sábado, 16 de agosto de 2014

A luta de classe na UFSC


A greve na UFSC escancarou mais um conflito dentro de uma gestão que se elegeu a partir de uma proposta de diálogo, e que, apesar disso, tudo o que tem feito é negar a participação democrática, administrando de maneira centralizadora e autoritária. Todos os fóruns prometidos não foram realizados e, na única reunião pública que trouxe a comunidade do Pantanal para debater a cessão do terreno da UFSC o desejo da maioria foi olimpicamente ignorado. Mesmo com todas as falas dizendo não à cessão do terreno sem o devido projeto, a administração levou o tema para o Conselho Universitário e o aprovou.

Não bastasse isso, alguns de seus apoiadores insistem em dirigir o debate sobre o autoritarismo para outra região que não tem absoluta relação com o tema. Outro dia, numa das mobilizações realizadas no CFH, ouviu-se uma professora dizer que as críticas dos trabalhadores se davam dentro de uma questão de gênero: “A reitora e a vice são mulheres e muitos dos dirigentes são mulheres. Tem um problema de gênero aí”. Na primeira reunião de negociação, acontecida no dia 8 de agosto, um dos professores da comissão nomeada pela administração também se saiu com essa. Nada mais absurdo. Na verdade, esse argumento revela uma fragilidade política abissal.

Os trabalhadores da UFSC já realizaram lutas gigantescas pelos seus direitos, desde a batalha por poderem criar seu próprio sindicato, pela manutenção da universidade pública, contra a privatização e outras peleias ligadas a questões mais corporativas. Em todas essas lutas, os trabalhadores atuaram da mesma forma quando confrontados com atitudes autoritárias ou intransigências. E nesses anos todos os administradores foram homens. O fato de reitora e vice serem mulheres não significa que os trabalhadores tenham de aceitar os desmandos, o assédio, a violência, a falta de democracia. Quem autoriza as “mulheres” a ações assim?

O que esses professores, muitas vezes mais reais que o rei, precisam saber é que o que se trava na universidade não tem nada a ver com gênero, mas sim com classe. A administração que se elegeu prometendo mudanças e novos tempos, tem agido de maneira muito mais conservadora que muitos outros reitores do passado. E mais, consegue ser mais atrasada que a lei. Busca impor sua vontade pela força e escancara uma aliança muito clara com o conservadorismo que sempre vigorou na universidade.

O que a administração “de mulheres” tem feito é fortalecer o preconceito e a sempre conflituosa relação entre técnicos e professores. Isso acontece na medida em que passa a decidir sobre a vida dos trabalhadores, excluindo-os de qualquer debate, agindo como se a universidade fosse uma empresa privada na qual o dono toma decisões a seu bel prazer. Ora, a universidade é um espaço público e a administração não é dona da instituição. Ela apenas gere a vida administrativa e deve fazê-lo levando em consideração os princípios democráticos. “mandar, obedecendo”, diriam os indígenas, tão sábios. Isso significa que as decisões que envolvem os trabalhadores, sejam eles técnicos ou docentes, precisam ser discutidas com eles, bem como com os estudantes que, ao fim, são aqueles que “sofrerão” as consequências.

Ao atuar de forma autoritária, revanchista e antidemocrática essa administração está tomando uma posição de classe. Alia-se a um pensamento que torna o trabalhador apenas uma peça no sistema, que precisa ser cabresteado como um bicho selvagem, que deve ser sugado e superexplorado, sem direito a discutir o seu fazer. Logo, a crítica que hoje os trabalhadores fazem não está vinculada a uma “questão de gênero”. Os conceitos que estão em combate tem a ver com democracia, participação, capacidade de autogestão. Ao assumir uma posição de “empresária da educação”, buscando encarcerar os processos de trabalho na universidade dentro dos mesmos modelos que os de uma fábrica, essa administração está exposta ao contraditório.

Nesse sentido, seria bom que os professores que insistem nesses argumentos tão pueris pudessem abrir-se ao debate sobre o que realmente acontece. Mulher ou homem, não importa. Se for contra a liberdade e a participação democrática, os trabalhadores estarão sempre dando batalha.

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