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Foto: Guto Marchior
O figueirense é meu time do coração. Eu trabalhei lá como setorista, na editoria de esportes do jornal O Estado e foi amor a primeira vista. Era torcedora de estádio, todos os domingos, com camiseta, bandeira, almofada, toalha e tudo mais. Depois, com as vísceras do futebol catarinense abertas na minha frente fui perdendo o gosto pelo estádio. Era osso. Mas, o amor seguiu. Não tem explicação para isso. É coisa que bate e pronto.
Assim, mesmo conhecendo a merda toda dos bastidores, não consigo deixar de ouvir os jogos e ainda torcer. Na minha casa os símbolos vivem e a bandeira tremula. Quando em 2017 a diretoria resolveu vender o clube para uma empresa privada jurei não mais derramar uma lágrima pelo Figueira. Sabia que ia dar merda. Como misturar o capitalismo com a paixão? Mas, a promessa não se cumpriu. Meu coração é vagabundo. E eu amo aquela camisa alvinegra. Mesmo com o time entregue a mãos mercenárias, cada jogo ainda me agarra e eu sigo os campeonatos, ouvido colado no rádio.
E é justamente esse amor profundo que sinto pelo Figueira que fez com que meu coração se derretesse com a ação desesperada dos jogadores, que decidiram não entrar em campo se não recebessem seus salários. Sei bem o que é ficar sem salário, as contas acumulando e a gente sem saber o que fazer. Vejo as carinhas na televisão, constritas, assustadas, e torço para que essa ação tenha sido pedagógica. Para os jogadores, que são trabalhadores e como tal precisam assumir sua condição de classe explorada. Podem ganhar altos salários, mas são assalariados como todos nós. E para os patrões, que precisam entender que ninguém ali está jogando por amor. É trabalho. E trabalho exige pagamento. E pagamento de salário é sagrado.
Hoje li que os jogadores entrarão em campo amanhã, apesar de não terem recebido os salários ainda. Entrarão por respeito a nós, torcedores. E eu fico ainda mais enternecidas com esses garotos. Agradeço, mas ainda assim penso que a parada tinha de ser outra. Nós, os torcedores é que deveríamos respeitar esses caras. Porque eles dão o que tem de melhor, que é sua força de trabalho, sua garra, sua mais-valia. Nós é que deveríamos entrar em campo, defendendo esses guris com nossos corpos e nossos corações. Porque são eles os que nos dão alegria e não esses sanguessugas dirigentes. Infelizmente não o fizemos, E eles fazem isso por nós.
Na pessoa do José Antônio Pereira , o Zé Antônio, que assumiu a liderança desse pessoal, eu reverencio todo o grupo. Estou com vocês.
Não surpreendeu de maneira alguma a reunião dos empresários da comunicação catarinense – e alguns de seus jornalistas do tipo boca-alugada – com o presidente do Brasil. É natural que diante da metralhadora governamental contra os meios de comunicação, o empresariado se organize e busque dialogar. Também não surpreendeu a postura dos mesmos na reunião: a de obsequiosos apoiadores. As imagens mostram a franca desenvoltura de todos apreciando o repasto e babando ovo. É claro que não se esperaria um confronto, mas o correto seria uma reunião formal, de discussão e de argumentação. Mas, não. O que se viu foi um alegre banquete no qual o chefe da nação se cercou da ratatuia servil.
A maioria das empresas de comunicação faz hoje o que fizeram também durante a ditadura militar. Não bastava resistir no silêncio à censura e à violência. Eram simplesmente coniventes com todos os horrores dos porões, onde se torturavam homens, mulheres, crianças e velhos. Fechavam os olhos às mortes, aos assassinatos e aos desaparecimentos não porque quisessem se resguardar de suas próprias mortes, mas porque, de fato, apoiavam tudo aquilo. Basta lembrar que a Rede Globo, maior conglomerado comunicacional do país, se fortaleceu nessa época, aceitando a missão de ser a ponta de lança comunicacional do regime.
Essa mesma imprensa que acorreu alegre e sorridente à mesa do presidente é a que fortalece diuturnamente o ódio aos pretos, aos pobres, aos sem casa, aos sem terra, aos trabalhadores. É a que manipula as informações, que esconde outras tantas, que mente, que aliena. Portanto, nada de novo sob o sol.
Mas, ainda que não nos surpreenda, é preciso dizer o que são e o que defendem. E ainda que seja repetir o mesmo, repetir o óbvio, há que dizê-lo para que as gentes não digam que não sabiam. A mídia comercial é porta-voz do poder, seja ele qual for. Já foram vilmente servis mesmo durante o governo petista, o qual hoje juram odiar. Já babaram ovo do Lula e da Dilma, ainda que nas internas tramassem contra eles por não reconhecê-los como seus iguais. Aqueles homens e mulheres que se refestelaram na mesa presidencial servem aos seus interesses, estão de olho nos seus lucros, mesmo que isso signifique apoiar as maiores aberrações.
A mídia comercial é o braço armado do poder instituído. É a cornucópia da classe dominante. E ainda que lá dentro resistam alguns valentes profissionais tentando manter a cabeça fora da merda, é fato que os hábitos alimentares de suas direções se mantém os mesmos. Assim, ainda que o que manda seja o gerador do caos e do sofrimento, o empresariado midiático estará do seu lado, amealhando lucros, ganhando com a dor alheia. Não há compromisso com a informação, com o público, com a sociedade. É apenas um bando de gananciosos, digno do mais profundo nojo.
Se tem uma coisa que herdei da minha mãe foi o gosto pelas coisas rootzeiras, raizais. Ela era assim, mesmo nas épocas das vacas gordas tinha aquele espírito de pessoa simples, e gostos bem esquisitos para roupas. Não lhe agradava comprar na Casa Nemetz, uma loja chique onde o pai tinha conta lá em São Borja, aonde vivíamos. Quando íamos para as compras, minha irmã se lambuzava comprando roupas bonitas e modernas. Já a mãe e eu nos entreolhávamos, estranhadas, sem conseguir gostar de nada. Penso que foi isso que a levou para a costura.
Ela tinha uma máquina Singer que a acompanhou quando tivemos de migrar para Minas Gerais. Foi a única coisa que não vendemos e a única coisa que carregamos pela estrada afora até Pirapora, onde fomos viver. Na verdade ela não gostava muito de costurar, mas costurava bem. Fazia as próprias roupas. Suas preferidas eram as calças largas e confortáveis, as quais não encontrava nas lojas. Tinha muitas, pois as fazia em tempo recorde.
Minha irmã se beneficiava também, pois quando queria uma roupa nova para um baile ou uma festa, a mãe conseguia garantir numa única tarde. Seu palácio de compras não era a Nemetz, nem a loja Amilíbia, também chique. Não. Eram as Pernambucanas, onde se deliciava com as mais variadas texturas das quais fazia brotar seu modelitos estranhos.
Eu tinha minha moda preferida que era um tipo de vestido retinho, de alças. Possuía os mais variados, de diversas estampas, mas sempre o mesmo modelo. Era tão necessário que eu mesma aprendi a fazer. Quando saí de casa levei o molde e estava sempre reproduzindo. Quando ia pra casa nas férias aprendia amiúde uma coisa nova. Costurar com a mãe era parte de um ritual. Nossa cumplicidade na estranheza. Os vestidos de saco de farinha tingidos e as calças largas eram de lei.
A vida e o trabalho me desviaram da costura. E, mesmo quando a mãe encantou e eu herdei sua máquina de costura, era difícil para eu arriscar os modelitos. Vida corrida. E costurar é coisa que exige paciência, atenção, tempo. A máquina foi doada a quem lhe deu uso e eu segui sem os meus vestidinhos.
De qualquer forma meus gostos esquisitos para roupa seguiram e sempre é um problemão comprá-las, pois não há coisas de que eu goste nas lojas. Cada vez que entro numa sinto minha mãe do meu lado e nos entreolhamos, estranhadas. As modas impõem um tipo de calça, um tipo de vestido, um tipo de modelo. E eu continuo gostando de usar os vestidos de saco e as calças largas.
Então, dia desses, enquanto conversava com o pai nas tarde de inverno travestido de verão tomei a decisão de voltar à costura. Fui buscar as velhas revistas da mãe que guardo como um tesouro e achei os moldes dos meus vestidos e das calças. Estavam ali, ainda com a letrinha dela. Fui direto para a Casa do Povo e me senti como naqueles dias dos anos 1960,70 nas Pernambucanas, entre os tecidos e texturas. Comprei alguns panos e me pus a costurar. De imediato consegui dar vida as calças largas e confortáveis que tanto gostamos, a mãe e eu, e já as tenho, completamente livre da moda do momento. Para o verão virão os vestidinhos.
Assim, nas tardes com o pai, entre panos, chimarrão e os moldes de papel manteiga, vamos reconstituindo um passado, dialeticamente. E na cozinha, onde armo a parada, vejo a minha mãe sorvendo o mate, com sua perna cruzada, sorrindo. São momentos de pura beleza. E hoje estreei meu primeiro modelo em flanela. Tá meio torto, mas tudo bem. Que felicidade.
Na segunda-feira passada, dia 19, o Afeganistão celebrava o centenário de sua independência da Grã-Bretanha, mas ainda mergulhado na tragédia que tem sido a vida da população depois da invasão estadunidense em 2001. O país foi invadido depois do ataque de 11 de setembro, quando a culpa recaiu sobre o grupo Al Qaeda que, conforme os Estados Unidos, tinha uma base naquele país.
Pois, em vez de festa nesse centenário os afegãos tiveram de viver uma série de atentados com bombas explodidas em restaurantes e outros espaços públicos na cidade de Jalalabad, deixando mais de 60 feridos. No sábado anterior, outro atentado, reivindicado pelo Estado Islâmico, foi registrado em Kabul durante um casamento, no qual morreram 63 pessoas e 200 ficaram feridas. Uma rotina macabra que assola a vida dos civis.
A invasão do Afeganistão pelos EUA, baseada em mentiras, tinha como proposta levar a “liberdade e a democracia” ao país, derrubando o governo dominado pelo Talibã. Nada disso aconteceu. O que se deu foi o aprofundamento de uma luta fratricida sem fim, com o fortalecimento do Talibã, que tem resistido numa guerra de guerrilha, e ainda com a criação do Estado Islâmico, outro grupo fundamentalista. Atualmente os Estados Unidos está sendo obrigado a negociar com o Talibã um acordo de paz que inclui a retirada das tropas estadunidenses do país depois de 18 anos fomentando o caos. O governo legalmente constituído, e apoiado pelos Estados Unidos, não participa das negociações.
Ou seja, o Afeganistão se configura mais uma derrota gigantesca para os Estados Unidos, visto que em 18 anos de invasão os soldados estadunidenses não conseguiram derrotar os talibãs. Hoje, os Estados Unidos têm cerca de 14 mil soldados no país e nesses quase vinte anos consumiu quase dois trilhões de dólares para manter a guerra. O departamento de Defesa dos Estados Unidos divulga que mais de dois mil soldados estadunidenses morreram no Afeganistão, enquanto que os mortos da força afegã aliada somam 45 mil. A ONU aponta perto de 200 mil mortos desde o início da invasão.
Os EUA levaram o terror para um povo sem qualquer outro motivo senão o de garantir poder geopolítico e roubar as riquezas. E, agora, 18 anos depois, pretendem sair do país, deixando uma nação destruída e, de novo, na mão do Talibã. Não responderão por isso em nenhum tribunal, ainda que sejam criminosos.