quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Os zoínhos do pai


A hora de fazer o almoço aqui em casa é sempre uma espécie de festa. Se for o Renato quem cozinha, assim que as panelas começam a se mexer já começa também a música, no geral coisa bem boa: Paulinho Pedra Azul, Milton Nascimento, Expresso Rural, Grupo Engenho. Se for comigo a parada aí a música muda um pouco, gosto de ouvir os Fevers, Renato e seus Blue Queps ou os clássicos gaúchos. De qualquer forma, a música é de lei. O pai gosta de tudo. É fato que as que ele mais curte são as que falam de Uruguaiana. É só o cantor falar a palavra Uruguaiana e ele olha pra mim, sorrindo. 

É tempo também da tacinha de vinho que ele toma diariamente, golinho a golinho, enquanto briga com os cachorros. No geral ele fica sentado na poltrona, vigiando a gente. Qualquer barulhinho na geladeira ele espicha os zoínhos, observando se não tem algum petisco pra ele beliscar. Assim que temos de ter sempre à mão um ovinho de codorna, uma azeitona, um pedacinho de queijo. Ele marca cerrado. E se a gente estoura uma geladinha ele também quer. Fica ali, como se fosse o Vigilante Rodoviário, até que a última boca do fogão se apague. E, se descuidamos, ele mete a mão no pirex onde colocamos os legumes e manda bala. 

Quando tudo fica finalmente pronto ele senta e come como um rei. O apetite é perfeito. Encerrado o almoço, tem de ter um docinho e o cigarrinho pra pitar. Só depois dessa jornada ele senta no alpendre e tira um cochilo. Coisa rápida, os olhinhos cerrados, até que qualquer possível barulhinho suspeito na cozinha o desperte, à postos para novas comilanças. 

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