Marquito e Cláudia |
A sexta-feira passada deu a largada para a campanha política. É o tempo de eleger prefeitos e vereadores. Abre-se assim a caixa de Pandora, com as campanhas mais bizarras que se pode ter. Nenhuma novidade, sempre foi assim, mas, agora, com as tais das redes sociais, o alcance das propostas é bem maior. De certa forma, não muda nada, porque a maioria das pessoas está obnubilada pela sensação. Pouco importa o teor das propostas, a viabilidade delas, a verdade ou a mentira que escondem. O que vale é a melhor “performance”. O candidato tem de dançar, cantar, sapatear, escalar montanhas, atravessar canais, ter a postagem mais produzida no instagram, o vídeo mais descolado no tiktok. E aquilo que deveria ser um importante momento da democracia acaba sendo a explicitação da ditadura do capital. Afinal, quem tem mais recursos fatalmente terá o melhor desempenho nas redes. Também é bom lembrar que nem tudo é definido pelas novas tecnologias de comunicação, a boa e velha técnica da compra do voto igualmente faz seu estrago. Assim que a tal da “festa democrática” perde sua cor.
Em Florianópolis as pesquisas corroboram isso. Nunca uma prefeitura esteve tão envolvida em escândalos de corrupção com a polícia batendo quase todos os dias na porta de vereadores e secretários. Ainda assim, o atual prefeito lidera a intenção de voto. É que ele é bom de tiktok, dizem Pouco importa que o posto de saúde não atenda, que as escolas caiam aos pedaços, que o transporte coletivo seja uma droga e que não haja moradia popular. O bonde do cimento segue erguendo prédios e a turma acha isso bem legal.
No campo da esquerda não foi possível construir uma Frente. PSTU sai com chapa pura, com Carlos Müller. O PT decidiu sair em cabeça de chapa, com Lela, buscando, com alguns aliados, crescer à sombra do Lula. É incrível que acreditem nisso. A impressão que dá é que não estão preocupados com a cidade, mas apenas com o partido e sua performance. O PSOL, que tem o candidato com maior alcance eleitoral perdeu apoios que se colaram ao PT e teve de encontrar saídas dentro de sua própria bolha. Marquito tem um perfil bem marcado junto a questões ambientais - o que é importante para uma cidade como Florianópolis - e sua vice, Cláudia Barbosa, é ligada ao campo da cultura. Resta agora saber se conseguirão abrir-se às pautas que encarnam as demandas mais urgentes da população. Caso permaneçam no circuito das pautas pequeno-burguesas, não terão chance.
O grande desafio é conseguir trazer à tona - com propostas viáveis - os desejos da maioria, que se expressam na necessidade de uma saúde pública que não cause tanto sofrimento ao usuário, num transporte coletivo rápido, eficiente e à serviço da população, na possibilidade de morar com dignidade, numa educação de qualidade.
No que me diz respeito, ainda que reconheça os limites e as debilidades, assumo a campanha do Marquito e da Cláudia, do PSOL. Marquito foi vereador, conhece a cidade. Cláudia foi trabalhadora da prefeitura por décadas, conhece as entranhas da máquina. Torço para que a campanha cresça, abraçando as demandas factíveis da cidade, sem o papo liberal de desenvolvimento sustentável. Não há sustentabilidade no capital. É claro que um prefeito de uma cidade carcomida pelo cimento terá grandes desafios e precisará negociar com a classe dominante, mas é possível inverter prioridades como um dia fez a Frente Popular, com Grando e Afrânio.
Sei que as eleições não mudam a vida, mas elas são um momento rico de debate sobre a cidade e trazem alguma esperança.
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