domingo, 21 de julho de 2013

Os ônibus lotados

Esse desabafo nos chegou por email no correio da Rádio Campeche. Reproduzo aqui porque é bem isso que acontece com a gente que usa o transporte coletivo em Florianópolis.



Por Catarina

O que está por trás de ônibus lotados? São dezenas e dezenas de minutos de espera todos os dias nos terminais e nos pontos (a maioria deles nem sequer são cobertos), falta de informação nos pontos sobre os horários e itinerários, sem contar que os belos telões animados dos terminais servem principalmente como vitrine para propagandas, igualzinhas àquelas da televisão. Esse descaso para com quem necessita do transporte público não acaba contribuindo para que aqueles que podem abrir mão dele, passem a usar diariamente seus carros particulares e a engrossem as longas filas de engarrafamentos? E não são os usuários dos ônibus, apesar de não estarem contribuindo com tais engarrafamentos, que acabam enfrentando da pior maneira esse ônus do transporte? Todos pagam o pato, alguém poderia dizer. Mas com a pequena diferença de que os do busão vão, em sua maioria, em pé, segurando peso, dividindo um espaço tão apertado que às vezes é desconcertante. 

Além disso, passado o ponto crítico do engarrafamento, o motorista com seu carro vai tranquilamente passar na padaria ou na farmácia, fazer uma visita a alguém e voltar para casa rapidinho. Quantos terminais o usuário do ônibus ainda vai enfrentar? Quantas filas? Será mesmo que cada um dos milhares de usuários pagando quase 3 reais para cada viagem (quantas viagens fazemos por dia?) não paga um transporte que deveria ser MUITO MELHOR do que esse que está aí? Será que é demais sonhar com uma cidade em que eu possa ir de ônibus à farmácia, à padaria, ao cinema, à praia e onde eu quiser sem gastar de 3 a 4 horas do dia me locomovendo? É demais sim, pois essas empresas só existem para terem altíssimos lucros. A elas não importa se um pai de família que ganha em torno de um salário mínimo não possa levar seus filhos para passear nos fins de semana porque, somando tudo, fica muito caro. Tampouco se importa se eu vou levar 2 horas e meia para chegar à praia numa bela manhã de sábado. Por que, então, elas tem tanto poder em decidir como será este transporte? Por que o poder público não está à frente disso, já que esse é um serviço essencial para a cidade? Quem está ganhando nisso tudo?

 As cidades foram uma grande invenção, alguém escreveu. Nelas as coisas aconteciam, as pessoas estavam em constante contato, tudo convergia. Por que as grandes e médias cidades brasileiras se tornaram uma aberração? As pessoas vão dizer... é muita gente... Outras vão dizer, é muita favela... Por que o brasileiro não se pergunta então: por que tanta gente nas mesmas cidades? Por que tantos pobres neste país? Alguma coisa está errada conosco e o primeiro passo é compreender as ligações entre as coisas, conhecer um pouco da nossa história, que não passa na novela, pode crer. Você acha mesmo que é normal haver tanta pobreza ou que se trata de mera culpa das pessoas que estão nestas condições? Então será que temos, como nação, algum problema genético que faz as pessoas nascerem incompetentes e preguiçosas? 

Mas pense bem, na ocasião da inauguração do sistema de transportes em Florianópolis há uns bons anos atrás, a Dona Ângela disse que o trabalhador de Florianópolis ia ter que se acostumar a acordar mais cedo... E ele teve que se acostumar né? Vê-se que o cidadão de Floripa nem é tão preguiçoso assim... Por isso, é possível que agora peçam para o trabalhador dormir um pouquinho mais tarde... Será que a Dona Ângela ou os atuais gestores dessa cidade já andaram de ônibus alguma vez em suas vidas? No Brasil, essa pergunta pode parecer esquisita, porque transporte público parece ser sinônimo de transporte de pobre. Em alguns outros países, prefeitos, empresários, médicos, professores e qualquer pessoa compartilham o transporte coletivo diariamente, inclusive é comum ver todo tipo de gente usando também a bicicleta. Existem lugares onde a tarifa de ônibus é baixíssima (centavos) e até cidades onde não se paga! Será que os gestores de Florianópolis convivem com alguém que usa ônibus diariamente? Às vezes, essa estranha pergunta surge na minha mente... Costuma ser dentro de um ônibus, atravessando a cidade que essas ideias me aparecem... Andar de transporte coletivo em Floripa é um incentivo a filosofar sobre certas coisas. Especialmente quando presencio as pessoas se digladiando para subir no ônibus ou porque alguém está atrapalhando a movimentação dentro da lata de sardinha com sua mochila nas costas. 

Inclusive, pregaram um aviso muito gentil nas janelas, pedindo que aqueles que usam mochila, tirem-na das costas ao andar de ônibus, para não atrapalhar os demais. Muito civil este lembrete, só faltou escrever: ...devido ao fato de que os ônibus estão sempre entupidos. Onde colocar a mochila? Será que a gente também pode colocar um bilhetinho nas janelas pedindo gentilmente para BAIXAREM AS TARIFAS, QUINTUPLICAREM OS HORÁRIOS DOS ÔNIBUS (acho que a frota não precisa, porque geralmente ficam estacionados dentro dos terminais), DISPONIBILIZAREM HORÁRIOS E ITINERÁRIOS EM CADA PONTO e, quem sabe, fazerem um compartimento para mochilas e bicicletas nos ônibus? Apesar de tudo isso, é no busão e nos terminais que a gente vê também a solidariedade e a civilidade dessa gente que deveria educar suas elites políticas. Isso aconteceria, certamente, se essa elite passasse a usar o transporte coletivo. Prefiro acreditar que o povo brasileiro é muito é guerreiro e não o culpado pelas mazelas sociais. É guerreiro, mas não é tolo.

Um comentário:

Sandra disse...

Parabéns, Catarina!
Suas reclamações são lúcidas e procedentes.
Outra frase vinda dos cobradores, que irrita muito: -"Mais um passinho atrás, FASFAFOR"!
A lógica é caber mais "sardinhas no latão".
E assim o povo que se lixe, porque "eles", os mentores desta porcaria, não andam de ônibus.