Foto: Patrícia Krieger
O Sintufsc trouxe o professor e educador popular Emílio Genari para conversar com a categoria sobre o assédio moral, uma vez que o final da greve acabou por expor essa terrível chaga que atualmente dilacera os trabalhadores. Foi um momento bastante importante de reflexão para que os trabalhadores possam compreender qual o papel do assédio neste momento específico do modo capitalista de produção.
Genari deixou claro que até pouco tempo o assédio moral era algo bastante pontual. Acontecia aqui e ali. O mais comum era a figura de um chefe autoritário capaz de cometer alguma violência verbal. Mas, com o passar do tempo, o que era uma violência ocasional passou a se conformar num projeto de controle dos trabalhadores. Segundo ele, o assédio moral é hoje parte da lógica do capital. É preciso pegar um trabalhador “para Cristo”, uma vítima em potencial, para desmontar e desestimular qualquer ação reivindicatória ou de protesto. “Hoje, os chefes são treinados para assediar moralmente, para desintegrar o trabalhador”. Assim, o trabalhador assediado vira um exemplo e faz com que os demais busquem distância daquela “morte em vida”. Um jeito bastante eficaz para evitar qualquer rugosidade no ambiente.
Genari mostrou que os tempos atuais são geridos por um individualismo exacerbado. O sentido de comunidade e de pertencimento a um grupo foi esmigalhado. O sistema precisa que o trabalhador atue na solidão, sem criar laços. “Até pouco tempo, se um trabalhador era agredido ou assediado, logo os demais colegas se levantavam em protesto. Hoje não. A pessoa sofre sozinha e o colega finge que não vê. Isso destrói a pessoa completamente”. Ele deixou claro que a única saída é definitivamente desmontar essa prática na ação coletiva. Daí a importância do sindicato. Ressaltou que a batalha contra o assédio não passa por cartilhas nem por discursos, mas sim pela construção de uma resposta efetiva contra esse projeto do capital.
O que ficou bastante claro é a necessidade de se compreender a trama urdida pelo capital para melhor controlar o trabalhador e recusar, de maneira prática, essa receita. Para isso há que se recuperar o sentido de coletivo, de comunidade, de solidariedade. Um trabalhador assediado precisa ser imediatamente protegido pela ação dos demais colegas. Daí também o cuidado que é preciso tomar com relação aos projetos de organização do trabalho que vão sendo apresentados pelo sistema e assumidos sem crítica. Um bom exemplo é a lógica do trabalho remoto. Sozinho, em casa, sem o olhar do colega, o trabalhador é uma presa em potencial do assédio moral.
Agora, mais do que nunca, mais do que a denúncia sistemática desta violência cotidiana é preciso reordenar o sentido de comunidade. Um desafio e tanto que passa por compreender nos seus mais recônditos espaços, o sistema capitalista que domina e explora o mundo.