quarta-feira, 6 de julho de 2016

A Polônia e o totalitarismo




















Fascistas estão nas ruas da polônia e mostram sua força

Um dos elementos do avanço neo-fascista no mundo é a violência contra todo aquele que pensa diferente. O totalitarismo, a censura, o amordaçamento das vozes dissonantes passam a ser regra. Isso é algo que se verifica com bastante clareza na Polônia, país que viveu e ainda tem vivido um grave conflito por conta da ascensão da ultra direita ao poder.

Quem tem sofrido mais ataques naquela região, hoje dominada por forças totalitárias, são os comunistas. A perseguição aos militantes tem sido sistemática. O Partido Comunista da Polônia divulgou recentemente nota sobre uma decisão tomada pelo Tribunal Regional de Dabrowa Górnicza, a qual condena quatro pessoas ligadas ao partido, a nove meses de liberdade vigiada, multa e obrigação de serviços comunitários. A decisão foi tomada com base no artigo 256.1 do Código Penal polaco, que prevê até dois anos de prisão a quem “publicamente promova o fascismo ou outro sistema estatal totalitário”.  Segundo os juízes, essas pessoas estavam ferindo essa lei ao propagaram propaganda ideológica comunista no jornal Brzask  e na página oficial do PCP.

O pedido de prisão dessas nove pessoas foi efetuado ainda em 2013, pelo deputado de direita, pertencente ao partido Lei e Justiça (PiS), Bartosz Kownacki. Na peça de acusação a denuncia era de que os militantes comunistas estavam promovendo o totalitarismo ao escreverem seus artigos no jornal e na página do partido, fazendo referências ao marxismo-leninismo.

Todo o trabalho de defesa foi feito, com a alegação de que o Partido, por ser Comunista, tinha todo o direito de informar às pessoas sobre suas propostas e deixar claro qual a filiação filosófica a qual estava ligado. E que tentar calar a voz dos militantes era o mesmo que colocar em questão a legalidade do próprio PCP. Mas, com a vitória do Partido Lei e Justiça nas eleições do ano passado, o processo de totalitarismo tem se aprofundado na Polônia, com a perseguição sistemática de qualquer um que pense diferente. Ou seja, os totalitários acusam os comunistas de pregarem o totalitarismo. Um paradoxo, mas bastante compreensível a se ter em conta o que acontece no país, onde a onda conservadora chegou com a força das armas.

É importante lembrar que enquanto os militantes comunistas estão sendo julgados e condenados por defenderem essa forma de organizar o mundo, os grupos fascistas seguem se manifestando livremente nas ruas. Um exemplo é a organização ONR (Campo Nacional Radical), de extrema direita, que na comemoração de seus 82 anos de existência realizou passeata com a exposição de seus símbolos, tochas e fazendo ameaças de eliminação de todos os inimigos, tudo isso publicamente, sem qualquer ação por parte da polícia ou do governo.

Pelo contrario, conforme informações de Ástor García, do Partido Comunista do Povo Espanhol, o governo polonês e os legisladores estão discutindo uma proposta do Ministério da Defesa que é a de entregar armas aos fascistas dentro do que eles chamam de “plano de defesa ampliada”. A meta é acabar com o comunismo e com as pessoas que defendem essa forma de organização da sociedade. Assim, não bastasse a violência declarada dos grupos fascistas,  o parlamento também já aprovou uma lei que proíbe qualquer referência a socialismo ou comunismo, e que obriga as autoridades locais a mudar nomes de ruas e locais públicos que sejam associados ao período que a Polônia viveu sob essa bandeira.

Segundo os trabalhadores que denunciam a onda violenta do fascismo na Polônia, esse tipo de campanha, bem como a condenação dos militantes poloneses, faz parte de uma orquestrada campanha anticomunista que já se desencadeou em todo leste europeu, apoiada pelas lideranças políticas da União Europeia. Em documentos que são divulgados pela internet, os trabalhadores pedem a solidariedade mundial no que diz respeito ao direito de expressão. Se há algum totalitarismo se expressando hoje na Polônia é o fascismo redivivo. Pode-se criticar o socialismo real e pode-se também recusar a ideia do comunismo, mas, num mundo dito democrático, o mínimo que se espera é que as ideias possam ser debatidas livremente.

Pelo que se vê, na Polônia, com a ascensão dos fascistas, numa fratricida guerra promovida pelas forças dos EUA e aliados para enfraquecer o bloco russo, o dito totalitarismo comunista está sendo aplastado pelo totalitarismo ocidental. Triste destino dos poloneses. E, nesse embate, quem morre é a liberdade de expressão daqueles que pensam diferente, quando não as pessoas mesmas.

Sem comparar as realidades históricas, que são radicalmente diferentes, podemos pensar sobre o avanço das ideias totalitárias aqui no Brasil, onde pessoas de uma religião se arvoram melhores que as de outra, onde pessoas atacam casas de umbanda, onde pessoas agridem outras por estas estarem de vermelho, onde um deputado pode dizer em plenário que estupraria uma colega e pode pregar a violência explícita contra os que considera inimigos, sem que nada lhes aconteça. Esses pequenos sinais proto-fascistas devem ser combatidos sob pena de também vermos desaparecer o tão incensado “direito de livre expressão” e liberdade de sermos quem quisermos ser.

Toda solidariedade aos trabalhadores poloneses. E olho atento sobre a nossa realidade local.



Nenhum comentário: