segunda-feira, 30 de março de 2009

A cidade invisível


Enquanto milhares de pessoas se esbarram no terminal urbano e empilham-se nos coletivos urbanos, no ritmo louco entre a casa e o trabalho, sem tempo para pensar sobre os motivos de terem de viver assim, os governantes seguem decidindo coisas que tem ligação direta com a vida das gentes. E aí está o paradoxo. Eles decidem pelas gentes, e as gentes sequer sabem o que acontece. O que lhes cabe é sofrer as políticas, e assim mesmo, sem tempo para que possam pensar.
É o que acontece com o plano diretor. E o que é isso? É a lei que define como vai se organizar a cidade, nosso espaço de viver. O prefeito Dário Berger no seu primeiro mandato propôs o plano diretor participativo levando a discussão para os bairros e proporcionando que as pessoas pudessem opinar e decidir. E assim foi. Por meses as comunidades se reuniram, debateram, planejaram, decidiram, fizeram oficinas, informaram. Uma coisa linda de ver. Pois agora, depois de três anos de trabalho a prefeitura manda uma carta para os representantes das comunidades no Núcleo Distrital agradecendo o apoio e pedindo toda a estrutura de volta. Ou seja. A participação acabou. Segundo a prefeitura, agora serão os técnicos os que vão finalizar o processo e, com isso, ninguém sabe se o que foi exaustivamente discutido nas comunidades será levado em conta.
Coisa típica isso. Usa-se a comunidade, faz-se a propaganda da “participação”, mas a decisão mesmo será dos tecnocratas. Não é nem dos técnicos porque como a gente sabe, a decisão é política. O plano diretor atenderá os interesses dos grandes e poderosos. Grandes prédios, empreendimento gigantescos, tudo para dar mais beleza e conforto aos graúdos. Que importa se não há planejamento viário, que importa se não há água suficiente. Toca a encher de gente os bairros, verticalizar, asfaltar.
Bom, lá no Campeche a comunidade disse não. Primeiro diz que não vai entregar a sala onde estava instalada a representação distrital. Segundo, vai continuar acompanhando bem de perto os trabalhos. Terceiro, vai fazer valer aquilo que, de forma democrática e participativa, a comunidade decidiu. Daí que é muito importante as demais comunidades fazerem o mesmo porque plano diretor é coisa séria. Ele diz respeito a nossa vida mais cotidiana. Ele pode dar respostas para as filas no trânsito, para a falta de praças, para a melhoria da qualidade de vida de todos. Eu disse de todos e não só dos ricos. Plano diretor é coisa para ser acompanhada por todos nós.
A gente sabe que não é fácil viver nesta moenda do capital. Sempre cansado, trabalhando demais, e ainda ter de bancar as peleias com o poder público. Mas é necessário. Sem isso a cidade segue sendo espaço para poucos. São muitas as lutas para travar, eu sei. Mas, esta, é fundamental. Então, no seu bairro, procure a associação de moradores e diga que não aceita entregar a decisão do plano diretor para quem não vive os problemas reais da cidade. O prefeito Dário iniciou um processo participativo e não tem o direito de parar agora. A cidade também é nossa.

Um comentário:

Giorgia disse...

Olá, Elaine! Recebi por email o teu texto sobre o Código Florestal. Amei! Transcrevi no meu blog parte dele, citando a fonte, claro! Repassei para outros colegas (procuradores do IBAMA).

Um abraço,
Giorgia