quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

O banheiro


Das lembranças mais impactantes que eu tenho da infância, uma é a do banheiro da casa da minha avó paterna, em Uruguaiana. Era impecável, tão absolutamente limpo que, creio, seria até possível comer na banheira. Sempre que eu entrava para tomar banho, ficava por minutos olhando cada parte, espantada com tanta limpeza. E mesmo tendo o tapetinho no chão eu ainda colocava minhas roupas usadas para pisar em cima, com medo de sujar. Saia dali visivelmente incomodada por ter quebrado aquele aspecto clínico. Lembro como se fora hoje: não era um simples banheiro, era um quarto-de-banho, enorme, com azulejos rosados. Tinha uma imensa banheira, pia grande, um bidê e o vaso. Era possível dançar ali. Como podia ser tão impecável?

Claro, a resposta é uma só: minha avó tinha uma empregada, uma mulher que cuidava da limpeza do apartamento e também cozinhava. Minha tia era bem severa, e todas as manhãs mandava a mulher limpar o banheiro. Meu deus, como aquilo me incomodava. Porque não era um simples limpar, ela esfregava com escova todo o azulejo, a banheira, o vaso, a pia, o bidê. Todos os dias, todos os santos dias. Eu achava aquilo um verdadeiro absurdo. Seria mesmo necessário? Um trabalhão da porra. A lembrança daquela mulher e sua faina diária sempre me fez respeitar sobremaneira a profissão de empregada doméstica ou faxineira. Que troço danado de ruim de fazer.

Por fim eu cresci e, claro, vim a ter meu próprio banheiro. Obviamente que nunca fiz o que fazia a Dona Maria lá da vó. Por não ter muito tempo, por viver na correria, enfim, limpeza só aos finais de semana. Mas, como era de esperar comecei a perceber que banheiros sujam muito mesmo. Três dias sem limpar e lá já vem o mofo no azulejo. Que maçada. Por que raios temos que ter uma coisa assim? A limpeza deveria fazer o favor de durar pelo menos uns 15 dias. Trabalho enfadonho, chato, estraga-mãos. Claro que na minha juventude o banheiro vivia sujo, não digo suuuuuuujo, mas sujinho. Afinal, eu nunca tive uma Dona Maria e havia outras prioridades, como viver, por exemplo. 

Hoje, já passando dos 60, ainda me impressiono grandemente quando vou a uma casa e vejo o banheiro impecável. Que tipo de gente é essa? Provavelmente tem empregada, digo dessas que vêm todo dia, porque não é possível. E se a pessoa não tem quem lhe limpe o banheiro, mas ainda assim o mantém impecável, eu desconfio. Não pode ser normal. Ou é feiticeira ou vem de uma galáxia distante. Que gente estranha... 

Por isso que o melhor banheiro que já tive na vida foi o de uma casa na qual morei em Caxias do Sul. Nem a parede, nem o chão tinham azulejo, era tudo de cimento rootzeira, e o restante era feito de tábua sem pintura. O chão, mesmo, era incrível, porque eu não precisava de pedra pome para lixar o pé. Era só passar o calcanhar no cimento enquanto banhava e pronto, estava lisinho. Aquilo sim é que era vida...


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