segunda-feira, 4 de julho de 2011

Carta ao comandante Chávez

Por Raul Fitipaldi

Meu companheiro, sabe, andei meio bravo com você nos últimos tempos: algumas deportações que não entendi, alguns amigos seus colombianos que não me agradam. Enfim, todos temos o direito sagrado ao dissenso. Falar-nos cara a cara faz parte do mundo livre que queremos você e eu.

Nestes dias você anda complicado de saúde, cuidou do seu espírito revolucionário e não do seu corpo. Por isso os criminosos refestelam-se, se lambem as feridas de tanta derrota que você e seu povo têm lhes impingido. Muitos companheiros fazem um histórico da sua obra, que não entra em livros enormes; que dizer em pequenos artigos? Os jornais da direita aplaudem seu mal-estar, os da rebeldia estamos meio apequenados, assim, com algo de tristeza e medo. Mas, medo por que?

Olhe sua América Nossa, a de Bolívar, San Martín, Artigas, Sandino, Juana Azurduy, Alfaro, Manuel Rodríguez, Morazán e El Che. Olhe a América de Fidel e Chávez cumpa, olhe bem! Tá levantada, tá enérgica, tá lúcida, tá em movimento, tá abraçando a todos os povos pobres do mundo em estado de libertação! Descem de novo dos morros caraquenhos para resgatar seu comandante os fazedores da Revolução Bolivariana – que nunca saberei que seja muito claramente, mas isso porque sou algo ortodoxo, tal vez. Essa revolução que somou-se à cubana e faz comer, ver, ler, trabalhar e sonhar com esperanças em outro mundo possível, não só para a América Nossa como para todo o mundo. Você sempre esteve e estará à frente da nossa marcha, com o teimoso Fidel, com as massas anônimas do Che.

Você não precisa voltar à condução, porque você não saiu nunca da condução. E nunca sairá da condução, porque o mando que entregamos os povos para você exercer tem 520 anos de lutas, conquistas, vidas e esperanças. Os filhos da Abya Yala, as crias pobres da Europa, os afrolivres do mundo, os heróicos trabalhadores pelos que lutou Ho Chi Minh, todos estamos seguindo sua palavra histórica, sua luta titânica, seu amor imenso pelo Povo.

Meu companheiro, não queria hoje falar de política com você, para isso estão meus bons amigos e colegas venezuelanos que nos mantém informados o dia todo sobre a Pátria de Bolívar. Queria lhe expressar que numa perdida ilha do Atlântico, ao Sul do Brasil, Desterro (Florianópolis, seu nome ingrato), onde publicamos páginas e páginas sobre as lutas das gentes pobres, de todo mundo, onde estamos virtualmente embarcados numa Frota a Gaza, onde abraçamos a cada amanhecer as resistências dos povos, a de Honduras em especial, acumulamos horas e horas de aprendizado com seu Alô Presidente, com seu ALCARAJO!, com sua saga humana ímpar que nos ensina para onde ir, e como ir.

Hoje, os jornalistas alternativos, os veículos da comunicação livre do povo, estamos com os olhos em você, com as mãos estendidas a Havana, para lhe dizer: – Passe cumpa, aqui, na casa dos pobres em luta, você não precisa pedir licença, e vá dizendo algo, que sua voz é um hino à liberdade!

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