Há dias nos quais o pai acorda muito agitado, nervoso mesmo. Não sei o que é, deve ser da doença. Hoje foi assim. Chegou na porta da cozinha com o rosto crispado, perguntando por que as coisas estavam como estavam. A pergunta não tinha resposta, mas eu vou dando as que posso. Ele pra lá e pra cá. E, a cada retorno, fazendo a mesma pergunta e eu dando novas respostas. Aquilo é turbilhão. Vai nos desconcertando. Mas, temos de manter a fleuma para não deixá-lo ainda mais nervoso. Fiz um mate e chamei ele para conversar. Veio resmungando, mas veio. - Cadê o povo? - Tá todo mundo trabalhando - Eu também tenho que ir. Aproveitei o gancho trabalho e comecei a ladainha de que ele já tinha trabalhado muito, agora estava aposentado e era hora de descansar. - Mas, eu trabalhei? Então comecei a desenrolar o novelo dos lugares onde ele tinha trabalhado na vida. Lembra quando tu foste soldado? E ele ia lembrando de Quaraí. Lembra do escritório dos Fagundes. Ele começou a rir e disse que lembrava. Lembra da Rádio Fronteira do Sul? E ele assentindo. Lembra do DEER? Fui nominando um a um os seus velhos companheiros de trabalho. E para todos eles ele tinha uma lembrança. Já estávamos rindo, bem descontraídos. Ufa... Então, de repente, ele desconfiou: - Mas, para aí, como é que tu sabe tudo isso de mim? - Ora, eu sou tua filha, querido. - Minha filha? - É. Ele ficou me olhando, olhando. Até que uma lágrima se formou no seu olho. Ele levantou, emocionado, e me abraçou. - Mas, que coisa mais querida. Minha filha. E ficamos assim, por um tempo. Essa é aquela hora em que a vontade é de chorar todas as lágrimas. Mas, há que manter a cara alegre, o sorriso e a firmeza. Não é fácil fingir que a alma não está em escombros.
Elaine Tavares. Jornalista. Humana, demasiado humana. Filha de Abya Yala, domadora de palavras, construtora de mundos, irmã do vento, da lua, do sol, das flores. Educadora, aprendiz, maga. Esperando o dia em que o condor e a águia voarão juntos,inaugurando o esperado pachakuti. Contato: eteia@gmx.net / tel: (48) 99078877
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Jornalismo de Libertação
Este é o pressuposto teórico básico do jornalismo praticado pela autora deste blog. Seguindo a senda da Filosofia de Libertação, que busca olhar o mundo a partir do olhar da comunidade das vítimas do sistema capitalista, o jornalismo de libertação se compromete em narrar a vida que vive nas estradas secundárias, nas vias marginais. O jornalismo de libertação não é neutro nem imparcial. Ele se compromete com o outro oprimido e trata de, na singularidade do fato, chegar ao universal, oferecendo ao leitor toda a atmosfera que envolve o assunto tratado. (Jornalismo nas Margens. Elaine Tavares. 2004)
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