Meu pai tem Alzheimer há sete anos. Com a pandemia piorou um pouco porque a interação social parou. Mas, também sabemos que essa doença é assim mesmo, vai piorando. Não há melhora. Temos de ir nos reinventando. Há alguns meses a mobilidade dele deteriorou muito. Homem afeito a caminhadas, parou de andar. Mal consigo fazer com que ande até o portão, logo de manhã quando acorda. Depois, ele senta e não levanta mais até de noite.
Como aqui em casa a vida acontece mais na parte de fora – almoços e encontros familiares - eu tive de encontrar alternativas para não deixar ele isolado no lado de dentro. Então, aluguei uma cadeira de banho – para a hora do banho – e uma cadeira de rodas para movê-lo para fora, no quintal, onde precisa tomar sol e interagir.
Pois foi só as cadeiras chegarem que ele se aprumou. A cadeira de banho ele abomina. Não senta de jeito nenhum. Na primeira vez fez uma balbúrdia tão grande que tivemos de desistir. Hoje, em mais uma tentativa de dar banho sentado, ele colocou toda sua força nos braços e se levantou sozinho. Não quer saber de sentar na bichinha. O jeito foi levá-lo até o box, caminhando mesmo. E ele se foi, bem contente, chegando até a brincar com a água quentinha. Xô cadeira, não tô morto, parecia dizer.
Já a cadeira de rodas ele só aceita para ficar ao sol. Eu o levanto e ele vai andando até o quintal, lá ele senta na cadeira e fica o tempo todo empurrando ela com os pezinhos. Na hora de voltar pra dentro, tem de ser andando também. Seu Tavares é porreta mesmo, se recusa a se deixar vencer. Observo isso com profunda ternura. Meu amado pai, que sempre foi um caminhador, enfrenta com valentia mais essa dificuldade. A parada é dura pra todos nós, mas enquanto ele tiver força, vai querer andar. E que bom que seja assim.
Nessa doença o lance é esse. Quem tem de se adaptar é a gente que cuida. Eu me alegro de ver a força da vida que segue forte no pai. Ele não se entrega fácil não. Que siga assim, meu brotinho...
Um comentário:
ola https://sintrabloguecintia.blogspot.com/
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