quarta-feira, 9 de novembro de 2016

99 anos da revolução russa








Estive na Rússia em 2014 e três coisas me marcaram profundamente. A primeira delas foi o retorno da religião institucionalizada. A igreja Ortodoxa recuperou cada templo, reergueu os que foram destruídos e cresce de maneira incrível em número de fiéis. O circuito turístico das igrejas é o que mais atrai estrangeiros.

A segunda foi observar o quanto o povo que vive no interior, nas pequenas cidades, ainda se lembra com saudade dos tempos do "comunismo". Coloco entre aspas porque o que havia na União Soviética ainda não era o comunismo, e sim um processo de transição que sequer cumpriu o programa socialista. Mas, para os camponeses, o que chamam de "comunismo" foi a melhor coisa que aconteceu. Segundo eles, nas geladas terras da Rússia, sem subsídio para a agricultura não há como produzir. Por isso, hoje, o campo está se esfacelando. Andando pelas rodovias é fácil de ver. As casas apodrecem e os camponeses são obrigados a abandonar suas terras. Aí, o que acontece é que os novos ricos, da cidade, compram casas no interior, apenas para passar temporadas de férias. Na nova Rússia, capitalista, não há muita chance para os pobres. 

A terceira coisa é a memória de Leningrado - a cidade que resistiu ao cerco dos nazistas por mais de 900 dias. Foi essa gente incrível que enfrentou, sem armas, com os próprios corpos, o avanço das tropas de Hitler. E venceu. Foi esse povo que conformava as repúblicas socialistas soviéticas que realmente parou o avanço nazista, foram os que venceram a guerra. A máquina de propaganda dos Estados Unidos, sempre poderosa, criou o consenso de que a vitória chegou com o desembarque da Normandia. Mas, basta uma leitura mais acurada da história, e logo se descobre que sem a frente russa, nas geladas terras do norte, Hitler teria vencido.  

Agora, nesse novembro, a Rússia celebra os 99 anos do triunfo da revolução iniciada em 17 de outubro, que rompeu com o atraso e ousou propor outra forma de organizar a vida. Fico aqui a imaginar o contraditório mosaico de sentimentos que deve assomar na alma daquela gente incrível. Muita mágoa em relação ao "comunismo" pela destruição das igrejas e da tentativa de apagamento da fé, e ao mesmo tempo essa nostalgia, principalmente no campo, de um governo que priorizava os mais pobres e garantia a sobrevivência dos agricultores. 

Não é sem razão que o partido Comunista ainda segue tendo bastante força por lá, com seus filiados crescendo a cada ano. Se o socialismo não cumpriu o que prometera, o capitalismo certamente não é o espaço de respostas para o povo russo. 


Manifestação do Partido Comunista no dia 07 de novembro

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