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domingo, 16 de maio de 2021

Cheguei aos 60



 Normalmente não gosto de festa de aniversário. Acho meio tolo ficar celebrando nosso decrepitar. Mas, já tinha pensado em juntar meus poucos amigos quando fosse começar a 60º voltinha em torno do sol. Afinal, entrar nos 60 é algo. Desgraçadamente não vai dar. O novo giro começa essa madrugada, em meio a uma pandemia, num país que decidiu entregar seu povo à própria sorte. Nessa hora noa – de profunda angústia – parece uma afronta celebrar o fato de estar viva quando mais de 400 mil pessoas já morreram no carreirão da incompetência e da maldade. Não me compraz festejar em meio a tanta dor.

Eu nasci na madrugada do dia 14 de maio, no interior de Uruguaiana, no Toro Passo. Era uma noite de chuva, raios e relâmpagos. Iansã abençoava, por certo. Meu pai saiu pela noite atrás da parteira, a Dona Maria, que trazia ao mundo toda a gente por ali. Eram duas e meia da manhã quando ela chegou, encharcada, conduzindo sua carroça, e suas mãos abençoadas me receberam. Cheguei assim, nessa tormenta, bem no meio do nada, na campanha gaúcha. Talvez por isso as tempestades da vida não me amedrontem.

Sempre fui uma criança quietinha, de olhos graúdos e curiosos, disposta a sorver tudo que a vida pudesse oferecer. Apegada a bichos, seres extraterrestres e livros, perdida em meio a letras e histórias. Nunca fui birrenta, mas sempre tive opinião. Adolescente, preocupava mais com a humanidade do que comigo mesma. Tive um amor de colégio a quem amei e esperei até os 21 anos, quando então soube de seu casamento. Aí me soltei, disposta a viver todos os amores. Vivi mesmo, sem freio, até encontrar o homem que hoje me aninha e me faz feliz. 

Hoje, entrando nos 60, me assombro. Jamais pensei que pudesse chegar tão longe. Mas, ao mesmo tempo, parece que foi tão rápido, tão pouco. A primeira infância em Uruguaiana, depois em São Borja. A migração para Minas Gerais, Belo Horizonte, Pirapora, Arinos, João Pinheiro.  A passagem por São Paulo: Bauru, Marília. A volta para o Rio Grande: Caxias, Uruguaiana, Passo Fundo. A vinda para Florianópolis. Faço a lista dos amores, os perdidos, os achados. Os amigos, tantos... As aventuras dizíveis e indizíveis, os segredos escondidos, os sonhos realizados e os que ainda guardo nos planos escritos em papéis amarelados. As viagens pelo mundo, pela minha América Latina. Os lugares ainda não visitados, mas muito anhelados. Quanta vida... quanta beleza... quanta superação. Eu realmente vivi à larga. Agradeço aos deuses e deusas.

Gosto que meu nascimento tenha sido no outono, essa estação tão linda, quando tudo parece que fica mais claro. Na manhã de 14 de maio desse ainda aterrador 2021 despertarei – espero - no mais puro espanto. De saber que ainda ando sobre a terra, que vivo, respiro, amo, encontro pessoas, faço coisas boas. Olharei no espelho e verei uma mulher madura, ainda charmosa, carregada de bonitezas. 60 anos. Uma vida boa demais, carajo. Não haverá churrasco, nem tilintar de copos, só a vidinha ordinária com o pai, os cachorros, os gatos, o Renato, o Pedro. Um almoço melhorado, talvez, uma cervejinha e, à noite, uma pizza, porque afinal sou filha de deus.  

A festa fica para quando der, quando não houver mais pandemia, quando não houver mais esse cavaleiro do inferno a conduzir o país... A festa virá, ah... virá, porque é merecida... 



sexta-feira, 11 de maio de 2012

Com amigos, caminhando...




Eis que faço aniversário nesse dia 14 de maio. Surpreendentemente, essa frágil vida humana com a qual me presentearam Nelson e Helena, percorreu cinquenta e uma voltas de órbita solar. Ultrapassei mais um limiar. Sinto-me pronta para coisas que ainda não sei. Agora, no silêncio da casa quentinha, com os gatos a ronronar em língua felina, me chamou uma passagem do grande livro cristão que conta sobre os 40 dias de Yeshua no deserto. Por infindáveis horas ali ele esteve enfrentando as tentações, preparando-se para o que estava para vir.

Nesses dias lindos de maio, arranchada no meu Campeche, eu me aproximo daquele homem. Parece-me que, como ele, andei por anos a fio vencendo tentações. Mas, agora, ultrapassando o portal dos cinquenta, conforta-me a ideia de que também tenho conseguido vencer os desertos que se apresentam a cada tanto na vida. Tal qual Yeshua, já tive diante de mim um “daemon” a sussurrar sibilinas ideias que me perturbaram a alma.

Conta São Mateus que ao final do recolhimento de Yeshua e do embate com a voz interior (demônio), vieram os anjos e compartilharam com ele a vitória. Assim me sinto. Também vencedora de demônios, e acompanhada. Da janela da sala vejo as corujas da rua iniciando seu voo, os passarinhos buscando um canto onde dormitar, os gatos miando a minha volta, meus homens na azáfama diária, minha hóspede de além-mar pitando um palheiro, o cachorro perseguindo borboletas. Tomando meu café com leite, percebendo essas cenas cotidianas, vejo-os como anjos, tocando-me com suas asas de beleza e esperança.

Não há desertos possíveis se temos amigos. E os meus estão por aí. São poucos, mas mantêm permanentemente suas asas abertas, redes seguras, espaços de aconchego e comunhão. Sei onde estão e sei que posso contar com eles (mesmo quando se zangam)...

Feliz aniversário pra mim, tão cheia de bênçãos...