quarta-feira, 19 de outubro de 2016

"Fuditruqui", ou o fim da convivialidade



























O velho bar Assim-Assado sendo demolido

O bar era um lugar de encontros



No espaço de convivência havia espaço para os Centros Acadêmicos - aqui, uma hora feliz no CALE


Na universidade a gente não deixa de surpreender. Há quatro anos o Centro Sócio-Econômico destruiu um espaço de convivência no qual ficavam o bar e os centros acadêmicos. Ali, a vida fervilhava. Primeiro porque abrigava os espaços de luta dos estudantes e eles circulavam sem parar, conspirando, debatendo, tramando. E, em segundo lugar, porque era o espaço do encontro de todas as gentes: estudantes, técnicos, professores e visitantes.

As mesinhas vermelhas enchiam-se na hora do intervalo. As pessoas conversavam, comiam, traçavam plano, se conheciam. Lugar para se estar e ficar. Lugar para se demorar, no cara-a-cara com a vida e com as pessoas. Convivência real.

Quando o prédio caiu, ficou a expectativa de que no lugar dele – onde surgiria o prédio da pós-graduação – também renasceria o velho espaço da convivência, porém mais bonito e mais acolhedor. Engano. O prédio se ergueu sem planejamento nenhum para o encontro das gentes. Só as salas frias de aula e administrativas. Gente tem de trabalhar e estudar. Que coisa é essa de se encontrar? Perigoso, talvez!

Eu esperei a revolução. Como podia os estudantes ficarem sem lugar para sua organização? Sem salas do Centro Acadêmico, sem espaço de convivência, a única reação possível era a rebeldia. Pois não veio. Passaram-se os anos e eu segui sozinha numa cruzada por um centro de convivência. Nada.
O tempo passou e os estudantes foram se adequando ao cenário de comer rapidamente, na porta do centro, os lanches que alguns vendedores decidiram trazer. Os poucos minutos em que se engole a comida não servem para o encontro. É só a manutenção da vida.

Agora, poucos dias antes da eleição para diretor de centro anuncia-se a colocação de um carrinho de comida, desses do tipo estadunidense, os chamados “fuditruqui”, que já contém no nome a natureza da sua qualidade.

Quem conhece um pouco das terras do norte sabe que, lá, é bastante comum os trabalhadores não almoçarem. Eles comem um lanche rápido, um cachorro-quente, um hambúrguer, coisa assim. E o fazem na beira do carrinho, em pé, sem muita mastigação, porque, afinal “time is money”  e a roda da fortuna não pode parar. Pois é isso que os dirigentes da universidade parecem querer para todos nós. Nada de encontros, nada de junção de gente, nada de ficar conversando, fruindo a beleza da vida. Rápido, rápido, comer rápido e voltar. Não é sem razão que os lugares de convivência estão morrendo em toda UFSC. Até mesmo o velho e pungente Centro de Convivência hoje é um lugar vazio de vida. Time is money, aqui também....

Alguém vai dizer que a gente é sempre do contra, que um carrinho de “fuditruqui” é bem legal, que isso não impede a convivialidade, e tudo mais. E eu então digo, leiam Milton Santos. O espaço interfere radicalmente no modo de vida. A organização do espaço organiza as gentes. Tudo está ligado.

Dito isso, insisto: quero de volta o lugar do encontro.  Que dizem os candidatos??? Que fazem os estudantes? Qual a atitude dos professores e técnicos?


A minha é clara: espaço de fruição e de luta é necessário e urgente. Vamos lutar por isso, companheirada. 

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