quinta-feira, 19 de outubro de 2023

A dependência no futebol


No campo da política já é bastante comum fazer a discussão sobre os dramas de ser um país dependente e subdesenvolvido, situação reservada obviamente para a periferia do sistema capitalista. Os chamados países centrais são os que ditam normas, regras, modas, produzem ciência, conhecimento. Os da periferia consomem o que é produzido no centro, transformam-se em cópias mal feitas, mal arranjadas, mal definidas. É da natureza do capitalismo ser assim, desenvolve os ricos e subdesenvolve os que estão submetidos. Na periferia só se desenvolve o subdesenvolvimento. E nessa de apenas imitar o centro vamos perdendo nossa originalidade, que é a única coisa que poderia nos salvar.

Vejo isso no futebol. Tínhamos um futebol alegre, ofensivo, brincador, cheio de ginga, pura arte, de brilhantes toques de bola, capaz de desulear o adversário. Ficamos famosos com isso, chegamos a ser os melhores do mundo. Porque éramos originais. Depois, com a mercadologização exacerbada do futebol, começamos a imitar as propostas europeias, máquinas de fazer dinheiro. O futebol técnica, baseado na performance corporal, na força, no cálculo. Pouco a pouco fomos perdendo nossos campinhos, os meninos passaram a frequentar mais a academia do que o gramado, fomos perdendo a alegria, a ginga, a malemolência, a arte, ficando cada dia mais parecidos com os europeus. 

Hoje, nossos craques que são convocados para a seleção são quase todos jogadores do futebol europeu, nada da nossa originalidade. Viramos um pastiche, uma cópia desarranjada, bruta, sem paixão. Foi-se a alma do futebol arte, porque, segundo dizem, é assim que tem de ser. Jogamos contra a Venezuela e empatamos, perdemos para o Uruguai e daqui a pouco pode até ser que nem cheguemos à Copa. O futebol mercadoria venceu. O futebol homogeneizado numa proposta alienígena venceu. A dependência nos afogou até no que tínhamos de mais genuíno, nosso toque de bola, nossa magia. Foi-se o tempo de Garrincha, Pelé, Eder, Marinho, Nelinho, Reinaldo, Rivelino, Sócrates, Eder, Zico, Falcão e tantos outros do nosso panteão canarinho. 

O que nos resta é o nosso campo de botão, onde ainda podemos colocar nossa originalidade em ação, com os craques do verdadeiro futebol brasileiro. Adeus, futebol... Perdemos mais uma batalha para o capital.