terça-feira, 19 de março de 2024

A greve e o HU



A universidade tem sofrido muito ao longo dos anos com o descaso dos governos, um após o outro diminuindo orçamento, extinguindo cargos importantes, enxugando a máquina pública para dar espaço ao privado dentro das IFES. Quando vem a greve isso fica muito mais claro. Passando de setor em setor, conversando com os trabalhadores, o que se observa é a precarização sempre crescente nas condições de trabalho. Estrutura decadente, falta de pessoal, um drama cotidiano que, no mais das vezes, adoece o trabalhador. Dezenas estão solitários nos setores, fazendo o trabalho de duas ou três pessoas, ou cercados de bolsistas que, de maneira irregular, acabam fazendo serviço de técnico. Tudo isso impacta negativamente no processo de trabalho e no atendimento, mas na aparência, a universidade está de pé. 

Mas, se há algo que realmente impressiona é a situação do Hospital Universitário. Os relatos dos trabalhadores sobre a degradação dos serviços são assustadores. E, claro, tudo isso se aprofundou com a entrada da EBSERH, certamente a decisão mais perversa do governo do PT que cresceu no segundo mandato de Lula e foi efetivada no governo de Dilma Roussef em 2011. Uma fundação privada para administrar hospitais. Ora, o que quer uma fundação privada? Lucro! E como lucrar com a saúde? Essa pergunta nós, que fizemos a luta contra a Ebserh, respondemos muito claramente: serviços precários, foco na doença, salários baixos para os trabalhadores e muito, mas muito risco para os pacientes. 

Quem lutou contra a Ebserh sabe. A UFSC realizou um plebiscito e mais de 70% votaram contra a entrada da Fundação no HU. A comunidade sabia que seria o fim do serviço de excelência que sempre fora prestado pelo Hospital. Mas, na época, a reitora Roselane Neckel, decidiu ir contra a decisão da comunidade e chegou a levar a votação do Conselho Universitário para dentro da Polícia Militar. Foi um dia triste. Não tivemos acesso à votação e ficamos no portão da PM enquanto lá dentro os conselheiros que entraram decidiram por aderir à Ebserh. 

Hoje, ouvindo os relatos dos trabalhadores sobre a precariedade do trabalho o assombro vem, não por não saber, mas justamente porque sabíamos e não conseguimos vencer essa batalha. Setores sendo sustentados por uma única pessoa, que adoece e não consegue nem se tratar dentro do próprio hospital. Que precisa pagar para cuidar da saúde que foi destruída pelo excesso de trabalho. Espaços que deveriam ter enfermeiros funcionando só com técnicos de enfermagem, relatos desesperados de trabalhadores veteranos que assistem o hospital desmoronar, relatos emocionados de jovens trabalhadores que percebem os absurdos e não conseguem mudar. Um drama que ultrapassa o limite do absurdo.

E aí está a greve e muitos trabalhadores do HU querem parar. Porque precisam viver e porque querem que o HU volte a ser o que era: um hospital referência no atendimento. É uma batalha de vida ou morte, tanto dos trabalhadores quanto do povo da cidade que precisa de cuidados. O HU tal como está é uma sombra do que foi. A Ebserh propõe metas, busca lucro. Não é essa missão de um hospital vinculado a uma universidade pública. A greve da UFSC coloca à nu as chagas abertas do nosso hospital. É grave e à beira do terminal. Os gestores dizem: os trabalhadores não podem parar. 

E o que se pode dizer é: eles devem parar, em nome da vida.

Para além da mobilização que acontece hoje por conta do movimento, uma coisa fica absolutamente clara: é preciso reverter essa perversidade que se chama Ebserh. O HU precisa voltar a ser público. Uma batalha que não é a da greve, mas que deve ser a do resto de nossas vidas. Em nome das vidas de toda gente. 

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