O restaurante universitário da UFSC serve cerca de 10 mil refeições por dia. Sua capacidade foi planejada – em 2011 – para cinco mil, o que já complica. Além disso, a manutenção das instalações, que deveria ser frequente e sistemática, foi abandonada nos últimos anos em função da vertiginosa diminuição dos recursos do governo para as universidades. Tudo isso acaba desembocando em relações muito precárias de trabalho. Não é de hoje que os trabalhadores vêm reivindicando melhorias nas instalações, pois além de se preocuparam com suas próprias condições sabem que o usuário também acaba sofrendo. É fato que as coisas no serviço público são mais lentas. Tudo precisa ser licitado e há que ter recursos. Mas, se há planejamento, a coisa flui. Também é fato que a pandemia complicou demais as coisas e que a última gestão perdeu a mão. Só que agora é preciso dar respostas aos problemas ou então o RU vai fechar.
Nesta quinta-feira os trabalhadores em greve ocuparam o RU justamente para colocar às claras os dramas que se desenrolam para além da aparência. Enquanto as refeições seguem sendo servidas, lá dentro, os trabalhadores vivenciam situações limite, pois, como já foi dito a cozinha foi projetada para cinco mil refeições e prepara dez mil. Todos os dias são manejados e distribuídos mais de uma tonelada de carnes, 400kg de feijão, 500kg de arroz, além das outras preparações do cardápio. O que ninguém sabe é que para amaciar um bife há que ter equipamento em quantidade suficiente e operando bem, assim como a comida quente no balcão precisa de maquinário adequado.
Para que a comida esteja saudável as condições higiênico-sanitárias precisam estar em dia. Não estão. Há sobrecarga das instalações causando frequentes entupimento das tubulações. Isso gera sujeira no chão e faz com que o esgoto brote, atingindo as áreas de manipulação de alimentos. Vem o mau cheiro e o risco para a saúde dos trabalhadores. Como trabalhar assim?
Uma boa olhada na cozinha e já se vê que o piso está se desfazendo, porque a manutenção não acontece. A área de carga e descarga amiúde está invadida pelo esgoto porque as tubulações estão entupidas, o que ajuda na proliferação de insetos e roedores. Risco para os trabalhadores e para os usuários.
Atualmente o RU tem um número bastante grande de trabalhadores terceirizados (mais de 100), visto que alguns cargos importantes para a manutenção da cozinha foram extintos. Ainda assim, restam cargos que são chaves na cadeia de produção do alimento, como é o caso das nutricionistas, só para dar um exemplo. Isso significa que só com terceirizados o RU não pode funcionar. Daí a importância de se pensar o RU como um todo, focando sempre na qualidade do ambiente onde todos esses trabalhadores atuam.
Agora, aproveitando a greve, os trabalhadores do RU paralisaram por um dia para tornar visíveis suas reivindicações, tais como o redimensionamento das redes de esgoto e elétrica, reparos no telhado da área de produção, almoxarifado e vestiários dos funcionários. Reparos para resolver goteiras e infiltrações nos banheiros, vestiários e na área de produção e estoque de alimentos. Manutenção do ar condicionado do refeitório que não tem dado conta nesses dias de intenso calor. Climatização da cozinha, que é extremamente quente por conta dos equipamentos de cocção, e que torna exaustivo ao extremo o trabalho. Climatização do almoxarifado para evitar proliferação de insetos. Manutenção preventiva dos equipamentos. Criação de novos espaços para o preparo e distribuição de alimentos no campus, visando diminuir as imensas filas. Contratação de mais trabalhadores, pois se aumenta o número de refeições o quadro não acompanha gerando sobrecarga.
Estas são algumas questões que estão na pauta. A principal delas é a garantia de um alimento saudável e de qualidade que está em risco nas atuais condições. Os trabalhadores sabem que o governo federal diminuiu ainda mais os recursos para as universidades e por isso estão em luta. Querem recuperar os salários, melhorar o plano de cargos, mas fundamentalmente lutam pela valorização das universidades, abandonadas nos últimos governos e também no atual.
Sabem que é duro fechar as portas, mas também sabem que se não forem resolvidos esses problemas estruturais não demorará muito para que o RU seja obrigado a parar por absoluta falta de condições. Por isso apontam que toda a energia dispendida para “xingar” os trabalhadores seja voltada para o governo, exigindo uma proposta séria na mesa de negociação e mais recursos para as universidades.
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