domingo, 21 de junho de 2020

Campeche protesta contra o enrocamento


A comunidade do Campeche vive dias de bastante polêmica por conta de obras de contenção das dunas que estão sendo feitas na praia. Não bastasse isso ainda circula uma proposta de realização da técnica do enrocamento, que consiste na construção de um muro de pedra. Por agora, máquinas estão mexendo na praia, colocando sacos de areias e uma paliçada na área, visando criar uma barreira para as ondas. Naquele local, na última década, pelos menos 20 casas já desmoronaram por conta da ação das ressacas e outras 10 estão interditadas. Nos últimos dias algumas casas caíram próximo à Rua do Chalé e Aroeira e os moradores – donos das casas - estão se mobilizando para garantir que as moradias se mantenham de pé.

Esta não é a primeira vez que os moradores do local colocam sacos e madeira para tentar proteger as casas. Mas, não tem jeito, o mar vem e toma, afinal, as casas estão fincadas bem em cima das dunas. Agora, a obra está sendo realizada sob a coordenação da Defesa Civil e é, segundo diz a Floram, apenas para garantir a segurança das pessoas, visto que os restos de construção acabam ficando na praia. Conforme informações colhidas junto à assessoria do órgão de proteção ambiental do município, a Defesa Civil não precisaria de licença para fazer isso, visto que é claro o risco de desmoronamento. A Floram não quis se manifestar sobre a proposta de enrocamento que está sendo defendida pelos donos das casas.

De qualquer forma a comunidade está em polvorosa por conta das obras na praia, que tornam a paisagem bastante poluída e perigosa, e circulam vídeos e fotos nos quais moradores do bairro se mostram indignados com a situação, visto que as casas que estão ameaçadas de desmoronamento são construções ilegais feitas em cima da duna. Para muitos moradores do bairro, bem como para entidades como a Associação de Surfe do Campeche, não há sentido em usar dinheiro público para proteger um patrimônio privado, e um dinheiro que irá embora com o mar, pois as paliçadas não aguentam a força das águas e, como já aconteceu, serão levadas mar adentro novamente. Segundo o surfista máster, um dos mais conhecidos do Campeche, que é também presidente da Associação, Adilson Miguel, o Cupim, o enrocamento, além de não resolver o problema das casas, é muito perigoso para os surfistas e pescadores, pois as pedras que conformarão o muro podem se desprender e ir para o mar, causando sérios riscos a quem usa o oceano para o surf ou pesca. Isso também pode ocorrer com os troncos de madeira que, boiando pelo mar, podem atingir surfistas.

É sabido que o mar avança e tem períodos de ressaca e as dunas deveriam servir de anteparo para qualquer dano. Mas, as construções feitas praticamente na beira do mar, simplesmente ocuparam a vegetação típica, de duna e restinga, bem como o próprio espaço da duna. Logo, segundo os moradores, qualquer obra de contenção feita ali será imediatamente consumida pelo mar. Sejam os sacos de areia, as madeiras ou as rochas, e tudo isso pode ser extremamente perigoso para os surfistas, pescadores e comunidade que utiliza a praia. A Associação de Moradores do Campeche, Amocam, tem alertado sobre isso e se coloca contra qualquer obra desse tipo na praia.

Nesse domingo, mais de 150 pessoas participaram de um protesto em frente às obras. A comunidade não quer o enrocamento e, mesmo em tempo de pandemia, decidiu que era preciso marcar presença real na praia, expondo sua indignação. Para quem vive no bairro e faz daqui o seu espaço de existência, cuidar da praia é um imperativo, visto que essa é a maior riqueza do Campeche. Para essas pessoas, a praia não é lugar de especulação, existe como se fosse o jardim de casa, o qual precisa ser cuidado e protegido.

A barreira com sacos e madeira está ali, fincada na areia, como se fosse uma imensa ferida e todos sabem muito bem que não durará, passando a ser um risco para aqueles que estiverem no mar. O oceano cobra seu preço num espaço que foi arrebatado da sua função. As dunas e a restinga que separam o mar da terra firme não estão ali para serem ocupadas por casas de veraneio. Elas existem para proteger a costa. E qualquer pessoa com um mínimo de inteligência sabe que ocupar as dunas e a restinga é abrir caminho para a destruição. É como 2 + 2 ser 4. Não tem erro. A saída segue sendo a retirada dos imóveis de cima das dunas para que elas voltem a ter sua vegetação típica e sigam sendo as protetoras da praia e da comunidade.

No que depender de uma parcela bem significativa do bairro a proposta de enrocamento – que é a criação de um muro de pedras - não vai passar.

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