O pai já passou por muitas fases do Alzheimer. Agora, próximo de completar 91 anos, está sem andar. Dar alguns passinhos logo que levanta da cama de manhã já é bem difícil. Ele fica cansado e desaba. O jeito então é partir para a cadeira de rodas. Nela a gente pode circular pelo jardim, tomar sol, ir até o portão ver o movimento da rua, circular. Ele gosta, sempre foi rueiro. O resto do dia é sentadinho na poltrona. Ali ele briga com os cachorros, vê um pouco de televisão e principalmente ouve música. Trouxemos de casa todos os CDs que ele gravou ao longo da vida, com coletâneas de música sertaneja, a assim ele vai passando o dia.
Vez em quando ele se cansa de ficar sentado, eu acho. E fica rabugento. Começa a falar na sua língua klingon e tenta levantar. É um perigo, por isso estamos sempre de olho. Outro dia eu desviei o olhar por um segundo e quando virei lá estava ele de pé, agarrado na porta. É danadinho. Quando fica assim, enfezado e agitado o jeito é distrair. Minhas alternativas são cantar, ou dançar como uma Maricota.
Mas, tem outra forma que é mais legal. Quando ele fica muito brabo eu abraço ele com força e digo, enchendo de beijinhos:
-Tu és o meu queridinho? Tu és o meu amorzinho? Tu és? Tu és?
É aí que eu ganho um belo de um sorriso.
- Ahhhh, não – Ele diz, enquanto se enrosca em mim como um gato. Sabe que é meu querido.
E assim passamos os dias, com muitas dessas janelas de amor.
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