O espetáculo do crescimento que marcou muito o governo de Lula e o primeiro mandato da presidente Dilma acabou. O Brasil agora está num processo de estagnação e queda de produção. A inflação cresce, os alimentos ficam mais caros, o crédito fica mais caro também, impedindo o consumo e fazendo com a indústria se retraia. Nossa cara subdesenvolvida volta a aparecer por baixo da maquiagem, deixando claro que somos a periferia do sistema e que esse hiato de super-crescimento foi um episódio conjuntural. Nesse processo de parada do crescimento, a questão da dívida pública, que estava escondida, reaparece e cobra políticas de ajuste. O governo brasileiro optou por bancar religiosamente o pagamento dos juros da dívida, que são estratosféricos, em vez de seguir investindo nos setores estratégicos para a vida nacional. Assim, a presidente chama um filho dileto do sistema capitalista, Joaquim Levy – que vem dos quadros do Fundo Monetário Internacional - para gerir as finanças nacionais e a receita que ele apresenta é a receita que é boa para os credores do Brasil, não para sua gente. Levy criou então uma meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o que equivale a uma economia de R$ 66,3 bilhões de reais que seriam então destinados ao pagamento dos juros da dívida pública. Como chegar a essa economia? Levy e o governo dizem que o problema é fiscal. Ou seja: está se gastando em excesso em alguma coisa e é preciso cortar. Então, cortam despesas do governo e elevam a arrecadação, seja pelo aumento de impostos ou outras receitas. Levy apontou onde poderia cortar e a presidente Dilma aceitou, aceitando a lógica da crise fiscal. Nesse sentido os maiores cortes foram feitos justamente nos setores mais importantes se pensarmos na perspectiva da população: saúde, educação e cidades. Na saúde, o corte foi de 11,77 bilhões. Na educação, 9,42 bilhões, e nas cidades 17,23 bilhões. O que isso ocasiona? Saúde ainda mais precária, educação jogada às traças e obras nas cidades ficando para as calendas. Ora, o problema não é fiscal. É financeiro. O que significa que pode o governo cortar o que for, que não conseguirá barrar o rombo, afinal, esse rombo é causado pelo pagamento dos juros da dívida. Não tem nada a ver com gastos na máquina pública. No caso específico das universidades, o buraco do corte já apareceu. A UFSC vivenciou uma greve de vigilantes, por não ter honrado o pagamento à empresa terceirizada e acumula dívidas dos aluguéis dos campi no interior, além de outras contas. Os prédios estão sem a devida manutenção, os jardins não existem mais e a previsão é de que seja necessário apertar ainda mais os cintos, o que na prática, significa problemas. Faltam recursos para a permanência estudantil e não há perspectivas de investimento. Nesse cenário, é mais do que óbvio que vai sobrar para os trabalhadores. Tanto professores como técnico-administrativos das IFES tem hoje um dos piores salários do Brasil no campo do executivo. A “elite” está concentrada nas chamadas carreiras estratégicas, ligadas à fazenda, Banco Central, jurídico, polícia federal e diplomacia. São carreiras que tem salário inicial de 13 mil reais, podendo chegar a 22 mil. Já os professores tem um teto bem modesto, de 17 mil, enquanto um técnico de nível superior raramente passa dos nove mil, salvo exceções que são excrescências de outros tempos. Não é sem razão que dos concursados para UFSC, mais da metade que passa desiste nos primeiros meses ou sequer assume o cargo. Opta por fazer outro concurso em lugares que paguem mais. Espaços como o Senado Federal, por exemplo, são considerados o “céu” do servidor. Lá, um trabalhador de nível médio, sem curso superior, entrar ganhando 13 mil reais, enquanto os que têm curso superior entram com 18 mil. Só que hora de decidir quem será o trabalhador que terá de apertar o cinto, ganhando reajuste zero, ou algo bem ínfimo, esses setores como o Legislativo federal e o Judiciário ficam de fora. Tanto que no apagar das luzes de 2014, o Congresso aumentou os salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF); do procurador-geral da República; dos deputados e senadores; da presidente e do vice-presidente da República; e dos ministros de Estado. O aumento dos onze ministros do STF impactou ainda mais os gastos do Estado porque ele incide também no salários dos 16.429 juízes que existem no país, bem como o aumento do procurador geral incide no salário dos 12.262 procuradores do quadro. Assim, o aumento desses poucos trabalhadores já custou aos cofres R$ 3,8 bilhões. Como o restante dos trabalhadores e pensionistas somam 2.176.959, o governo optou por salvar a pele dos mais ricos e não aumentar o salário dos mais pobres. A mesma velha lógica liberal. Por conta disso a choradeira de que o pedido de 27, 3%, que é a reivindicação linear dos trabalhadores, é “impossível de pagar”. Ora, não é impossível. Dinheiro há. Mas ele vai para o aumento desses setores que o governo considera estratégicos e para o pagamento da dívida pública. O governo diz que em 2014, o Tesouro Nacional desembolsou R$ 239,4 bilhões com o pagamento de salários, aposentadorias e pensões dos ativos, inativos e pensionistas da União. E, segundo o Boletim Estatístico de Pessoal, do Ministério do Planejamento, a previsão para esse ano é de que se gaste R$ 256 bilhões. Segundo os técnicos do governo, se fosse dado o reajuste que os trabalhadores querem a folha teria que aumentar em R$ 69,9 bilhões, o que colocaria por terra a economia do Levy. Então, a dança dos números mostra claramente a posição do governo. Porque, afinal, salário de servidor público não é gasto, é investimento. A melhoria do serviço prestado ao público passa por um trabalhador qualificado e bem remunerado. Mas, a opção é justamente achatar o salário do trabalhador que atende o público na ponta do sistema, provocando a fuga de profissionais e a depauperação do serviço. É nesse contexto que vem a greve. Uma mobilização de quem conhece os números e conhece a realidade brasileira. Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, dos 2, 168 trilhões do orçamento brasileiro em 2014, um total de 45,11% foi para pagamento de juros e amortizações da dívida. Ou seja, dinheiro morto, pagando uma dívida que nem sequer sabemos se é legal e legítima. Com a paralisação das universidades a mídia comercial já começa seu trabalho ideológico de transformar a vítima em vilão e prepara o espírito das gentes para massacrar aqueles que já estão massacrados. Mas, a despeito disso, os trabalhadores que lutam por uma universidade capaz de servir efetivamente à nação, farão sua luta. Como sempre. Mantendo a universidade pública, exigindo recursos para que ela possa criar conhecimento e batalhando por um salário digno.
Elaine Tavares. Jornalista. Humana, demasiado humana. Filha de Abya Yala, domadora de palavras, construtora de mundos, irmã do vento, da lua, do sol, das flores. Educadora, aprendiz, maga. Esperando o dia em que o condor e a águia voarão juntos,inaugurando o esperado pachakuti. Contato: eteia@gmx.net / tel: (48) 99078877
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