segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Gujo Teixeira



Conheci a poesia do Gujo Teixeira na voz do Luiz Marenco. A música me caiu como um raio e eu a escutei infinitas vezes, lágrimas nos olhos, arrebatada por tamanha beleza. Era a “quando o verso vêm pras casas”, uma dessa maravilhas que simplesmente nos tomam para sempre. A música ficou grudada em mim. Então, fui procurar o poeta. Era uma cornucópia de esplendores. Desde aí fui seguindo, nas músicas e nos livros. Gujo é incrível.

Essa semana me chegou o seu livro “Escritos de Terra” que condensa 30 anos de sua escritura campeira. Sua poesia é forte, é densa, é profunda. Ela me remete a um tempo distante demais, mas que ainda vive em mim, pulsante. A campanha gaúcha, os trabalhadores ponteando as tropas, os esquiladores, o cheiro de rio, as taipas de arroz, o gado na sombra do tarumã, a imensidão dos horizontes.

Não, nunca tive terra, meu avô foi meeiro, lavrando sempre em terra alheia, e com ele pude vivenciar as alegrias e as dores daqueles que fazem a terra parir, sem nunca ter direito à ela. É por isso que na poesia campeira as imagens que me assaltam são a dos paysanos silentes e taciturnos, na beira do fogo de chão, rocando um mate. Homens calejados, estradeiros, valentes, e ao mesmo tempo doces. E são eles que assomam nas folhas do livro de Gujo.

“Estes gaúchos de barro
Semelhados pela estampa
Foram moldados no tempo
Com a terra bruta da pampa”.

No passar das folhas vou caminhando pelas canhadas, nas tardes de inverno do Japejú. Esse Rio Grande que não sai de mim...

“A mansidão da campanha traz saudade feito açoite
Com olhos negros de noite que ela mesma querenciou
E o verso que tinha sonhos prá rondar na madrugada
Deixou a cancela encostada e a tropa se desgarrou”.

E por aí andam as tropas de versos, desgarradas do livro, que agora galopam na minha cabeceira...


Nenhum comentário: