sábado, 10 de outubro de 2015

O Sérgio, do Box 40




Vinha de uma jornada num hospital, onde o tempo para, apenas na espera da recuperação da vida. Cansada, triste, sombria. Então, na rodoviária de Porto Alegre, antes de pegar o ônibus para Florianópolis, fui buscar um lugar para comer. Espiei aqui, ali, aquelas "lancherias" ( é como se diz no sul, lanchonete) cheirando a gordura. Não tinha muita escolha. A fome era grande.

Parei numa delas, de nome Box 40. Cabisbaixa, algumas lágrimas insistindo em sair, fiquei ali, esperando o prato. Então, passei a reparar no rapaz que preparava as refeições, bem a minha frente. Cada prato que saía, vinha com alguma tirada engraçada, uma brincadeira, uma espécie de bailado entre ele e a menina que atendia as mesas.  

Acompanhando aquele alegre ritual fui desenferruscando a cara, sorrindo, entrando no mesmo clima de alegria e brincadeira que ele propiciava. Ali estava, num pequeno espaço, fedendo a gordura, possivelmente superexplorado, irradiando tanto riso e bem-querenças. 

Comi minha milanesa, sempre de olho no cara, rindo de suas bobagens. Minha alma foi ficando leve. Quando terminei, paguei e fiz questão de ir até ele perguntar seu nome e agradecer. Sérgio. É assim que se chama. Ficou meio envergonhado quando agradeci pelos minutos de pura alegria que ele me havia proporcionado naquela hora de almoço. Mas, olhando para o dono da casa, que estava no caixa, arriscou: "Viu como as brincadeiras são legais". Eu confirmei. Sim, são legais.

Num mundo cada vez mais perdido de amor, aquele homem, Sérgio, com seu contentamento em simplesmente viver, encheu meu coração de ternura.  Saí dali sorrindo, achada de novo, impregnada de belezas.

Agora, quando voltar a Porto Alegre, ali estarei, no Box 40, com uma milanesa e uma Bohemia gelada, ouvindo a algaravia festiva do Sérgio, no doce desejo de ser feliz. 
 
   

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