terça-feira, 15 de junho de 2010

O final de Lost


Eu gosto das coisas do mistério. Desde pequena. Enquanto minha mãe se enredava com os enigmas da fé cristã eu adentrava pelo fascinante mundo da ficção. Aprendi a ler muito cedo e com seis anos já devorava os livros que meu pai comprava por sentir pena dos vendedores que batiam à porta, naquele cantão perdido de mundo. Mal sabia ele que fazia bem a dois, ao vendedor e a mim, pois, com isso, descobri o mundo das letras. Os primeiros mistérios que minhas retinas abarcaram me pareciam incognoscíveis. Eram os mitos gregos. Não conseguia apreender a totalidade de toda aquela trama de homens e deuses, mas gostava. E, nas tardes quentes do verão gaucho, eu me escondia por trás dos móveis, nas viagens imaginárias aos portões de Hades (guardião do inferno grego).

Por conta disso, ficção e mistério sempre me atraíram. Discos voadores, mitos, seres de outro planeta, gênios, magos, feiticeiros, duendes, enfim, essa fileira de coisas encantadas e mágicas. Assim, não foi à toa que segui, capítulo a capítulo, a série Lost (perdidos), independentemente de reconhecer que era só mais um produto da indústria cultural. É que amo televisão, e tudo neste veículo me encanta, seja o que for. Quanto mais os mistérios...

Dia desses, depois de seis anos inteiros, a série chegou ao final. E eu, como todos os fãs, lá estava esperando a revelação de todos os mistérios da ilha maluca. Um final estranho, incrivelmente teológico. Os autores, querendo ou não, acabaram por oferecer ao público fiel, uma visão do paraíso. E eu, no dia seguinte, andava feito louca, querendo encontrar alguém com quem compartilhar aquela beleza toda que havia fruído na terça-feira final. Não encontrei. Ninguém do meu convívio havia acompanhado a trama. Restou ler os comentários na internet. Fiquei surpresa, poucos gostaram do final.

Eu, por meu lado, amei. A proposta dos autores foi reunir os personagens mais significativos num momento de pós-morte. Depois de viverem todas as aventuras mais doidas numa ilha que se movia loucamente no mar, depois de verem alguns deles morrer e outros se entregar a coisas igualmente malucas como vigiar uma fonte de luz, eles se reencontram todos numa espécie de festa. Aí descobrem que estão mortos. E que, por isso mesmo, estão juntos e felizes.

A cena final, que me levou às lágrimas, mostra um deles, Benjamin, o que havia sido o personagem mais complexo na sua paixão pela ilha, chegando ao ponto de matar até aos que amava, sentado num banco, sozinho, do lado de fora da festa. Os demais personagens vão chegando, de vários pontos da cidade, e vão entrando. Cada um deles, na sala festiva, encontra seu par, seu amor, seus amigos. É a revelação teológica de que, na morte, num determinado lugar – o céu? - nos reunimos com aqueles que amamos. Não importa o que aconteça, o tempo que passe, ao cruzar o umbral da vida, lá estarão os seres que só nos fazem bem.

Mas, o sofrido e complexo Benjamin, não quis entrar. Ele seguiu sozinho, observando a grande festa que principiava dentro da casa. Com os olhos fixos num ponto distante, ele se deixou ficar, representando, talvez, a opção pelo inferno. Nada de fogo, diabos ou gritos. Apenas a escolha deliberada pelo vazio das presenças amadas. Coisa triste demais.

O final de Lost deixou muitas dúvidas, não explicou dezenas de mistérios, mas, para mim, foi o suficiente. O maior dos enigmas se expressou... Morrer nunca é o fim, só se a gente quer!...

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