Tenho acompanhado nas redes sociais as manifestações de
centenas de pessoas protestando contra o fato de um assumido homofóbico e
racista ser o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara
dos Deputados. Confesso que ainda não consegui entender muito bem o motivo da
estupefação. Eu, particularmente, acho magnífico. Penso que essas ditas “aberrações”
conseguem fazer com que as pessoas, que no geral não se preocupam com política,
percebam que alguma coisa não cheira bem. Mas é só isso.
O fato é que o legislativo brasileiro não é espaço de
representação dos movimentos sociais organizados, nunca foi. Não é locus das
maiorias. O legislativo é lugar dos interesses de grupos muito específicos, que
representam negócios lucrativos e que legislam para eles. No universo dos 503
deputados há uma ínfima parcela – mas ínfima mesmo – de pessoas que representam
alguma demanda popular. Os demais, ou é testa de ferro de algum interesse, ou é
o chefe mesmo: vide Sarney.
O Congresso Nacional é composto por gente que se elege a
partir de milionárias campanhas bancadas pelos interesses do mundo dos negócios:
construtoras, fazendeiros, empresas multinacionais, coisa graúda mesmo. Não é
lugar para “zezinhos”. Os poucos que conseguem se eleger apesar de toda essa
frente econômica dos poderosos de plantão, acabam apenas legitimando a algaravia
dos sem-vergonha que vendem a ideia de que as eleições são uma “festa
democrática”. Pode até ser festa, mas
não é democrática.
Eleição democrática é aquela em que as pessoas podem
escolher um candidato que foi indicado pelos movimentos sociais, uma pessoa que
se conhece, que trabalha para as causas coletivas. Como acontece em Cuba, por
exemplo. Os candidatos são indicados nas assembleias de bairro, por gente que
sabe em quem está depositando sua confiança. Não há campanha com rios de
dinheiro correndo porque ninguém vai ao parlamento para “encher os bolsos”, nem
o deles nem o de ninguém. As pessoas se elegem para fazer o país caminhar. E
também não recebem altos salários para servir ao seu país. O fazem, ou
trabalhando no seu trabalho de sempre, ou recebendo o mesmo salário que
receberia se estivesse no seu local de trabalho original. Opa, isso sim é que é
um legislativo passível de ser confiável. E aí sim causaria estupor se um
indicado à comissão de minorias e direitos humanos fosse um reacionário. Porque
seria uma excrescência total.
Mas, aqui, no Brasil, onde os congressistas se elegem a
partir o poder econômico, e muitas vezes são completos desconhecidos dos
eleitores, o que se poderia esperar¿ É óbvio que os que vão comandar as
comissões, de direitos humanos ou qualquer outra, serão os prepostos do
capital, dos interesses alheios aos desejos das gentes. É o óbvio!!! É
ululante!! Uma pessoa comprometida com os interesses da nação numa presidência
de comissão qualquer é que seria algo inédito e perturbador.
Assim que respeito muito as pessoas que estão aí a se
manifestar contra o pastor homofóbico. Mas isso não é suficiente. Vejam que
controla a comissão de Finanças, a da Amazônia, da Agricultura, Ciência e
Tecnologia, Educação, Desenvolvimento Urbano e as demais... Cada um deles
mereceria o repúdio massivo das gentes. Defendem interesses que não são os
nossos. Não são! Então, talvez, a partir de momentos como esse, em que, por um
particularismo, a maioria se dá conta sobre os lobos que estão a cuidar do
galinheiro, fosse tempo de se começar a pensar em mudar esse sistema político,
como vimos tratando de fazer – em poucos
- há tanto tempo. Mudar o sistema eleitoral, mudar o sistema inteiro.
Acabar com o controle dessa minoria predadora que suga as riquezas e a vida do
povo.
Essa luta sim, seria bonita de a gente travar.
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