Fotos: Rubens Lopes
Não foi fácil celebrar o dia do Saci Pererê e seus amigos um
dia depois do processo eleitoral. A cidade ainda estava emburradinha, cansada
dos panfletos e das cantilenas partidárias. Por isso, o pequeno grupo que
organiza a sacizada era olhado meio de revés, considerando que estavam todos de
gorrinho vermelho. Mas, tão logo as crianças que passavam agarradas às mães ou
pais na Felipe Schmidt enxergavam o enorme Saci na esquina, a coisa ia mudando
de figura. Brotavam os risos e os rostos desenferruscavam.
Animados pelo ator Eduardo Bolina, no seu personagem Magrão,
as pessoas já arriscavam uns pulinhos e não foram poucos os que se postaram do
lado do Saci para as fotos. Foi o caso de um rapaz do Ceará, que circulava pelo
centro com a mulher. Encantado com o molequinho das matas ele se postou para o
clique, e a mulher, cega, insistiu para tocar aquilo que tanto o estava
comovendo.
- Mas, é um boneco! Exclamou, enquanto percorria a figura
feita de papel machê com os dedos. “O saci é nosso”, finalizou entre risos.
Além das estripulias do Magrão foram distribuídos panfletos,
principalmente para quem estava com crianças. Nele estava a história do Saci,
para lerem em casa, aprofundando os conhecimento sobre o mito brasileiro.
Também foram distribuídos barretinhos vermelhos, cachimbos e pipoca, fazendo a
festa da gurizada.
O tradicional folguedo da ilha, o Boi-de-Mamão também veio
se juntar ao Saci com todos os seus bichos, e a Maricota – personagem do boi –
até arriscou um namoro com o Saci. Durante 45 minutos o centro parou para ver o
“Alevanta meu Boi”, lá da comunidade dos Ingleses.
A festa sacizistica acontece na ilha desde o ano de 2004,
iniciada pelo grupo da revista Pobres e Nojentas e o Sindicato dos
trabalhadores da UFSC, e é uma tentativa de popularizar os mitos e lendas
nacionais, até porque nesse mesmo dia os brasileiros andavam comemorando uma
festa linda que faz parte da cultura estadunidense, o “raloim”. Assim, para
valorizar os mitos locais começou esse sabá de Saci.
Desde aí, todos os anos, o mesmo grupo se reúne e organiza atividade
que leva alegria e conhecimento para as ruas. É o momento em que se dialoga com
a população e se contam das lendas locais.
Esse ano contamos com o apoio fundamental do Sintufsc,
Sintrajusc e Eletricitários, sindicatos que reúnem trabalhadores da
universidade federal, justiça federal e eletricitários, e que historicamente
tem se somado às Pobres e Nojentas nesse esforço de divulgação da cultura
brasileira.
Em 2016 também foi a primeira vez que o Dia do Saci aconteceu
já sob os auspícios da lei municipal que instituiu o 31 de outubro como Dia Municipal
do Saci e seus amigos, através de um projeto de lei do vereador Lino Peres. A
ideia agora é procurar incluir esse dia como um momento de debate sobre a
cultura da nossa cidade, que também tem tradição de bruxas, desenhadas e
divulgadas pelo grande Franklin Cascaes. O saci, como um mito que articula o
país inteiro, é o condutor dessa proposta que visa nacionalizar a cultura.
Sua figura representa os três ramos culturais e étnicos do
nosso povo: o indígena, o negro e o branco. Uma mescla de histórias e culturas
que hoje formam o imaginário mítico do nosso país.
A festa do Saci encerrou com a tradicional ciranda,
esperando que os tempos que se avizinham sejam de muita força para toda a
gente. Com o Saci, molequinho travesso que gosta de esconder coisas e embaralhar
os cabelos, vamos saracotear nos redemoinhos da vida e da política do nosso
país. E, como ele, vamos sobreviver a todos os vendavais. Porque estamos juntos
e porque sabemos onde queremos chegar.
Nosso carinho especial aos sindicatos que nos ajudaram, ao
vereador Lino e particularmente às “nojetas” Miriam Santini, Jeane Adre e
Salete Lanzarin, que garantiram, na raça, mais um Dia do Saci.
Nenhum comentário:
Postar um comentário