Alzheimer/Velhice

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Onde estás, humanidade?

Uma das brigadas médicas cubanas no Haiti

Sempre que tomo conhecimento das maldades humanas, como essas de jovens negros amarrados e chicoteados, preciso loucamente encontrar um lugar de humanidade e sanidade para seguir vivendo. “Isso é herança da escravidão”, dizem alguns. Pode ser. Mas, como se termina com isso? E por que em outros países onde também teve escravidão, isso não acontece? Não creio que seja só culpa do presidente eleito. Afinal, ele apenas plasma aquilo que seus eleitores e apoiadores são. Ou seja, essa maldade, essa vilania, já estava aí. Agora encontrou uma boca para se expressar e conseguiu dar poder a isso. Afinal, quando um presidente fala, isso tem um peso. 

O ódio aos negros, o amor à tortura, o ódio aos empobrecidos, aos lutadores sociais que tentam sobreviver nesse mundo de misérias, são ideias que agora passeiam livres, arrogantes e seguras de impunidade. É um tempo anômico, ou seja, sem lei. Todos os contratos sociais de civilidade foram rasgados. Salve-se quem puder.  Arme-se, defenda-se por si só. Essa é a parada. Então o guri tentou pegar um chocolate? Matem-no. Mas deixem livres os que fazem apologia ao assassinato, à tortura. Deixem livres os que matam milhares com políticas econômicas de arrocho. Deixem livres os que tiram a possibilidade dos jovens estudar. Matem os negros, matem os sem-terra, os sem-teto. Mas, deixem livres os fazendeiros que matam com agrotóxicos. E os que põem fogo na floresta. Essa é a nova ordem!

Desesperada por encontrar algo de humano fiz o que sempre faço nessas “horas noas” (tempo de angústia): fui ler sítios cubanos. No geral, eles me salvam. E não deu outra. Encontrei esse texto da jornalista cubana Leticia Martínez Hernández, que compartilho com vocês: 

“Uma mensagem aparece no meu bate-papo: ´Leti, estou a caminho de Havana para partir para as Bahamas´. Como é isso? Onde você está? Quando é a coisa?, pergunto em sequência. Eu respiro e penso. Certamente não deveria me surpreender. Primeiro, é Cuba e sua "mania" bonita para ajudar; então, é a Dra. Ana Maris Machado, um ser de outro mundo que me deu o Haiti quando lá era o inferno na terra, depois do terremoto de 2010, que extinguiu em segundos a vida de mais de 250 mil pessoas.

´Eu estava em Havana; Eles me ligaram por volta das três da tarde para pedir minha disposição; Eu fui para Cienfuegos; Peguei minhas coisas e agora estou voltando para Havana´. Ela diz rápido porque vem pela estrada, às vezes a conexão não é boa e os dados móveis devem ser salvos.

Eu conheci Ana em uma sala de cirurgia "inventada". Com uma força sobre-humana, ela tentou colocar um osso em seu lugar. Era a única mulher ortopedista da brigada médica cubana que foi curar em Porto Príncipe. Lembro que foi seu terceiro terremoto. Ela, que havia sido a fundadora da Brigada Henry Reeve, sabia que toda vez que acontecia um desastre, a campainha do telefone tocava.

Naqueles dias, no Haiti, ela comentara: Quando cheguei ao anexo, 24 horas após a catástrofe, me dediquei às crianças. Montamos mais três mesas cirúrgicas e, em uma delas, priorizamos os pequenos. É muito difícil ver uma criança que perde uma perna e muitas chegavam mutiladas. Em Cuba, é raro ver uma amputação de uma criança, as mais frequentes são por tumores, mas, traumáticas, quase nunca vemos. Isso a deixava mais sensível, mas ali não havia tempo para sensibilidades porque a vida da criança estava em risco. 

Hoje ela começa seu caminho para Bahamas, em sua quinta missão com a brigada Henry Reeve. Essa é a única ajuda que Cuba pode dar a seus irmãos no Caribe. Mas sei que nas mãos de Ana eles vão muito mais do que soluções médicas. 

Antes de desconectar, lhe pedi: Você vai me escrever de lá para me contar? - Assim será, ela diz. Cuide-se, digo-lhe, e fico com a sensação de que esta minha ilha possui muitos tesouros. Ana é uma delas e em poucas horas estará curando nas Bahamas”.

É isso gente! Humanidade é possível... "Pátria es humanidad", dizia José Martí. Mas, sempre depois da revolução! 

Viva Cuba! Viva a gente cubana!


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