muito na construção de seus negócios, os empresários tenham mesmo o direito de
lucrarem e ficarem muito ricos. No geral acredita-se que essa riqueza vem pelo
mérito do patrão, que trabalha e investe bastante para ter sucesso no negócio.
Mas, a realidade é bem outra. A riqueza do patrão não tem nada a ver com sua
habilidade ou sorte. Ela só existe porque o patrão rouba do trabalhador. Essa é
natureza do capitalismo: roubar o trabalho alheio.
Explicando: um empresário resolve montar uma empresa. Ele
compra as máquinas, monta a estrutura, a matéria prima para produzir seu
produto. Então vai buscar a mercadoria que definitivamente vai trazer o lucro:
o trabalhador. Esse trabalhador não tem nada de seu. Nem máquina, nem
estrutura, nem matéria prima. A única coisa que pode vender é sua força de
trabalho. E é essa força que o empresário compra.
Bom, como o provável patrão calcula o preço a pagar pela
mercadoria (força de trabalho do trabalhador) adquirida? Ele precisa calcular o
preço dos alimentos que manterão o trabalhador vivo, o preço das roupas que o
vestirão, do aluguel, dos gastos com saúde, educação, enfim, tudo aquilo que é
necessário para que a pessoa possa se manter, a ela e sua família, e ter
condições de trabalhar. Somados esses valores, o total é dividido pelos 365
dias do ano. Assim, o empresário saberá qual é o preço diário do trabalho do
trabalhador. Então, se para se manter vivo o trabalhador precisar de 100 reais
por dia, o patrão entenderá que o preço justo a pagar pela força de trabalho
dele será 100 reais.
Pois bem, depois de comprar tudo que necessita para iniciar
a empresa e contratar os empregados pagando o valor que considera justo, no
caso os 100 reais por dia, o empresário está pronto para iniciar seu negócio. E
quando chegar o fim do mês, o patrão terá de fazer novas contas. Observem que o
empresário tem despesas grandes. Os meios de trabalho (máquinas, o prédio, as
ferramentas) se gastam, há que comprar os insumos e ainda pagar o salário dos
trabalhadores. Logo, é justo que ele tenha seu lucro. Afinal, no capitalismo, o
lucro, o excedente, é só o que importa. Até aí vamos bem.
Mas, o lucro do patrão não tem nada a ver com o preço que
ele cobra pelas mercadorias que produz, porque ao somar tudo que envolve a
produção, vamos ver que o preço da mercadoria não pode ser tão maior do que o
custo da produção. Onde o patrão lucra então? No roubo do trabalho do
empregado. Como assim?
Ora, o trabalhador é contratado por oito horas e recebe 100
reais por dia (preço que foi calculado com base no que é necessário para a pessoa
se manter viva). Bem, nessas oito horas o trabalhador, por exemplo, de uma
fábrica de roupas, produz 50 peças. Bem, os 100 reais que é pago ao trabalhador
representa a manutenção dele por 24 horas e não o que ele produziu nas oito
horas de trabalho. É como o agricultor com seus animais. Ele sabe que uma vaca
vai produzir muito mais leite do que o custo que ele tem para mantê-la.
Veja que o trabalhador vai para casa considerando que está
bem, o salário é muito justo. Mas, na verdade, não é. Porque ele não recebe
sobre o que produz. No caso do trabalhador da fábrica de roupas, ele consegue
fazer, em oito horas, 50 peças. Cada peça será vendida por 50 reais. Sua
produção foi equivalente, então, a 2.500 reais num dia apenas. E por esse dia
ele receberá 100 reais. Ou seja, 2.400
reais vão para o bolso do patrão, limpinho.
Outra coisa importante para se levar em conta é que na soma
das necessidades do trabalhador, o patrão geralmente só leva em conta a
sobrevivência mínima do empregado. É por isso que existe um “salário mínimo”.
Isso significa que esse valor é menor valor possível que se pode pagar para que
alguém consiga sobreviver, comendo, vestindo e morando.
Muitos já devem ter ouvido falar no salário mínimo do
DIEESE. O DIEESE é uma entidade dos trabalhadores que atua justamente com
pesquisa sobre temas referentes aos trabalhadores. O cálculo que o DIEESE faz
para determinar um salário “mínimo” é bem diferente do cálculo feito pelo governo
ou pelos empresários. Porque como é uma entidade dos trabalhadores, leva em
consideração outras variáveis. E considera que os trabalhadores não apenas
devam sobreviver (manter-se vivos com o mínimo), mas fundamentalmente, viver.
Ou seja, o trabalhador tem direito a uma moradia digna, comida de qualidade,
educação, saúde, diversão, lazer e tudo isso entra na conta. Por isso os
valores são bem diferentes.
Por exemplo, nesse primeiro de janeiro de 2019, o governo
brasileiro definiu o valor do salário mínimo em 998 reais, frustrando a
expectativa de que ele passasse dos mil reais (1.006) conforme já tinha sido
definido no orçamento para esse ano, o que ainda seria ruim. O governo entendeu
que esses 998 reais devem ser suficientes para que o trabalhador não morra.
Pode ser, mas, não é suficiente para que viva.
Para ter uma vida plena e segura, o salário mínimo do
trabalhador deveria ser de 3.960 reais, segundo os cálculos do DIEESE. No cálculo,
essa cifra é que conseguiria garantir os direitos básicos de uma pessoa: moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
Previdência Social. Alguns poderiam dizer: “ah, mas aí não há quem aguente
pagar”. Bom, os grandes empresários aguentam sim (eles lucram muito), e aquela
família que tem empregada e não quer pagar muito por ela teria que repensar se
precisa de alguém para chamar de “sua”.
Outros poderiam pensar: bem, mas é justo que o patrão ganhe
com o meu trabalho, afinal ele investiu tanto. Não, não é. Porque quando o
patrão faz as contas dele ele sempre leva em consideração o desgaste das
máquinas, dos prédios e dos equipamentos. Está tudo contabilizado e é tirado justamente
do lucro que obtém com o roubo do trabalho do trabalhador. Ele nunca perde. Mas,
e o desgaste do trabalhador, quem paga? Pois o próprio trabalhador. Onde está a
justiça disso? Quando o trabalhador fica doente, ele tem de bancar seu
tratamento. Quando ele envelhece, ele que tem de aguentar as consequências de
não poder mais trabalhar já que a previdência não lhe garante quase nada.
Para o patrão, o desgaste do trabalhador não interessa.
Quando um fica velho, ele demite e contrata braços mais vigorosos. O que ficou
pelo caminho que se dane. Essa é a lógica do capitalismo. Sugar o máximo do
trabalhador, e deixa-lo a própria sorte quando não puder mais produzir.
Mas, poderia ser diferente? Sim, poderia. Numa sociedade
onde o trabalho fosse parte da vida coletiva (e não objeto de lucro para
alguns) e o trabalhador, por qualquer tipo de produção, recebesse conforme suas
reais necessidades. A isso se chama socialismo. E é isso que os empresários
procurar demonizar para que os trabalhadores não se deem conta do quanto
poderia ser bom. “Ah, mas o socialismo deu errado em toda parte”, argumentam alguns.
Essa é uma meia verdade já que algumas experiências chamadas de socialistas não
foram muito bem sucedidas. Mas, outras tentativas, como a de Cuba, apresentam
vitórias importantes para a população, como saúde gratuita e de qualidade,
educação gratuita e de qualidade, segurança, moradia. Não é o mundo perfeito,
claro, até porque a pequena ilha vive sob o ataque econômico dos Estados Unidos.
Só que ainda assim conseguiu garantir avanços incríveis. Imaginem se fosse
livre para negociar.
O socialismo não é uma forma de bolo na qual colocamos a
massa e esperamos crescer. Não se faz por decreto ou por qualquer forma de lei.
O socialismo é um processo que precisamos construir, coletivamente, em comunhão.
Que nos custará muito, mas nos trará também grandes benefícios. Claro que nem
todo mundo consegue acreditar que é possível viver num estado de Justiça, onde
cada qual viva conforme precise, e ninguém tenha mais que ninguém. Onde o
trabalho seja sinônimo de vida, de criação, e não de morte. Mas, pessoas há que
querem viver assim e não deveriam ser condenadas por isso.
Então, quando ouvirem os empresários ou gente do governo
dizer que o socialismo é o demônio, tenham bem claro: é mesmo. Mas, é o demônio
para os empresários que enriquecem a custa de todos nós, os trabalhadores. No
socialismo eles não seriam os patrões, nem seriam os ricos, porque uma fábrica
de roupas, por exemplo, seria gerida por todos os seus trabalhadores. Assim, o
que é ruim para eles é bom para a maioria dos trabalhadores. Não é
interessante?
Então, não compre o discurso assim, tão rápido. Pense.
Um comentário:
Muito bom, simples, reto e direto, Elaine! Parabéns!!!
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