Depois, quando ganhamos as eleições, ela tinha por prática fazer essas visitas cotidianas e tirava sempre um tempinho do dia para andar pela UFSC, falando sobre as lutas, colhendo demandas. Aparecia lá na Agecom com aquele olharzinho de passarinho e lá ia eu atrás dela. Com Ângela aprendi que um sindicalista é como o artista, tem de estar onde estão os trabalhadores, não só no tempo da eleição, mas todo dia e sempre. Nas atividades do sindicato ela era a primeira a chegar, última a sair, e como uma formiguinha andava pra lá e pra cá colando cartazes, enchendo balões e passando nos setores. Imparável e incansável, sempre arranjando alguma coisa pra gente fazer.
Ela também acreditava que conversando com o povo pessoalmente, a galera iria para a greve. E dava certo. Ela chegava, com aquele seu jeitinho, e falava, e falava e falava. E se encontrava alguém furando a greve lá ia convencer o vivente, numa paciência de Jó. Os furões fugiam dela como o diabo da cruz. Também se achegava nos pelegos e nos adversários que se obrigavam a ouvir a pequenina, mesmo a contragosto. Estando ou não estando na direção do sindicato a Ângela fazia esse trabalho de contato pessoal, cotidiano. E só parou quando uma dor tão grande a sufocou. Mas, se deixou o trabalho na UFSC, ela mesma não parou. Passou a se ocupar dos famintos, dos sem casa, dos da rua, levando sopa, pão, carinho. E a sua carinha de passarinho passou a ser esperança para os sem-nada.
Até há pouco tempo ali estava ela acolhendo os haitianos, africanos e os venezuelanos migrantes, garantindo casa e alimentação. Está sempre fazendo algo por alguém. Acolher é o verbo que a identifica. Ângela foi sempre meu sul, minha direção segura. É minha “ídala”, meu amor. Hoje, na celebração dos 30 anos do Sintufsc eu tive a alegria de vê-la de novo na UFSC, apesar de toda a dor que eu sei que significa estar ali. Foi porque é o nosso passarinho, porque suas pegadas estão cravadas nos caminhos da universidade, em cada salinha, em cada jardim. Foi porque sabe que é parte imensa dessa construção que é o sindicato dos trabalhadores. Foi porque ama cada um de nós.
Nesse abraço registrado por Rubens Lopes, eu deixo registrada essa homenagem à mulher mais linda, mais querida, mais comprometida, mais persistente, mais tudo que eu já conheci. Te amo a perder de vista Angela Dalri, obrigada por tanto que me ensinou pequenininha, meu passarinho, minha amiga, meu amor....
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