O presidente do Equador, Rafael Correa, enfrentou nesta quinta-feira, uma situação bastante crítica. Policiais de todo o país iniciaram uma rebelião e cercaram o presidente dentro de um regimento onde ele tentava negociar. O presidente acabou detido durante 11 horas. Os policiais protestavam contra a Lei Orgânica de Serviços Públicos e Carrera Administrativa, que elimina alguns incentivos para os trabalhadores.
O movimento começou nas primeiras horas da manhã quando foi tomado o Regimento Quito. Recolhidos em suas unidades os policiais queimaram pneus e exigiam dos seus oficiais que fizessem pressão junto aos deputados da Assembléia Nacional. O presidente Correa seguiu para o regimento, disposto a conversar com os amotinados, mas não houve boa aceitação e o clima ficou tenso.
Conforme narram as notícias dos jornais equatorianos, em determinado momento, quando os policiais se recusavam a ouvir o presidente e gritavam por guerra civil, Correa arrancou a gravata, abriu a camisa e bradou: “Senhores, se querem matar ao presidente, aqui está: matem-me. Mas apareçam em vez de ficarem na multidão, covardemente escondidos”.
Correa, premido pelas vaias e gritos, apelou para a missão de cada um e declarou que fizessem o que fizessem ele seguiria cumprindo o que tinha de fazer pelo país. “Se querem deixar a cidade sem defesa e trair sua missão de policiais, façam-no”. O presidente, sem condições de diálogo decidiu sair do regimento, mas os policiais o cercaram e o impediram. No empurra- empurra, um dos policiais lançou uma bomba de gás, muito próxima do rosto de Correa, que acabou no Hospital da Polícia Nacional, onde permaneceu o resto do dia, praticamente sequestrado.
Tão logo se deu este fato, o governo equatoriano declarou o país em estado de exceção e mobilizou as forças do exército. Houve conflitos e já se contabilizam mortos e feridos. “Há uma tentativa de desestabilizar o país”, afirmou o coordenador de Segurança Interna do Equador, Miguel Carvajal.
Os protestos seguiram pelo dia afora e as forças do governo começaram a chamar a população para frente do Hospital da Polícia, onde estava Rafael Correa. Milhares de pessoas começaram a chegar e foram recebidas com bombas e pedras. Foi uma batalha campal em Quito e já se falava em tentativa de golpe de Estado. Saídas da cidade foram fechadas pelos policiais sublevados e no interior do país também houve conflitos. Sem proteção policial aconteceram vários assaltos a banco e soube-se de uma tentativa de invadir a Radio e a Televisão Pública, coisa típica de golpe de estado. Segundo Alex Ponce, do Movimento de Direitos Humanos do Equador, é certo que a chamada “Revolução cidadã”, promovida por Correa tem seus inimigos e muitos deles estão enquistados nas forças policiais.
Apesar de alguns setores, marcadamente da direita, terem se posicionado a favor do protesto policial, outras forças críticas, como a CONAIE, que congrega os povos indígenas, fez um chamamento para todo o povo se mobilizar contra forças golpistas, impedindo que se dê marcha atrás. Sustentando as demandas que têm mobilizado os indígenas em protestos contra a mineração e pelo estado plurinacional, a CONAIE pede ao povo que saia a ruas a defender a democracia.
Ontem, durante a noite, o presidente Correa foi resgatado por comando especial do exército e o carro no qual ele seguiu para a casa presidencial apresentou vários tiros de fuzil. Lá, ele falou ao povo equatoriano e aos mais de dois mil simpatizantes que acorreram ao palácio. Era mais de meia noite quando Correa falou à nação através dos meios estatais. Segundo ele, o que houve foi uma tentativa de golpe, que falhou, e que este fato que mexeu com a vida dos equatorianos e deixou mortos e feridos, não será esquecido assim como não haverá perdão aos sublevados.
O fato é que as novas leis que estão sendo discutidas agora e que respaldam a nova Constituição, mexem em muitos pontos importante da vida dos trabalhadores. Desde há meses acontecem protesto de professores, dos indígenas e dos aposentados. A jornada de ontem acabou em confronto porque os trabalhadores em luta eram policiais armados. Segundo analistas, é certo que houve também um aproveitamento de forças direitistas para desestabilizar o governo e propor um golpe.
Hoje, os fatos se desdobrarão.
A Unasur reuni-se em Buenos Aires em caráter de emergência e imediatamente repudiuou o golpe. Hoje, vários mandatários devem seguir para Quito. "A Unasur não será uma nova ONU. Nós vamos agir e defender a democracia", disse a presidenta argentina Cristina Kirchner.
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