Passaram-se 45 dias da morte do pai e a vida ainda segue tendo ele como centro. A casa, que foi adaptada para seu conforto, se mantém igual. Na sala, o amparo para os pés permanece porque, agora, é o cachorro, Steve, que precisa dele para subir no sofá onde gosta de se recostar. Como está muito velhinho, não consegue dar o impulso, então deixamos a mesma madeira que servia para o pai. As rampas ao redor da casa, as barras no banheiro, os tapetes, tudo ali reaviva sua passagem.
Ainda não consigo ficar na rua por muito tempo e quando batem três horas corro para casa, como antes. Também continuo indo dormir às sete horas da noite. Nos dias de semana, quando venho do trabalho, pouco antes de chegar à casa, meus olhos já vão espiando pelo portão, porque era comum ele estar no pátio, sob as árvores, na companhia da querida amiga Clau Alves. Ele não está. Ainda assim, quando entro em casa também volto meus olhos imediatamente para a poltrona onde ele sempre ficava. Antes, eu punha o pé na porta e já gritava: Oiiiiii, meu amoreco-reco-reco-reco. Ele abria o sorriso e respondia: reco-reco-reco, reco. Ainda me enterneço com essa lembrança, afinal, ele interagiu com a gente até o fim.
Os bichos também lhe sentem falta. Os cachorros disputam sua poltrona e os gatos dormem todas as noites na sua cama. Incrivelmente na última semana do pai eles passaram a querer dormir no quarto, junto com ele, como a se despedir. E agora permanecem lá. Hoje pela manhã quando finalmente decidi juntar algumas de suas roupas para doar, lá estavam eles deitando em cima delas, ciumentos. O seu Tavares deixou, indelével, sua presença...