Alzheimer/Velhice

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Que venha mais uma volta

O mês de dezembro não foi bolinho. Perdi amigos, uma parte do Campeche se foi, muitas foram as derrotas. E, se voltar no tempo, verei que essas coisas igualmente aconteceram nos demais meses. Não é fácil ser Mariazinha do passo errado. Mas, essa foi minha escolha, então, não há o que lamentar.

Nosso planetinha fez mais uma órbita em torno do sol. E nós com ele. Agora, outra órbita vem, nesse eterno retorno. Poderia desejar tantas coisas incríveis aos amigos e camaradas, mas não sei se devo. A grande aventura humana é esse surpreendente devir, com todas as suas coisas boas e más.

Hoje, enquanto cozinhava senti aquilo do qual fala nosso poeta popular, Odair José: um momento feliz. Mexia as panelas cantando em altos brados a canção sertaneja, de Lourenço e Lourival, “franguinho na panela”, e me emocionava. Porque essa é a doce/triste/bela/cruel realidade de tantos milhões de seres no mundo. O cachorro Steve Biko acompanhava meu cantar, esparramado no chão. Os gatinhos bebês faziam uma algaravia no meu pé, querendo um naco de qualquer coisa. Bartolina, a gata, dormitava na rede. Zumbi, o gato, lagarteava ao sol. Os homens que amo cuidavam, cada um, de alguma coisa da casa, numa azáfama ruidosa. O sol brilhava, uma leve brisa passava, a comida cheirava um leve e picante cheiro de curry. Os passarinhos cantavam, voejando alegres, invadindo a cozinha. A vida seguia seu indefectível curso.

Aquele foi um momento único, contemplação da mais pura beleza. Um instante, desses que perdura para a eternidade. Nada fora do lugar, tudo pleno. Quando a música silenciou eu soube. É isso que faz com que tudo valha a pena. Um segundo, um instante, um momento de completa felicidade.

Então, é o que desejo a cada um dos amigos. Que possam viver essa plenitude em algum átimo da vida. Porque isso faz valer a caminhada nesse mundo tão cheio de dor e desencanto. Caminhar na beleza, como ensinam os navajos, caminhar na beleza... ainda que seja por um só segundo!

Que venha 2012... Aqui esperamos... Com música, sonhos e força para seguir rasgando as manhãs!


Compartilho o Lourenço e Lourival...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Belo Monte não é a única

Apesar de toda a mobilização dos indígenas, ribeirinhos e lutadores sociais, segue a construção da barragem de Belo Monte, que deve inundar 668 quilômetros de mata e de vida. O consórcio Norte, vencedor da licitação, envolve uma série de empresas que vai desde a Eletronorte, construtoras como a Queiróz Galvão e Mendes Junior, o grupo espanhol Iberdrola, até fundos de pensão da Petrobrás e do Banco do Brasil. O que significa que é também o dinheiro dos trabalhadores que está financiando o monstro. Pelo menos nove povos indígenas serão afetados diretamente pela barragem assim como 210 sítios arqueológicos.

Mas, apesar de toda a carga de destruição desta mega usina que pretende ser a terceira maior do mundo, ela não deve ser a única a ser construída na região amazônica. Pelos menos 140 outros empreendimentos deste tipo estão planejados para o espaço geográfico que hoje concentra 60% de todas as florestas do mundo e que é responsável pelas variações climáticas de todo o planeta. Destes 140 empreendimentos mais de 60 estão em solo brasileiro, especificamente na floresta. As demais se espalham pelo Equador, Peru, Colômbia e Bolívia. Isso se considerarmos só a América do Sul. Porque também estão sendo construídas barragens nos países da América Central. Uma delas, a de Diquis, na Costa Rica, que deve inundar mais de 12 mil hectares, também tem sido palco de muita luta, já que deverá destruir pelo menos cinco etnias.


Segundo Jeffery Lopez, da Organização Dtsö, o projeto da Diquis é antigo, mas, no passado, estava conectado com a expansão do sistema elétrico nacional. Só que agora, a proposta já não é gerar energia para os costarriquenhos, e sim para exportação. “Essa proposta tomou corpo nos anos 90, quando os países da América Central entraram num processo de abertura de suas economias. Foi o famigerado Plano Puebla/Panamá, inventado pelos Estados Unidos para garantir a livre circulação de mercadorias”. Dentro desse plano, que foi alavancado pelo preposto dos EUA na América baixa, o presidente Vicente Fox, do México, sob o comando do Banco Mundial, estava contido a proposta da construção de uma série de obras destinadas ao “desenvolvimento” da região, tais como estradas, oleodutos, gasodutos, portos, aeroportos e hidrelétricas. Também foi embutido o “amistoso” plano da construção de um sistema de integração energética. Na verdade, os Estados Unidos estavam cimentando a base de um corredor que poderá sugar a energia das águas da região amazônica, o petróleo mexicano, além do petróleo venezuelano e o gás boliviano.
É um gigantesco projeto, iniciado em 2002 e que segue seu curso, sem que as gentes se dêem conta do tamanho do estrago. Como as lutas dos povos acontecem de forma fragmentada, conforme vão sendo implementadas as obras, fica bem difícil enxergar o todo. Mas, com um pouco de paciência se pode ir montando o mosaico.

Hoje, está em andamento da América Central, com a participação de várias multinacionais europeias, a construção de uma linha de mais de 1800 quilômetros que atravessa todos os países até o México e dali outra linha segue para os Estados Unidos. Assim, além das barragens, também as torres de transmissão devem desalojar milhares de pessoas e provocar um verdadeiro desastre ambiental. Dessa interconexão elétrica também deverá fazer parte Belo Monte e todas as demais usinas que estão sendo construídas na Amazônia. Ou seja, o caminho está feito para que a energia gerada seja exportada para quem dela precisa: os Estados Unidos, seja no seu próprio território ou nos territórios onde vicejam suas grandes empresas (as sugadoras de energia).

No Brasil, esse processo começou praticamente no mesmo momento que o Plano Puebla Panamá (esse firmado em 2002). Foi durante o governo de Luís Inácio, que assumiu em 2003, e nominou de Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC, o ambicioso projeto de desenvolvimento baseado na construção de obras de infra-estrutura. Naqueles dias, a proposta do PAC apareceu para as gentes brasileiras como um esperado sonho de crescimento e fartura, mas com o andar da carruagem o que se viu foi o desenvolvimento da riqueza dos “de sempre”, sobrando para a maioria a fatura dos enormes custos sociais e ambientais. Como o dinheiro jorrou rápido, as obras foram sendo feitas às pressas, sem diálogo com as comunidades e muito menos sem o planejamento adequado.

As barragens estão nesse contexto do PAC, que é a versão brasileira da Iniciativa para a Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana (IIRSA), e o governo não pensa, nem por um segundo, estancar essa loucura de obras a qualquer custo. E aí é importante perceber que não se trata só de um desejo de crescimento do país, como afirmam Luís Inácio e Dilma, mas sim um plano meticulosamente traçado nas mesas do Banco Mundial, sob o olhar atendo do governo estadunidense. Basta observar que a IIRSA – que reúne 12 países da América do Sul num plano de “desenvolvimento” - é uma proposta nascida nos EUA, e financiada pelo Bando Interamericano de Desenvolvimento. Também vale destacar que a proposta de desenvolvimento embutida nesses projetos não gera nem nunca gerou melhorias reais para a vida das gentes.

Além da usina de Belo Monte (capaz de gerar 11 mil megawatts), que atualmente tem provocado bastante discussão, outro projeto grandioso é o das duas grandes barragens nas corredeiras de Santo Antônio e do Jirau, no Rio Madeira (6 mil megawatts), dentro do estado de Rondônia, Amazônia, que vai alagar 271 quilômetros e que está sob o controle da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, entre outras. Isso sem contar as outras barragens médias e pequenas (gerando de 3 mil a 200 megawatts cada uma), também planejadas para a região. São tantas que até um olhar ingênuo, de alguém não especialista em energia, pode suspeitar.

O argumento usado por aqueles que defendem as barragens é que esses megawatts todos são necessários para que não aconteça outro apagão como os dos anos de 2001 e 2002. Por isso acusam os que são contra de estarem impedindo o desenvolvimento do país. Mas, como precaução e caldo de galinha não prejudicam ninguém, é bom ficar de olho nesses argumentos e exigir a verdade. Quanto dessa energia será realmente usado no Brasil? Quanto será exportado? Quem é que verdadeiramente suga a energia? Essa pergunta precisa de uma resposta urgente e correta, pois é mais do que certo de que não é o consumo doméstico. Não seriam as grandes indústrias, que inclusive tem seus preços subsidiados? É o que diz o Movimento dos Atingidos pelas Barragens, tendo já provado isso nos estudos que realizou o ano passado para levar em frente uma campanha pela redução do custo da energia. Quanto maior o empreendimento, menor é o custo da energia. Os pobres são os que pagam mais. E quanto mais empobrecida a região, também mais cara a energia. Agora imaginem o que pode acontecer com todo o sistema privatizado? O certo é que lutar por justiça na distribuição e uso da energia não é ser contra o desenvolvimento, e sim contra o roubo.

Não bastasse todo o prejuízo que essas obras causarão ao meio ambiente, as comunidades indígenas estão sendo obrigadas a aceitar dinheiro como compensação pela perda dos territórios, mesmo dizendo não aos projetos. Isso vai contra a própria Constituição do país que determina a consulta aos povos sobre qualquer intervenção nas suas terras. Mas, nada detém os tratores nem os governantes. Ao que parece, nem o governo nem as empreiteiras estão preocupadas com as gentes ou os impactos ambientais até porque consultores pagos pelo Banco Mundial divulgam “estudos” alegando que não haverá qualquer problema. Ou seja, conluio total.


Por outro lado estudos feitos fora do âmbito oficial são pródigos em identificar problemas com relação ao processo migratório dos animais, extinção de peixes, impactos nas comunidades indígenas, escassez alimentaria, desestruturação comunitária, perda de identidade dos povos, perda da biodiversidade. Isso sem contar o desarranjo climático que todas essas intervenções poderão promover e que já se fazem sentir.

Boa parte dos especialistas em energia no Brasil insiste na defesa das obras, e considera ingênuas as propostas que já existem, de modernização do sistema existente, de ajuste nas perdas de transmissão ou da construção de alternativas ambiental e humanamente equilibradas.
Na verdade, corroboram a sangria de bilhões de dólares que serão entregues aos conglomerados da indústria da construção e o endividamento acelerado do país em nome de um “desenvolvimento” altamente duvidoso.

O fato é que as obras estão em andamento, a Amazônia está sendo recortada, devastada, inundada artificialmente e tudo isso para gerar riqueza bem longe daqui. O grito de luta que se ouve contra Belo Monte deve ecoar também nas demais localidades onde estão sendo construídas ou planejadas novas usinas e barragens. São muitas e fazem parte de um plano só. É hora de as gentes lutadoras, dos sindicatos, dos movimentos sociais, acordarem. Um pouco mais e será tarde. Essa não é uma luta só dos que serão atingidos territorialmente. Como o que acontece na Amazônia se reflete no resto do planeta, essa é uma luta de todos.


Veja nesse mapa interativo onde estão as obras de barragens, quem são as empresas que cuidam da destruição e os impactos humanos e ambientais que elas causarão.
www.dams-info.org

O site foi desenvolvido pela Fundação Proteger, da Argentina e pela International Rivers, dos Estados Unidos, contando com o apoio financeiro da ECOA, Brasil.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Diana e seus pincéis











A artista plástica Diana Román Durante, nascida na Espanha, mas transformada em campechiana pela vivência orgânica nesse bairro do sul da ilha, veio ao Brasil para um simples semestre na faculdade de cinema. Mas, com o passar dos dias, foi se encantando pela vida local, pelas lutas das gentes e, quando viu, estava envolvida até a medula nas batalhas pelo ambiente, pela mobilidade e o plano diretor. Um pouco mais e outras partes da América Latina também foram lhe tomando a alma. Foi a Cuba e trouxe de lá as cores, a alegria e a belezas daquele povo. Tudo isso virou imagem nas telas. E os quadros viraram exposição. Já mostrou seu trabalho na galeria do Rita Maria e em alguns bares na Lagoa.

No mês de dezembro foi chamada para uma tarefa de solidariedade. Dar vida a uma parede no Centro de Formação Olga Benário, em Catanduvas, oeste do estado de Santa Catarina. E lá se foi ela com suas tintas e pincéis. Durante uma semana constituiu com os integrantes do assentamento 25 de julho uma obra coletiva. E a parede carcomida e pálida virou um lindo mural.

Das mãos de todo mundo brotaram os sonhos de vida boa, milhos, girassóis e a figura bonita de Olga, a mulher que veio de longe para amar e lutar com os trabalhadores. Coordenados por Diana, cada um imprimiu sua marca e se fez artista, dentro desse espírito que anima o MST. Coisa feitas em comunhão.

Ao final, o Centro de Formação ficou mais bonito, colorido, alegre, bem como Diana ficou ainda mais impregnada da vida das gentes. E é, assim, com pequenas pinceladas de solidariedade, que o mundo vai ficando melhor.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Lá se foi o seu Chico



A tarde era de sol e abafada. Um dia triste. Encantava aquele que acordou o Campeche nos anos 80, para a alegria, para a política, para vida. Seu Chico. A praia era raiz, tinha pouco rauli e o que era um rancho de pesca virou um bar. Lugar de acolhimento, de sombra, de água fresca e de histórias. Quando ninguém na cidade abrigava o povo da esquerda era ali que se faziam reuniões e festas. Ali se conspirava e sonhava. A figura simples e direta do Seu Chico atuava como um regaço, onde as gentes que faziam a luta podiam descansar.

Chico era homem do mar, lançava o barco, puxava a rede, trazia o peixe. Foi assim que, junto com Eva, criou 16 filhos. E os criou gente de bem, de responsabilidade, de valentia. Um bom exemplo é o Lázaro, que até vereador foi, e como incomodou os poderosos. Deles vieram netos, bisnetos e tataranetos. Chico amava o mar do Campeche, as dunas, a restinga. Era deles seu primeiro sorriso, a cada manhã, quando vinha tomar o banho gelado que lhe dava vigor e saúde. Chico era doce como mel e seu sorriso derretia qualquer coração. Não tinham maiores ambições que a de criar os filhos, encaminhá-los e ficar ali, na beira do mar, vendo a vida passar.

Não foi sem razão que o pequeno cemitério do Campeche ficou repleto para a despedida. Chico encantou na tarde do dia 20 de dezembro depois de alguns dias lutando no hospital. O velho pescador tinha um câncer, mas, com certeza, a tristeza de ver o seu bar derrubado pelas máquinas da prefeitura lhe entristeceu demais os últimos dias. O bar era o seu mirante para o mar, lugar que não mais dominava no remo e na rede. O bar era seu refúgio. Não era dinheiro o que buscava ali. Tanto que a construção era simples, de madeira velha, bem raiz, como cabia ao Campeche. Não era um projeto capitalista. Era um espaço de aconchego e partilha. Ali se festejavam os carnavais, o natal, o ano-novo, os aniversários, qualquer coisa que alguém quisesse. Ainda assim as máquinas vieram...

As máquinas que nunca derrubaram a casa do Guga, nas dunas, nem o Costão do Santinho, onde veraneiam os ricos, ou os hotéis de luxo nas restingas. Não, apenas o bar do Chico era “ilegal”. Espaço histórico da comunidade: ilegal. Veio abaixo. Por birra, por vingança. No seu lugar tentaram erguer o deck de um condomínio. O povo revoltou: botou abaixo. Ainda assim, o bar do Chico não voltou e ele ficou mais triste.

Hoje, o dia abafado deu lugar à brisa suave, que começou a soprar na hora em que o frágil corpo do Chico descansava na beira do mar. Havia um cheiro de maresia, grito de pássaros e aquela aragem boa. A natureza oferecia o que de melhor tem para receber o amigo de tantos anos. O padre Vilson fez a missa, amarrou as palavras. A família se despediu, sem desespero, porque aquela era uma vida que tinha se cumprido em plenitude. Chico fez sua história, virou história. Morto que não morre, figura imortal. Como bem lembrou o Ataíde, surfista das antigas, em cada entardecer ainda se ouvirão as palavras do velho pescador a dizer: “ rapaze, rapaze, sai da água”.

Com o encantamento do seu Chico, o Campeche também encerra um ciclo. Hoje, o lugar bucólico onde ele fincou o seu bar já está invadido por condomínios, asfalto, grandes empreendimentos. Há luta, mas as máquinas parecem mais fortes. Resta aos novos moradores - nativos ou não – decidirem o que querem para suas vidas. Um lugar sem alma, sem identidade, poluído e intransitável ou um bairro jardim, de casas baixas, com cachorros, gatos e passarinhos, onde as pessoas se conhecem e se amparam? Muito já foi destruído, mas ainda há tempo de parar.

No silêncio da noite que se aproximava, parada na beira do mar, eu pedi ao meu deusinho que recebesse o seu Chico nos braços e que olhasse por nós aqui embaixo, no meio de tantos vilões, pelos quais, como ensinava Cruz e Souza, temos de ter ódio, ódio são, ódio que move. Na imensidão do céu do Campeche se foi o seu Chico, remando a canoa invisível. Vai em paz. companheiro, que aqui a gente continua. Tu cumpriste teu destino e o fizestes bem.

Bolívia vence o Mac Donalds

Veja por que a rede de restaurantes Mac Donalds faliu na Bolívia. É diferença de um povo que reverencia a Pachamama.

Governo catarinense fecha escolas em Florianópolis

Menino no Mont Serrat - foto de cizaniafilmes.blogspot.com


Uda Gonzaga tem 73 anos e sempre foi educadora. Formou-se no ano de 1963 e logo iniciou o trabalho de ensinar a criançada na sua comunidade, o Mont Serrat, no maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis. As poucas famílias que então lá viviam construíram, elas mesmas, duas pequenas salas, onde a gurizada aprendia as primeiras letras. O tempo passou, a comunidade cresceu e o governo acabou construindo mais duas salas na área da caixa d´água. Mais famílias chegaram e foi preciso alugar três casas para transformá-las em escola, até que as aulas passaram a ser dentro da Copa Lord, a escola de samba da comunidade. De novo as famílias se mobilizaram e o governo alugou outras casas, maiores, para abrigar os alunos. “Tudo sempre foi na luta, tudo sempre teve de ser arrancado”, diz Uda.

Mais tarde, a escola foi para a creche, que era um espaço maior, e logo em seguida para o terreno em frente à igreja. Havia aulas da primeira a quarta série e eram mais de 500 alunos, tudo registrado nos livros da escola. Foi só em 1978 que se construiu o prédio da que hoje é a Escola Lúcia do Livramento Mayvorne e ali as demais crianças do morro aprenderam a ler e escrever, sempre perto de casa e com o acompanhamento das famílias. São 49 anos de história e de muita batalha para que esse direito pudesse ser vivido.

Pois neste dia 20 de dezembro, alguns dias antes do Natal, o governo do Estado, comandado por Raimundo Colombo (PSD, ex-DEM), desativa a escola (com mais de 200 alunos) e repassa o prédio para uma congregação religiosa, a dos Maristas. A comunidade do Mont Serrat está chocada. Ninguém jamais poderia esperar algo assim. “A notícia chegou no dia 24 de novembro. O diretor estava na escola e recebeu um telefonema dizendo assim: já tens lugar para ficar? E ele ficou sem saber o que dizer. Não sabia de nada. Ninguém sequer avisou, ninguém veio falar com os professores, com os alunos, com a comunidade. Foi um choque”, conta dona Uda.

“Tiraram o nosso chão” diz a mais conhecida professora da comunidade. Ela já perdeu a conta de quantas vezes desceu o morro atrás das autoridades para que o Mont Serrat pudesse educar seus filhos. E toda a gente sabe que essa não é uma comunidade qualquer. É a mais tradicional de toda a ilha, berço do samba, espaço de incontáveis lutas. “Não é justo o governo fazer isso com a educação, leiloar, fazer um quem dá mais. Nós seguramos essa escola essas décadas todas, sem ajuda, sem apoio. E agora, eles entregam para a iniciativa privada. Quem não gostaria de ganhar um prédio daqueles? Estamos muito tristes. No próximo ano a escola completaria 50 anos. Não há palavras para descrever a dor”.

Mas não foi só no morro

A dor da dona Uda não é solitária na cidade. Desde o ano de 2007, o governo estadual fechou mais quatro escolas. A primeira foi a Antonieta de Barros, no centro da cidade, que tinha problemas estruturais, não foi consertada e jamais se devolveu à cidade, virou um almoxarifado da secretaria de educação. Abrigava mais de 252 alunos, a maioria oriunda dos morros da capital. Depois foi a Silveira de Souza, fundada em 1913, a segunda escola pública do estado de Santa Catarina, que funcionava num prédio belíssimo no centro. Ela foi municipalizada em 2009 sob a alegação de que tinha poucos alunos (224) e entregue à prefeitura que fez parceria com a iniciativa privada e transformou o lugar em espaço cultural. Em seguida fechou a Celso Ramos, no pé do Morro do Mocotó, outra comunidade tradicional da ilha. O prédio seria doado para a Assembleia Legislativa e só acabou se transformando em creche porque a comunidade empreendeu uma luta gigantesca para isso. E depois atacou a não menos tradicional comunidade da Coloninha, na área continental, fechando a história escola Otília Cruz, com o projeto de construir ali uma cadeia. E agora, isso, mais uma cartada, entregando a escola do Mont Serrat para os padres maristas.

Todos esses fatos não aconteceram sem luta. Entre os professores que levaram uma greve histórica esse ano, essa era uma denúncia recorrente, e a reabertura das escolas pauta de reivindicação. Mesmo assim, o governo permaneceu surdo. Os argumentos usados pelo governador são os mais absurdos possíveis. Segundo ele, as escolas foram fechadas porque havia muita evasão. Ora, mas por que acontece a evasão nas escolas das periferias? Qual estudo foi empreendido pelo estado para saber por que os jovens empobrecidos deixam a escola? Por que a secretaria de educação não realizou uma campanha de matrículas? Por que não foi conversar com os pais, com a comunidade? Não. Em vez de se preocupar em trazer de volta para a escola os jovens que evadem prefere fechá-las. Ou ainda melhor, entrega-las para as mãos privadas, repassando assim, sem maiores custos um patrimônio histórico, muitas vezes construído com as mãos, o sangue e o suor da comunidade.


O mais incrível nessa história de terror da educação catarinense é que o mesmo governo aprovou na Assembleia Legislativa uma verba de 360 milhões de reais para uso em propaganda em 2012. Isso significa o gasto de um milhão por dia para falar das belezas do governo, enquanto para a educação não há recursos. Também se sabe que dos 7% do PIB que deveriam ser investidos na educação, apenas 2,9% recebem esse destino, conforme lembra a dirigente do Sindicato dos Professores – regional de Florianópolis - Rosane de Souza. Segundo ela, o governo provocou a precarização das escolas e agora entrega aos privados, sem se importar com a juventude que fica ao deus dará. Ela acredita que a proposta de municipalização das escolas básicas deve piorar ainda mais a situação nas comunidades empobrecidas. “Se hoje apenas 18% das crianças da educação infantil são atendidas pelo município, e isso é um dado nacional, do IBGE, como vamos acreditar que o município vai dar conta da escola básica? Sabe-se que nas comunidades de baixa renda esse número cai ainda mais, fica em 11%. Então, qual será o futuro da educação”? Alguém tem alguma dúvida?

Segundo Rosane o fechamento da escola do Mont Serrat é mais um golpe na população catarinense. E mais ainda, um tremendo golpe nos professores. Imaginem um professor que atua há 20 anos numa escola, como é o caso de alguns na do Mont Serrat, ser, de repente enviado para outra escola, sem qualquer conversa, sem diálogo, sem preparação? “Todos os efetivos serão distribuídos pela rede e os contratados em caráter temporário, demitidos. E assim vai agindo o governo. Primeiro ele abandona as escolas, depois deixa às baratas e por fim, entrega para a inciativa privada”. Nessa lógica, que se danem os professores e que se danem as crianças.

Mas, o Sinte, sindicato dos professores, promete que essa não é uma guerra perdida. A luta vai continuar. Nesse final de ano a categoria ainda segue lambendo as feridas de uma longa greve travada para que o governador cumprisse a lei e pagasse o piso nacional. O movimento durou dois meses, foi desgastante e terminou sem maiores vitórias. Mas, com a retomada do ano letivo as privatizações de escolas estarão na pauta de luta. “Não estamos vencidos. Se o governo tem dinheiro para aplicar em propaganda e para financiar escolas privadas, haverá de ter dinheiro para recuperar as escolas e voltar a atender as comunidades que agora estão arrasadas com os fechamentos”.

Esse também é o sentimento das famílias do Mont Serrat, a quem está tocando agora esse momento de estupor. “Estamos no chão”, repete dona Uda. Mas, talvez, seja hora de levantar e lutar. A história da escola Lúcia do Livramento Mayvorne, que completaria 50 anos em 2012, não é coisa para ser derrubada assim, numa canetada. Ela é fruto da caminhada de toda uma comunidade e precisa ser respeitada.

Também é hora de a sociedade catarinense saber o que se passa, já que esses fechamentos saem na imprensa como drops informativos, sem contexto, sem histórias, sem humanidade. E assumir essa luta junto com as comunidades. Juventude precisa de educação, e educação de qualidade. Deixá-los fugir da escola, sem saber o que se passa, sem compreender esse movimento de evasão, fechando as escolas, é quase criminoso.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Resistindo à mais-valia ideológica

Diz o teórico venezuelano Ludovico Silva que a televisão é o lugar onde as pessoas entregam a sua mais valia-ideológica. Sentadas diante da tela, as pessoas, acreditando estar descansando ou fruindo, na verdade, seguem trabalhando para o capital, que os obriga a consumir e consumir. Como bem mostra essa propaganda do Itaú. Uma maravilha que usa a imagem de um rapper crítico (?) emociona e toca o coração da juventudo. Ao final, tudo o que ela quer é que a pessoa seja cliente de um banco, empresas que mais lucram no mundo.




O legal é que jovens há que entendem o papel da televisão, que percebem a manipulação, a violência da propaganda que se apropria do que há de mais belo em nós para nos fazer "sonhar", desde que o nosso sonho engorde suas contas bancárias. E jovens há que, em vez de pensar sobre os sonhos possíveis, começam a andar e abrir caminhos para que o sonho de emancipação e vida livre possa realmente ser real, sem Itaú e sem exploração. Foi o que fizeram os jvones do Levante Popular. Veja o vídeo resposta.



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Desejos de bom natal!


E então é natal. Aniversário do meu deusinho. Digo deusinho porque não lhe arrogo poderes sobrenaturais. O vejo assim, homem, cheio de dúvidas sobre seu destino, a clamar pelo pai na cruz. O vejo menino, a questionar as leis juntos aos velhos encarquilhados em certezas ultrapassadas e aprisionantes. O vejo jovem, a arrancar os outros de seu conforto, propondo a ilegalidade e a rebeldia. Gosto demais desse Jesus arrogante, a expulsar vendilhões do templo, denunciando-os e apontando-lhes o dedo. Encanto-me com o Jesus que se coloca diante do poder e, arriscando morrer, levanta a cara e diz: “assim o dissestes”. E se entrega ao juízo do povo, mesmo sabendo que esse mesmo povo que ele tanto amou, o vai abandonar, preferindo Barrabás. É esse guri que eu espero nas noites de natal. Aguardo, cheia de esperança, que ele renasça nos jovens que vejo andar por aí a fazer a luta, a questionar as leis, a apontar os vendilhões.

Sei que o natal é esse tempo ancestral, celebrado desde os tempos imemoriais por todas as culturas. O solstício de verão, o começo de nova estação. Sei que era nesse dezembro que as gentes de outros tempos dançavam sob o fogo, cantavam e esperavam que a vida revivesse e a roda do mundo seguisse seu curso no rumo do bem-virá. Gosto de me perder nessa esperança do povo andino, o Qhapac Rayme, e oferecer alimento a mãe-terra, Pachamama, confiando em suas bênçãos e na vida que brota. É alimento, e faz com que eu veja que as coisas sempre nascem, do nada, da dor, da desesperança, da desilusão. Há sempre um reviver.

Então, quando chega esses dias de natal, gosto de celebrar. Um pouco como as culturas antigas, um pouco como as da minha gente ancestral, mas, nascida e criada na herança cristã, também me apetece compartilhar com meu deusinho o dia do seu nascimento. Porque Jesus, como tantas outras divindades de tantas outras religiões, nasce no dezembro, perto do solstício, essa noite curta que promete vida, e nada mais.

Assim, este ano, no natal, vou adentrar a noite, farejando a vida. Que ela venha, pelas mãos dos velhos amigos, e na caminhada dos novos, que chegam agora e já se comprometem com tanta força. Espero-te meu deusinho, assim como espero todas as divinas criaturas capazes de brotar fogueiras em mim e em todos os que amo!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Em Florianópolis, aumenta o foco do Mosquito















Fotos: Rubens Lopes


São estranhas essas mortes que geram vida. Assim é com a do Mosquito. Quando vivo, sua forma de ser, polêmica, forte, desbocada, agressiva, chegou a afastar muita gente. Mas, agora, que ele encantou, surpreendentemente juntou criaturas de todos os matizes para reafirmar um compromisso de luta, que foi a sua essência. Isso foi o que se viu na sexta-feira, dia 16, bem em frente à Catedral.

A ideia de reunir os lutadores sociais para reiterar as denúncias feitas pelo Mosquito nasceu dentro do cemitério, enquanto o companheiro seguia para a última morada. Loureci Ribeiro, um histórico militante da reforma urbana nessa cidade, foi quem apontou esse caminho. Entendia que todo o trabalho pelo qual Mosquito deu a vida não poderia ficar no esquecimento. Então surgiu o mote do: “Prendam-me. Eu reafirmo as denúncias do Mosquito. O Dário é corrupto. O Marcondes é corrupto”. E tantos outros nominados pelo blogueiro. E as gentes foram para a rua.

A catedral foi escolhida porque bem ali se fortaleceu a militância do Mosquito, um dos integrantes da “Novembrada”, momento de rebeldia que ocorreu em Florianópolis contra o presidente João Figueiredo e que significou o início da derrocada do regime militar. A partir dali, Mosquito nunca mais parou de gritar. Era justo então que fosse o lugar da reação.

Na quentura da tarde dezembrina foram chegando os militantes. Gente das antigas, que andava sumida. Gente das lutas atuais, do Plano Diretos, das comunidades de ocupação, sindicalistas, estudantes, donas de casa, professores, gente de partido político, jornalistas, gente sem movimento, mas que conhecia e admirava a coragem do blogueiro, povo que vive na marginalidade do sistema, anônimos que encontravam no Mosquito o espaço para dizer sua voz. Gente como Nelson de Souza, um flanelinha da Beira Mar, que ali permaneceu durante todo o ato, emocionado. “Ele falava de gente como nós, que trabalha, que é digna, mas que a polícia vive oprimindo, como se a gente fosse bandido. A gente não é bandido, nem drogado. A gente é trabalhador. Isso é o que a gente pode fazer”.

E, enquanto os amigos e companheiros de luta iam se revezando ao microfone, dirigindo-se ao prefeito, em cujo prédio – bem em frente – poderia estar a ouvir, policias se postavam ostensivamente, junto aos manifestantes, intimidando. E não eram soldados comuns. Era o próprio comandante da PM de Florianópolis. O que fazia ali, durante aquele réquiem? Foi a advogada Rosângela de Souza quem respondeu, indignada. “Já não basta tudo o que foi feito? Ainda vêm aqui espionar? E ainda me chamaram de mal-educada. Eu já estou cansada de ser humilhada por essa polícia que prefere estar aqui, a vigiar gente de bem, em vez de prender os bandidos que o Mosquito denunciou”. Rosângela também foi presa durante a novembrada, se mantém amiga de Mosquito desde aqueles dias e é uma referência na luta social desta cidade. Mulher guerreira, defensora das gentes, muitas vezes é tratada como “louca” por não fazer o jogo dos poderosos.

Só que a presença da polícia não intimidou ninguém. Um a um os amigos e companheiros foram usando o microfone, dando nome e sobrenome daqueles que ajudar a matar o Mosquito, tais como Dário Berguer, Marcondes de Matos, Ideli Salvati, Márcio de Souza e tantos outros que entraram na justiça contra ele. “Toda essa gente é responsável, porque ajudou a inviabilizar a vida”. Também foram lembrados outros companheiros que enfrentam agressões e ameaças por estarem na luta pela cidade. Gente como o Azevedo Modesto e a Angela Liute, ambos da Ufeco, e o seu Nivaldo, da Vila do Arvoredo. “Temos de ficar juntos e proteger essas pessoas, porque eles estão brigando pela vida de todos nessa cidade”.

Florianópolis é um lugar que foi apropriado por uma quadrilha que compra licenças ambientais, que burla as leis, que destrói a natureza, que mistura o público com o privado, que privilegia amigos, que não encontra punição. E contra isso os movimentos sociais se insurgem, assumindo cada uma das denúncias alardeadas pelo Mosquito. Essa é meta agora, acompanhar e ir até o fim na apuração de cada uma delas. É um compromisso.

Mas, no meio da tristeza que foi perder um companheiro, também nasce a esperança. Principalmente por se perceber a presença de um número bem grande de jovens, dispostos a entrar de cabeça nessa luta por uma cidade boa e bonita para todos, e não só para alguns. Um exemplo disso são as Brigadas Populares, organização nova, movida por uma juventude rebelde, saída das fileiras da luta estudantil que, agora, fora da universidade, se volta para a cidade, se mistura às lutas do Plano Diretor, se compromete com as comunidades de ocupação e se enfileira com os velhos militantes de décadas. Um vento fresco, uma esperança, como que brotando dessa semente que se plantou no chão no triste 14 de dezembro. Olhando aquela gurizada, de olhos arregalados e coração aberto, a gente se sente mais segura para seguir em frente. Porque se um morre, brotam 10 no seu lugar. Como diz o velho poema: podem matar uma flor, mas não conseguirão deter a primavera.

Os vilões do amor andam felizes. Estão dormindo bem, pensam que se livraram do impertinente pernilongo. Bobinhos. Pelas veredas desta cidade bonita, avançam os lutadores, que cada dia são mais e mais. Aumenta o foco do mosquito. Hora dessas, a gente vence!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

As radicalidades de Nuestra América


O eurocentrismo é mesmo uma coisa difícil de ser superada num país como o nosso, em que as mentes parecem estar, na sua maioria, repetidamente cativas do velho mundo colonial. Uma palavra de um pensador europeu vale mais do que toda a prática de um povo, por exemplo. Observei isso hoje ao abrir as redes sociais e ver, reproduzido à exaustão, um texto do Boaventura Souza Santos sobre a necessidade de a esquerda refletir sobre os acontecimentos recentes como o dos indignados na Espanha e o dos estadunidenses na Wall Street. No texto, o sociólogo português elabora uma boa análise sobre a incapacidade da esquerda de fazer uma ofensiva sobre o sistema, atuando sempre na reação, e também sobre a eterna divisão da qual é acometida sempre que assume o poder. A dança das cadeiras por cargos, a busca da perpetuação nos postos de mando.

Boaventura traz um pouco da história das velhas bandeiras da esquerda e mostra o quanto as esquerdas que atuam nos novos movimentos na Europa e na zona do império (EUA) estão sendo incapazes de dialogar com os não-militantes, no sentido de permitir que eles se apropriem desse debate histórico e dessas bandeiras. Souza Santos consegue perceber bem os desafios da esquerda européia, que parece um tanto perdida no turbilhão de “democracia” que se apresenta de forma radical nas assembléias dos “indignados”. E ele está certo. Tanto na Grécia quanto na Espanha, onde estive acompanhando esses movimentos, era possível perceber que o que aparece como um monólito nas imagens de TV (o povo em luta) apresenta muitas fragilidades, justamente por conta da incapacidade das esquerdas em fazer a unidade na luta. Na Grécia, sindicatos e partidos – os que atuam dentro de um objetivo calculado - fazem manifestações em separado, peleiam por detalhes e muitas vezes deixam as gentes em desamparo, porque muitos não conseguem entender o teor das divisões. Na Espanha observei o mesmo fenômeno. Determinadas organizações preparam marchas em separado e igualmente se afastam das maiorias, que muitas vezes estão nas ruas por pura indignação mesmo, carentes de uma explicação do mundo.

Mas, o que me chamou a atenção no texto do Boaventura e o que me parece foi o estopim para tantas pessoas o terem replicado, foi o fato de ele apresentar como novidade os processos de democracia – que ele chama de alta-intensidade – que se observam no interior dos movimentos. E aí sim fico pensando na incapacidade de nossos intelectuais de pensarem o mundo como totalidade. Porque, afinal, a vida não tem sua fonte original nas terras européias, ela também se expressa em outros espaços geográficos, às vezes com muito mais originalidade. Então proponho algumas indagações aos companheiros que pensam a vida.

Não seria de alta-intensidade a democracia que sobrevive em Cuba, por exemplo - apesar do criminoso bloqueio comercial - com um processo de ampla participação popular que começa na rua de casa? E que depois se espraia nas assembléias por bairros e por municípios? Coisa que já dura aí mais de 50 anos! Não seria também de alta-intensidade a democracia que vive nas comunidades zapatistas, no meio da selva chiapaneca, onde as comunidades discutem à exaustão os temas que envolvem a reprodução de suas vidas e só tomam uma decisão quando todos concordam? E o que dizer da democracia participativa inaugurada pelo povo venezuelano a partir de 1998, com a formação de missões, conselhos e uma rica vida política de intervenção direta? Não seria de alta-intensidade a organização comunal dos ayllus, na Bolívia, em que as questões são decididas em conselhos abertos da comunidade? Ou as rodas comunitárias dos indígenas do Equador, do Chile, da Argentina, do Brasil?

Esses são apenas alguns exemplos sobre como nessa nossa parte de chão também vicejam experiências inovadoras e originais, de democracia direta e participativa, talvez até em maior grau do que as que se observam nos movimentos rebeldes europeus? E não seria bom que nós, que vivemos de pensar o mundo, nos debruçássemos sobre essas vivências, para melhor compreender as possibilidades que elas oferecem? Nada contra as reflexões de Boaventura, ele tem mais que pensar e refletir o seu universo, e o faz muito bem. Ele inclusive aponta um elemento que pode ser revestido de caráter universal, que é o da necessidade de as esquerdas estudarem mais a realidade, a sua realidade.

O que tento fazer, desde aqui deste meu pequeno pedaço de Abya Yala, é propor a descolonização do pensamento. Que possamos, até convidados por Boaventura, perceber as originalidades que vicejam aqui mesmo, ao nosso redor, nessa terra cheia de possibilidades. O capitalismo faz água, está em processo de queda e como já anuncia outro teórico – do mundo árabe – Samir Amin, nos processos de queda de impérios e de mudança de temperatura do mundo é sempre a periferia do sistema aquela que tem as melhores chances de arrancar para algo radicalmente novo. Eu percebo que o novo sempre esteve aqui. Falta ser visto, observado com mais cuidado e incorporado às nossas análises da realidade.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A luta segue: pela abertura dos arquivos da ditadura!

Entrevista com a guerreira catarinense na luta pelos Direitos Humanos, Derlei de Luca, durante o ato em Florianópolis, neste dia 14 de dezembro, pelo abertura dos arquivos e pela verdade sobre o regime militar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sem adeus, Mosquito... Tu vives...

Ali estávamos os dois, frente a frente. Eu, arrasada. Ele, abatido, no caixão. Lembrei-me de uma de nossas últimas conversas quando ele dizia, naquele jeito atabalhoado e gritão: “a solidão é foda, Elaine Tavares”. E ele falava da solidão que a pessoa fica quando se decide a andar na contramão. Quando tudo aponta para que a criatura aceite as coisas, não esbraveje, não enxergue, não reivindique, não se indigne – e ela insiste em não fazer parte do cordão dos escravos de Jó. Aí ela fica sozinha. A pessoa assume o status de “leproso social”. Era como ele se sentia. “Abandonam a gente”. Alguma coisa assim como a imagem dada por um poeta, do qual não lembro o nome: numa terra de fugitivos, quem fica é que parece estar fugindo.


Amilton Alexandre, o Mosquito era assim. Ele podia ter fugido para o mundo farto dos que se rendem ao sistema. Mas não, ele preferiu ficar do lado das gentes, do lado da cidade, das maiorias. Pagou alto preço por isso. E era uma dessas pessoas que não passam incólumes. Espalhafatoso, agitado, resmungão, inconveniente, excessivo. Tudo isso, é certo! Mas também era meigo, generoso, brincalhão, quase um menino, como lembrou hoje a Raquel Wandelli. Nietszche o descreve. “O super-homem é criança”. Assim, o Mosquito.


A primeira vez que o vi, não gostei dele. Era carnaval e ele comandava a folia no seu mítico bar, o Havana, reduto da cultura e da política no Desterro. Falava aos berros, xingava, esculhambava todo mundo. Eu, outra insuportável, torci o nariz. Mas, minha amiga Rose Laurindo, que é a generosidade em pessoa me dizia: “Ele é gente boa”. Fui acreditando. O tempo passou e comecei a gostar daquele homem amalucado que sonhava com uma cidade cheia de cultura, de coisas boas, de gente de bem. Com o fim do bar, o Mosquito sumiu. Mas, vez ou outra, quando acontecia alguma coisa muito escabrosa na cidade ele ligava, ou gritava da janela de um ônibus: “Elaine Tavares, tem que falar sobre isso, sobre aquilo”. Muitas das minhas pautas nasceram daquele olhar insistente que ele lançava sobre a vida da cidade. Era um repórter, dos bons.


E essa era outra de suas broncas. Ele se acreditava jornalista e queria o registro. Tivemos algumas conversas sobre isso, já que eu defendia o diploma. Tentava mostrar para ele que a questão do fim da exigência do diploma era coisa dos patrões, para explorar mais e melhor os trabalhadores, mas ele não se conformava. E mandava todos os sindicalistas “tomar no c” ... A gente ria. E eu o confirmava, dizendo que ele era mais jornalista do que uma multidão de formados. Ele ficava feliz. Gostava de ser elogiado.


Então, com o advento da tecnologia, a internet, o blog, ele pode dar vazão àquilo tudo que só esbravejava pelas ruas, nos bares, no mercado. E o seu blog “Tijoladas do Mosquito” passou a pautar a vida e a política da cidade e do estado. Mosquito matava a cobra e mostrava o pau. Dizia as denúncias com todas as letras. “Ele era muito excessivo”, dizem alguns. Excessivo? Excessivos são os filhos de uma aberração que destroem a cidade, o estado, a natureza, as gentes. Excessivos são os empresários corruptos, os devastadores de praias, os que usam da justiça para proteger os ricos, os políticos ladrões. Esses são os “excessivos”, e Mosquito os nomeava, com nome, sobrenome e CPF, acompanhado de um monte de outros adjetivos de baixo calão. Tão baixo quanto os crimes que as figuras cometem. Ainda que freqüentem os salões.


Mosquito amava a cidade. Cuidava dela como uma mãe extremada vigia seus filhotes. Era comum encontrá-lo pelo terminal urbano, tarde da noite, com seu computador levantado, mostrando alguma barbaridade. Ou então pelas ruas da cidade, registrando as falcatruas e os abusos. Ele era o vigia da beleza, do bem viver. Queria que a cidade fosse para todos e não só para alguns e não poupava os vilões e os vendilhões. Por isso, acumulou processos. Dizia o que nenhum jornalista diplomado jamais disse. Mostrava os documentos, provava.


Nas últimas semanas estava arrasado. Sem trabalho, sem dinheiro, sem o respeito dos seus colegas, ele se debatia em meio a uma série de ameaças de morte e de prisão. Não aceitava ser condenado numa ação do Marcondes de Mattos, por exemplo, que destruiu o Santinho para colocar lá um hotel cinco estrelas para usufruto só dos ricos. Na sua ingênua bondade, ele acreditava que a justiça não iria lhe dar esse golpe. Mas ela deu. Porque a justiça está quase sempre com os poderosos. Queria um emprego, o Mosquito. Mas não encontrava quem desse. Ele era um incômodo. Da sua boca poderia sair a vociferação contra qualquer um, desde que esse um fizesse alguma merda contra a cidade, contra as gentes.


Hoje, ali, na pequena capela, os amigos foram chegando. E das suas bocas saíram as palavras mais belas. “Guerreiro, lutador, generoso, criança, defensor da cidade, apaixonado por Florianópolis, carinhoso, amigo, implacável contra a injustiça”. Cada uma delas foi tecendo a fala do Padre Vilson, que montou um mosaico dessa criatura cheia de contradições, mas igualmente repleta de maravilhas. Um ser humano, de sombra e luz! E, inacreditavelmente, Mosquito permanecia quieto. Fiquei a imaginar se numa outra dimensão ele não estaria aos gritos, vociferando.


Mosquito foi embora numa tarde temporal. A velha Desterro se derretia em água e relâmpagos. Foi a “hora noa” (hora da agonia) do guerreiro jornalista. Não sabemos ainda se alguém o matou. Pode ser que ele tenha se desencantado tanto com as ações, as ameaças de morte, de prisão, o fim do blog, a falta de perspectiva de futuro e tenha decidido partir. Se foi assim, certamente seu gesto foi a definitiva banana para os seus inimigos. Ninguém iria se deliciar sobre seu despojo. O grande urso, o menino indignado, o valente boca-suja deixa a vida. Mas a vida não o deixará. Amilton Alexandre, o Mosquito, é história! Não só por ter vivido a novembrada, pelo Havana Bar, pelos seus gritos de aviso, mas pelo seu amor incondicional pela cidade, pela cultura, pela justiça. E, enquanto o corpo que o abrigava baixa ao chão eu já o imagino, vivo, articulando junto a São Pedro, alguma confusão no céu... Quem sabe um bar?... Ou um cinema? Talvez um carnaval...

Mataram o Mosquito


Faço minhas essas palavras do Loureci Ribeiro que seguem abaixo. Independentemente do que for apurado, e vamos acompanhar, mataram o Mosquito.


Esta mensagem não trata-se de uma homenagem ao Hamilton Alexandre, popular blogueiro do Tijoladas do Mosquito, integrante da Novembrada de 1979, um legítimo companheiro dos contras. Todos sabemos que Mosquito não queria homenagens, mas sim manifestações contra, por isso suas tijoladas eram contra: Contra à Corrupção; Contra a Privatização e Destruição do Patrimônio Público; Contra a Destruição da Natureza; Contra a Falta de Ética na Política; Contra o Pensamento Único! Por isso esta mensagem é uma simples...Tijolada, Manifesto e Denúncia Públicadas perseguições e da morte anunciada pela própria vitima!

Vejam o que Hamilton Alexandre/Mosquito escreveu a menos de duas semanas atrás:“O blog Tijoladas acabou para eu continuar vivo. Não é uma capitulação. Não mudei meu modo de pensar. Não mudei minhas convicções.” Informação postada no seu Blog, no dia 30 de novembro de 2011; “Estou com medo da justiça de Santa Catarina.” e “Promotor pede minha prisão em flagrante em audiência na 3ª vara criminal da Capital e juiza decreta a mesma.” Postadas no dia 28 de novembro de 2011.

Todos na região sabíamos das denuncias envolvendo LHS, Marcondes de Matos, a família Sirotski, Berger e Pavan, os recentes escândalos da ALESC, da AFLOV, os episódios da Hantei/Ponta do Coral, das Eleições da UFSC... Todos sabíamos das perseguições e da morte acima anunciada: sabiam os pauteiros dos jornalecos e jornalões; sabiam os blogueiros, ancoras e os bocas-pagas de plantão; sabiam os empreiteiros, vereadores, prefeitos, governador e deputados da região; sabia o padre, o pastor, o pai de santo, o delegado, o promotor e seu patrão; sabiam também as prostitutas e seus clientes de contramão; sabia até a justiça que cega nossa razão; mas antes sabiam e assim queriam muitas “vitimas de suas tijoladas sem compaixão”, pois este mosquito abnegado ainda picaria mais de um milhão, por isso era sabido que os coveiros lhe espreitavam nos fóruns, nas galerias e multidão, mas covardemente montaram e criaram as condições para a cena sórdida da solidão, sem testemunho aos seus últimos suspiros de resistência e indignação, para assim confundir a opinião do povo e esconder o verdadeiro motivo da linchação pública que vinha sofrendo, onde este homicídio monstruoso suicídio-enganação, é parte ativa da covardia de quem criminaliza e rotula de radical o desejo pleno de querer ser cidadão.

Por estes fatos, agora sobre estas cabeças recaem nosso desejo de justiça na apuração exemplar deste caso concreto, neste cenário de terror psico-social e ódio que estão submetidos os movimentos sociais e apoiadores na região. Nem uma família poderá dormir sossegada sem que se exponham todas as versões e fatos desta morte anunciada!

Mataram o Mosquito, mas saibam que seu legado segue vivo nos demais militantes sociais, homens e mulheres livres, jovens e idosos esperançosos de justiça, fraternidade e união dos excluídos. EM DEFESA DA VIDA DIGNA E DA CIDANANIA PLENA!! NÃO À IDEOLOGIA DO TERROR E AO TERROR COMO IDEOLOGIA!!-

A quem interessa a criminalização dos movimentos e de lideranças populares e sindicais?- A quem interessa o monopólio da mídia e da crítica jornalistica?- A quem interessa os profetas do pensamento único, redatores, colunistas e jornalistas maniqueístas que propagandeiam e rotulam que tudo que não é do desejo de seu patrão e anunciante, é contra aos interesses públicos?

Até onde essa prática ante democrática destes senhores não criaram e contribuíram para o cenário desta violência e morte do Hamilton Alexandre/Mosquito?

ATÉ QUANDO VAMOS ESPERAR QUE AS COISAS MUDEM? Basta, queremos justiça! Apuração profunda e cautelosa, por isso se exige que nada poderá ser precipitado neste processo de investigação, das causas e circunstancias políticas e sociais, que culminaram com a morte de Hamilton Alexandre, destemido militante social e homem público, personagem da política regional e promotor de sérias denuncias de corrupção ativa e passivas de agentes públicos e privados!!

Chega de Criminalização dos Movimentos!Florianópolis,

13 de Dezembro de 2011

Saudações democráticas aos homens e mulheres livres e defensores do direito à vida plena para todos e todas!arquiteto

Ci Ribeiro – militante da reforma urbanamembro da Camara Setorial de Meio Ambiente e Saneamento do FORUM DA CIDADE

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Grave denúncia do Mosal - Contaminação na Lagoa do Peri


Por: Mosal - Movimento Saneamento Alternativo

Oito tonéis de 200 litros, embalagens de ácido acrílico glacial, produzidos na China, comprados de um "reciclador" em Palhoça pelo concessionário dos pedalinhos da Lagoa do Peri, entraram no Parque Municipal, com a finalidade de servir de estrutura para um pier flutuante.

Ao meio dia deste domingo, o empreendedor do pedalinho começou uma "lavagem" de um dos tonéis na torneira externa do vestiário localizado a 50m da margem da lagoa ao lado de uma das inúmeras churrasqueiras ali instaladas.Já na abertura do tonel um forte cheiro de produto químico foi sentido por parte dos frequentadores ao lado do vestiário e quando em contato com a água, o cheiro se espalhou rapidamente por uma enorme área contígua. Parte da água contaminada foi jogada dentro do tanque, cujo destino é uma fossa séptica nas proximidades, e a outra parte foi jogada na areia ao lado do tanque cobrindo uma área de aproximadamente 10 metros quadrados.

Alarmados pelo forte cheiro, alguns frequentadores mais antenados dirigiram-se ao rapaz inquirindo-o sobre o que se tratava e receberam a resposta de que "estava lavando os tonéis para usá-los como bóias na lagoa". Este, por sua vez, já começou a se sentir mal com o forte cheiro intoxicante dos gases gerados pela lavagem. Imediatamente alguns frequentadores foram em busca do fiscal da FLORAM, que encontrava-se distante do local, ocupado em barrar a entrada de bolas de crianças no parque. Percebendo a enrascada em que se metera, o empreendedor do pedalinho tentou fugir do local, mas foi detido pelos frequentadores que também chamaram a polícia, a Defesa Civil e os Bombeiros.

Para surpresa dos denunciantes houve relutância das autoridades em admitir a gravidade da situação, fato que gerou revolta por parte dos mesmos e, somente então, a polícia foi acionada e chegou ao local preocupada com o tumulto, e não com a contaminação gerada. Somente a área à volta do tanque de lavagem foi isolada pela polícia e 4 carrinhos de areia foram espalhados para minimizar o efeito dos gases, que, 5 horas após o evento, ainda empesteavam o ar do parque. O empreendedor foi autuado mas, pasmem, o parque NÃO FOI INTERDITADO, mesmo diante da exposição aos gases e do inevitável risco de intoxicação. Assim, desde o ocorrido até o fechamento do parque no domingo, crianças brincavam ao lado da área isolada por uma fita de plástico, expostas ao forte cheiro químico, sem que vingásse o bom senso.

DA RESPONSABILIDADE DA FLORAM

1- Como é que foi permitida, ou "passou desapercebida", a entrada de OITO TONÉIS de 200 litros cada, de embalagem altamente tóxica, conforme indicam os dizeres gravados nos mesmos, em um parque municipal, sede de fiscalização da FLORAM ???

2- Como é possível se permitir a construção de um trapiche flutuante para servir de plataforma de embarque e desembarque dos pedalinhos, quando é proibida qualquer tipo de estrutura semelhante para barcos a vela e similares em toda a orla da lagoa ???

DA RESPONSABILIDADE DA CASAN

3- Sendo a Lagoa do Peri um manancial do qual se retira água potável para abastecer 150.000 pessoas de todo sul da ilha até a Barra da Lagoa - o Sistema Costa Leste, como admitir que a CASAN esteja ausente do controle sobre os materiais que adentram ao parque, seja para uso dos frequentadores, seja para construção de estruturas ???

DA RESPONSABILIDADE DA DEFESA CIVIL

4- Como admitir o NÃO FECHAMENTO DO PARQUE depois do ocorrido, permitindo a presença de frequentadores nas proximidades do local, dentre os quais um sem número de crianças, muito mais suscetíveis à intoxicação por inalação de gases tóxicos ???

DA RESPONSABILIDADE DA EMPRESA QUE COMERCIALIZOU OS TONÉIS EM PALHOÇA

5- Como é possível que uma empresa comercialize tonéis que continham produtos altamente tóxicos, ao invés de os mesmos serem encaminhados de volta ao fabricante chinês, conforme atesta sua origem ??? A legislação pertinente ao destino das embalagens de produtos tóxicos (agrotóxicos e demais componentes utilizados na indústria química) obriga o usuário a encaminhar de volta ao fabricante, que, por sua vez, tem a obrigação de recebê-las e lhes dar o destino correto. A pergunta que surge, por óbvia e lógica, é como uma empresa comercializa (esta situada em Palhoça) embalagens de produtos tóxicos cuja procedência é ilegal e sequer deveria acontecer.

As autoridade dos órgãos ambientais e de fiscalização tem que responder por tudo isso !!! Não será o guarda do parque, por pressuposto.Só falta alguém dizer que estamos sendo "alarmistas" ou "ecochatos".

Ficha de Informações de Segurança do Produto Químico - Dow Brasil Sudeste Industrial Ltda.
Cor: incolor
Estado físico: líquido
Odor: Ácidos
Perigos do produto:PERIGO! Líquido e vapor combustíveis. Causa queimaduras graves nos olhos. Causa queimaduras graves na pele. Causa irritação nos olhos. Nocivo se absorvidopela pele. Nocivo se inalado, pode causar lesões aos pulmões Causa irritação nasvias respiratórias superiores. Nocivo se ingerido. A aspiração deste produto é perigosa. O produto pode penetrar nos pulmões e causar danos. Perigo de explosãodo vapor. Os vapores podem viajar uma longa distância; pode ocorrer ignição e/ou ignição de volta. Evacue a área. Posicionar-se tendo o vento pelas costas quando houver vazamento. Mantenha distância de áreas baixas. Temperaturas elevadaspodem causar polimerização perigosa. Elimine as fontes de ignição. Evitetemperaturas acima de 25°C (77°F) Evite temperaturas abaixo 15°C (59°F)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Um mundo ecologicamente orientado




Gert Shinke é um homem que incomoda e desaloja certezas. Ele mexe com os paradigmas, aponta o dedo e exige mudanças. Ecologista, eco-bom, eco-protetor. Não quer nem ouvir falar de “desenvolvimento sustentável”, pois sabe muito bem que isso é maquiagem do capitalismo, que busca se enfeitar para enganar os trouxas. Não há sustentabilidade num processo de especulação, busca do lucro, exploração. Então ele apresenta novos conceitos, provoca viragens. “A única saída é um desenvolvimento ecologicamente orientado. Um modo de vida que não leve o mundo à destruição, que retome o equilíbrio com a natureza”, diz. E insiste que isso é possível.

Tem um bocado de gente que não gosta do Gert. Alguns “acusam” ele de querer ser vereador. Daí andar por aí com sua indefectível camisa amarela vociferando contra os vilões que depredam a natureza. Eu gosto dele, e gosto que ele queira ser vereador. Porque é bom que a gente tenha gente assim, honesta, verdadeira, que diz o que quer ser e o que quer fazer, às claras, sem véus.

Ontem, ouvindo-o falar sobre esse modelo de desenvolvimento ecologicamente sustentável, lembrei uma cena da minha infância que há muito me havia fugido das retinas. Eu morava em São Borja, na beira do rio Uruguai e era comum, quando chovia muito, a gente sair de casa, indo para o Paso – bairro que ficava na beira do rio – para ver a enchente. E o incrível era que a enchente não era coisa ruim. Ela era hora de benção. As casas se erguiam na margem do rio em palafitas e raramente eram atingidas. O povo conhecia o rio, sabia dos seus maneios, como uma mulher que sabe do corpo de seu amado. Os balseiros iniciavam o transporte da madeira, aproveitando a correnteza, os guriatãs saltavam na água desde as casas e os homens jogavam a rede para pegar os dourados. Era um frenesi.

Nós, os que morávamos longe do rio, sempre fazíamos essa visita. Como se fosse um ritual. E meus olhos de criança se embriagavam do movimento das gentes, das balsas, do contrabando. Acho que foi aí que comecei a gostar de contar histórias. Aquela gente vivia em harmonia com o rio. Cada passo das suas vidas era ecologicamente orientado. Não havia surpresas nem desastres. E quando o rio baixava ainda fertilizava a terra para o plantio da mandioca.
Então eu penso, se houve um tempo em que a gente escutava a natureza, isso significa que podemos retomar. Há esperanças...

Lá no Rio Grande há uma música, inesquecível, a qual conta esse momento único da vida dos que nasceram na barranca do Uruguai. Divido com vocês o grande Noel Guarany... Balseiros do Rio Uruguai...




A luta pela moradia em Florianópolis

Vila do Arvoredo


É dia de domingo na ilha de Santa Catarina. O sol está a pino e as praias estão cheias. Pela orla do mar circula uma gente bronzeada que chega de carro, joga frescobol e toma água de coco. Os hoteleiros celebram o início da temporada que promete trazer um milhão de pessoas para Florianópolis. Tudo está bem! De fato, essa é uma realidade que se aplica a alguns, mas gente há que, mesmo morando no “paraíso”, não consegue desfrutar da cidade. São as centenas de famílias que vivem hoje nas 64 comunidades de periferia do município. Nelas, 41% carecem de água, 80% não têm esgoto, 21% não têm luz, 5% sequer possuem banheiro dentro de casa e 21% não recebem coleta de lixo. Em pelo menos três delas, quase 300 famílias vivem a ameaça de remoção imediata (Vila do Arvoredo, Morro do Mosquito e Ponta do Leal) e em cada uma há gente que precisa sair, seja por estar em encosta de morro ou próxima a zona de alagamento. Esse é um tema que ninguém vê no jornal da noite da TV ou nos diários monopolizados pela RBS, porque essa gente que vive o drama do despejo e da moradia precária parece ser invisível ao poder.

Segundo dados da própria prefeitura a cidade tem um déficit habitacional de dez mil unidades. Um número pequeno, fácil de ser equacionado, se houvesse decisão política. Mas, no geral, as soluções dadas aos pobres sempre é de afastamento do centro urbano. Ficar na periferia sem “incomodar” a beleza do núcleo central é até possível, mas querer viver em lugares como na Praia dos Ingleses (como é o caso da Vila do Arvoredo) aí já é demais né? Ou então ficar na Beira Mar como os moradores da Vila Santa Rosa. Como é que a especulação imobiliária vai viver? O certo é que na cidade de Florianópolis, onde os setores de serviços e do funcionalismo público são as estrelas, é o setor imobiliário que comanda o trem do “desenvolvimento”. Não é sem razão que nos últimos anos abundam os condomínios na beira das praias, destruindo dunas, vegetação e fauna. Um caso bem recente é o do Campeche, onde o rebaixamento do lençol freático por parte de uma empreiteira levou a comunidade a uma série de protestos. As construções arrasam tudo por onde passam, oferecendo uma natureza que deixa de existir depois de terminada a obra. São os paradoxos. Mas, os endinheirados que compram o sonho do apartamento em frente ao mar não se importam muito com isso.

Um passado de luta

A cidade de Florianópolis era um espaço pequeno e provinciano com uma sociedade bem demarcada. Os mais ricos viviam na área central, os pescadores ocupavam as praias e os empobrecidos se penduravam nas encostas que compõe o maciço do Morro da Cruz. Isso foi assim até o final dos anos 70 quando começou uma grande onda de migração. Era tanta gente que chegava que foi criado um Centro de Apoio e Promoção do Migrante, dirigido pelo padre Vilson Groh, visando dar suporte às famílias que faziam a seu êxodo do campo para o sonho de uma vida melhor na cidade. Mas, viver no litoral não era coisa fácil. A terra sempre foi uma espécie de luxo, possível só para alguns, e essa gente que chegava aos milhares não tinha alternativa a não ser ocupar os espaços ociosos e vazios. No início dos anos 80 o processo acelerou e foi com ocupações que nasceram as comunidades Chico Mendes, Vila Aparecida, Novo Horizonte, Monte Cristo e tantas outras que foram se erguendo pela força do braço das gentes, a despeito do horror dos empresários e das elites locais.

Quem não se lembra das dezenas de casebres que se erguiam a cada dia ao longo das margens da Via Expressa? Pois todos eles foram derrubados no governo de Espiridião Amin/Bulcão Viana (1989 a 1993). Não sai das retinas a expressão da dor daqueles que perdiam tudo o que tinham, e que era tão pouco. A proposta de Amin tinha sido de removê-los para Palhoça, mas aquela era uma gente que vivia do trabalho que fazia na zona central: catadores, faxineiras, jardineiros. Assim, não aceitaram e foram esmagados. Naqueles dias, essa luta travada pelo direito de morar fez nascer um número muito expressivo de lideranças populares que deram outra cara a vida política da cidade. Não foram poucas as marchas, as ocupações da Prefeitura, da Câmara de Vereadores. Foi quando nasceu o Centro de Educação e Evangelização Popular (Cedep), também dirigido pelo Padre Vilson, com o propósito de auxiliar na organização da luta popular. E, assim, na batalha direta, as famílias foram garantindo o direito de permanecer nos terrenos, de receber água e luz. Mas não foi coisa fácil.

O governo da Frente Popular, comandado por Sérgio Grando e Afrânio Bopré (1993 a 1997), que sucedeu a Espiridião Amin, foi muito importante no processo de regularização das comunidades bem como na organização popular. Implantando o orçamento participativo na cidade, o governo da Frente Popular mergulhou nos bairros, na periferia, nas comunidades de ocupação e potencializou a ação das lideranças que se formavam durante o processo. Esse foi um período muito rico de organização e luta popular em Florianópolis.

Mas, se nos primeiros anos da década de 90 a cidade se organizou na periferia, a migração começou a diminuir. O governo que sucedeu a Frente Popular, com Angela Amin, (1997 a 2004), encontrou outra forma bem peculiar de estancar a vinda de famílias de outras regiões do estado. Fiscais barravam os migrantes diretamente na rodoviária, impedindo que chegassem à ilha e devolvendo para o local de origem. Esse mesmo governo também começou um processo de “limpeza” da cidade, que dava seus primeiros passos para o modelo de cidade-empresa. Houve um ataque sistemático aos moradores de rua, que começou com o fechamento de um albergue que funcionava bem no centro, na Rua dos Ilhéus. Sem aquele ponto de apoio os moradores de rua foram “convidados” a sair da cidade. Alguns deles apareceram mortos e os crimes nunca foram esclarecidos. Outros sumiram misteriosamente e nunca mais foram vistos. Os artesão e hippies que tradicionalmente ocuparam a Praça XV foram expulsos numa violenta ação policial. Acabava a era dos pobres ocupando a cidade. A partir de então, teria início outra proposta de governabilidade: a gestão, bem ao gosto da inciativa privada.

Mobilidade

Foi também durante o governo de Angela Amin que teve início o processo de transporte integrado que hoje inferniza a vida daqueles que usam o transporte coletivo. A ideia de constituir um sistema de integração do transporte nasceu no governo da Frente Popular, liderado por Sérgio Grando, mas a implantação foi no mandato de Angela. A criação de uma série de terminais, supostamente de integração, aumentou o tempo das pessoas dentro dos ônibus, fazendo com que o deslocamento de um bairro até o centro passasse a ser uma odisseia. O que deveria ser para melhorar a mobilidade só piorou e provocou a segregação. A coisa chegou a tal ponto que, no final do mandato, a prefeita teve de enfrentar a primeira Revolta da Catraca, quando anunciou um aumento nas tarifas de um transporte que era muito ruim. A população, enfurecida, parou os terminais num movimento espontâneo que, mais tarde, liderado pelos estudantes secundaristas, chegou a levar mais de 15 mil pessoas para as ruas, garantindo o rebaixamento do preço.

E foi justamente ancorado num discurso contra o sistema integrado e prometendo mudanças radicais que um candidato completamente fora do circuito de poder das tradicionais famílias políticas de Florianópolis, Dario Berguer, conseguiu vencer as eleições em 2004. Mas, ao contrário do que prometera, seguiu aprofundando a segregação das gentes no acesso a cidade. O transporte coletivo serve apenas para levar os trabalhadores ao local de trabalho, tornando inviável a mobilidade em outros momentos da vida. Para se ter uma ideia, tomar um ônibus num dia de domingo é tarefa para um santo. Uma pessoa pode levar um dia inteiro para se deslocar do norte da ilha até o sul. Além do mais, o preço da tarifa acaba segregando ainda mais. Uma família de quatro pessoas precisaria disponibilizar pelos menos 16 reais para uma ida à praia, por exemplo, e considerando que levasse sua comida e bebida de casa. Assim, o transporte segue sendo só um recurso para chegar ao trabalho. Sem condições de mobilidade a pessoa fica prisioneira do seu bairro o que acaba sendo bom para os negócios, assim, os pobres não “enfeiam” as praias.

A cidade real

Mas, apesar todos os esforços para segregar os pobres nas margens da cidade, nas periferias, nos cantões, as gentes insistem em fazer parte do grande banquete social. E não se deixam acossar sem luta. Um exemplo disso foi a grande batalha travada pelas famílias da Ponta do Leal, uma comunidade fincada na beira do mar do Estreito, sobre palafitas, num dos espaços mais cobiçados da capital. Com o pretexto da construção de uma nova Beira-mar a prefeitura iniciou um processo de despejo das famílias que vivem ali há mais de 40 anos, com o mesmo velho discursos de jogar todo mundo para bem longe do centro da cidade. Mas eles lutaram e conseguiram o direito de permanecer na mesma região.

No sábado (dia 10), durante um encontro que discutiu a situação da moradia em Florianópolis, vários líderes comunitários como Angela Liute, da UFECO, Vanusa Araujo Silva e Nivaldo Silva, da vila do Arvoredo, Gão, da Ponta do Leal, os professores Lino Perez e Werner Kraus, o ambientalista Gert Shinke, Joviano Mayer, das Brigadas Populares de Belo Horizonte, além de integrantes das Brigadas Populares de Florianópolis, ficou bastante claro que o acesso à terra ainda é uma questão bastante explosiva na ilha.

Desde há cinco anos que as comunidades vêm discutindo o novo Plano Diretor Participativo que, em tese, desenharia a cidade para os próximos anos a partir de uma ótica comunitária e popular. Mas, ao final, todo o processo foi desmontado pelo prefeito Dario Berguer, que preferiu chamar uma empresa de fora para desenhar o projeto, colocando por terra a organização de anos. No plano construído pelas comunidades há a preocupação com a demarcação clara das Zonas Especiais de Interesse Social, que são esses espaços originariamente de ocupação ou degradados, assim como uma proposta real de mobilidade humana, como bem conceitua o ambientalista Gert Shinke. Segundo ele, é muito importante que essas comunidades que hoje vivem os processos de desalojo se integrem na luta pelo Plano Diretor, para que suas demandas sejam incorporadas e atendidas.

O fato é que a cidade administrada por Dario Berguer não é a mesma que as comunidades querem. No mundo do poder, Florianópolis deve ser um lugar de grandes condomínios, de marinas, de prédios de alto luxo, hotéis de cinco estrelas, gente criada a Toddy. A terra, nesse universo, não pode ser usada para abrigar gente pobre. Ela é mercadoria de alto padrão e precisa ser usada apenas por quem pode pagar. Não é sem razão que as praias do sul, antes espaços bucólicos, estejam sendo transformadas em canteiros de obras, com prédios brotando nas dunas, nas restingas e nos mangues. E, para variar, burlando todas as leis ambientais sem que a municipalidade interfira. Também não é nova a luta que a sociedade trava para impedir que a Ponta do Coral, uma belíssima ponta de terra na Beira-Mar norte se transforme num espaço privado de turistas e gente endinheirada. Toda a cidade está transformada em uma vistosa mercadoria, exposta até mesmo nas novelas da Globo.

Ainda assim, essa cidade paralela, ou a cidade real que muitos tentam jogar para baixo do tapete, existe e insiste em fazer parte da vida cotidiana. Essa cidade quer ser, como lembra Joviano Mayer, das Brigadas Populares de BH, o espaço da festa, da obra humana coletiva, na qual a casa é a continuidade da rua, e não isso que aí está hoje: uma cidade de exceção, uma cidade-empresa, na qual a casa é o refúgio da violência que está lá fora. Joviano insiste que essa cidade como empresa é também a morte da política, porque tudo passa a ser decidido nos gabinetes. A luta popular tem, portanto, que virar esse jogo.

Nivaldo Araujo da Silva, da Vila do Arvoredo, entende que é chegada a hora de o movimento social recuperar sua força na luta pela moradia. “Não dá para aceitar o fato de que 15% das casas que estão nas praias estejam fechadas o ano todo enquanto o déficit de moradia é de sete ou dez mil unidades. Vejam que daria para pôr todo mundo dentro dessas casas e ainda sobraria casa”.

Esse processo deve tomar um impulso tão logo aconteça um seminário especial sobre a moradia, envolvendo as comunidades e as entidades que atuam nessa luta em Florianópolis. O Fórum da Cidade já está articulando o encontro. Enquanto isso, em vários pontos da cidade dezenas de famílias estão ameaçadas de ficar sem as suas casas. Uma realidade bem distante da alegria da beira da praia. O bom é que, enquanto alguns se deliciam sob o sol, há um exército de outros atuando no sentido de fazer avançar a garantia do direito a cidade. Porque essa gente que hoje vive sob a faca do despejo também tem direito a uma alegre tarde de sol, num desses domingos da ilha. “Nós temos de discutir política, capacitar o povo, avançar, tomar a cidade. Essa é a nossa missão”, diz Vanusa, a aguerrida presidente da Associação de Moradores da Vila do Arvoredo. “Temos de abrir mão do ego, juntar as forças, porque só assim a gente vence. Nós estamos aí, na luta e não vamos desistir”, diz Gão, da Ponta do Leal. Com eles, vão também as Brigadas Populares e tantos outros militantes, apontando na direção de um novo momento da luta pela moradia na cidade. Um movimento que reivindique não apenas casa, mas também o direito de viver e circular por todos os espaços.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Energia: privatizar não é solução

09.12.2011 - Mais de mil pessoas lotaram o auditório do Centro Sul para discutir a questão da energia no Estado de Santa Catarina e no Brasil. Também, por iniciativa do Sinergia, Sindicato dos Eletricitário de Florianópolis e da Federação Nacional dos Urbanitários, foi lançada a campanha em defesa da renovação das concessões das empresas do setor elétrico para a Região Sul do Brasil. Conforme conta Mario Jorge Maia, coordenador geral do Sinergia, as concessões da Celesc e Eletrosul vencerão em 2015, daí a necessidade de as gentes catarinenses se informarem sobre o assunto para poder tomar partido na discussão.

A campanha lançada ontem é um primeiro passo para socializar essa informação. O assunto das concessões já vem sendo discutido no Senado, mas o governo ainda não chegou a uma resposta definitiva. O que começa a pipocar é a proposta de privatização das concessionárias, com o falso discurso de que, privatizando, a energia fica mais barata. A mesma velha tática de enfraquecer o serviço público para entregar, de mão beijada, as empresas ao capital privado. Isso já aconteceu no caso da Vale do Rio Doce e outras tantas empresas privatizadas, que, tão logo passaram às mãos dos empresários transformaram-se em empresas altamente lucrativas (lucros privados), e encareceram os seus produtos.

Agora, no ano de 2015 vencem as concessões de 80% das linhas de transmissão (incluídas as da Eletrosul) e a de 49 empresas distribuidoras de energia, entre elas a Celesc. Isso representa 35% da energia comercializada no país. A presidente Dilma vem sofrendo pressões políticas para firmar um posicionamento sobre a matéria, e notícias indicam que a resposta à questão deve aparecer nos próximos dois ou três meses. O lobby dos privatistas – inclusive empresas estrangeiras - é grande e só a mobilização popular pode virar esse jogo, daí a necessidade de se colocar para toda a gente o problema.

Oito usinas térmicas e também 67 usinas hidrelétricas terão suas concessões expiradas, o que representa 18,2 mil megawatts de energia. Outras 47 hidrelétricas vencem entre 2016 e 2035, com mais 12,5 mil megawatts. A questão que está posta para o governo é: ou faz novos leilões ou prorroga os contratos atuais. A luta é para que sejam prorrogados e mantidos em mãos públicas, pois é fato que em mãos privadas fatalmente a energia encarece assim como tampouco chega aos confins do país. O Tribunal de Contas da União (TCU) já deu um prazo para o governo que é de 60 dias. Até lá, há que haver uma decisão.

A campanha lançada ontem, com a participação do Movimento dos Atingidos por Barragem, Movimento Sem-Terra, Sindicatos e outras entidades ligadas ao setor elétrico e petroleiro tem como pontos fundamentais a luta pela renovação das concessões do setor elétrico, a diminuição imediata das tarifas de energia que são as mais altas do mundo, apesar de a geração ser barata, e que se implemente uma política de valorização do setor energético nacional e dos atingidos pelas obras. Atualmente a energia utilizada no Brasil, mais de 80%, é hídrica, e tem um custo de produção muito baixo. Por outro lado, a tarifa acumulou um aumento de 350% nos últimos 15 anos, coisa absolutamente incompatível com o custo de produção. Daí a certeza de que é possível praticar uma tarifa mais barata.

A queda de braço é, sem sombra de dúvida, com o setor privado. O crescimento da economia e a proliferação das parcerias público/privadas aguçam a cobiça daqueles que sempre estivem sugando as riquezas do país. Os movimentos que lutam pela continuidade da geração e distribuição da energia nas mãos públicas, acreditam que fazer novas licitações e novos leilões só provocará o desmonte do setor, prejudicando ainda mais a população que passará a refém da iniciativa privada. “A energia é um bem público não pode servir a interesses mercantis”, afirmam.

É muito importante esclarecer a população de que o consumo de energia que realmente provoca problemas e até apagões não é o da luz ligada numa unidade familiar, ou mesmo um banho mais demorado. São os grandes consumidores industriais, chamados de eletro-intensivo, que consomem uma quantidade extremada de energia. Esses setores são os que deveriam pesquisar novas formas de geração de energia para seu uso privado, e não buscar, sob o argumento falacioso de “baratear a conta da luz”, se apoderar do patrimônio público, além da energia mesma. O discurso dos grandes empresários, incluindo aí os representantes da poderosa FIESP, de que o sistema público é deficitário e precisa de mais investimentos, sendo que só a iniciativa privada poderá fazê-lo, é mentiroso. Há problemas no sistema público, mas a saída não é entregar usinas e empresas de distribuição aos empresários, e sim criar um programa sério de distribuição de energia, além de buscar uma alternativa a matriz energética baseada no petróleo e na hidrelétrica.

As entidades que se movimentam pela prorrogação das concessões querem ainda que o governo se comprometa em estabelecer uma política de valorização dos trabalhadores do setor elétrico que também vêm sofrendo com o processo de privatização que já está em curso. Muitas distribuidoras contratam trabalhadores sem qualificação para o trabalho e o resultado são os contínuos acidentes e até a morte. “A cada 40 dias morre um eletricitário e a cada 20 dias morre um petroleiro e a precariedade avança. De cada cinco eletricitários que morrem, quatro são terceirizados. De cada 10 petroleiros que morrem, nove são terceirizados. É isso que faz a privatização”, diz Marinho Maia.

Agora é com o povo. Ou se mobiliza ou em breve a energia também vira um artigo de luxo.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Fundação da Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura

Iniciativa inédita no Brasil será comemorada com um Café Anticolonial

O portal Desacato irá transmitir ao vivo, nesta sexta-feira (9), a fundação da primeira Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura do Brasil, que será realizada em Florianópolis (SC), a partir das 19h30.

O objetivo central do grupo não é novo: reunir pessoas de diversas gerações, com a intenção de abrir consciências, apresentar diferentes visões dos fatos e outra forma de cultura. “O inédito fica restrito à ferramenta, que precisa ser construída por todos os cooperados e pelo público, que pode e deve partilhar essa experiência ativamente”, afirma um dos membros da cooperativa, Raúl Fitipaldi.

A cooperativa pretende ser uma opção diante dos monopólios da comunicação, que vá além dos projetos individuais, característicos da internet. “Vivemos muitas vezes sob uma perspectiva pós-moderna de negação do coletivo e repetidora do modelo vigente, ainda que o discurso seja de oposição ao sistema”, explica Fitipaldi. Na cooperativa, o instrumento, seja ele internet, jornal impresso, livro ou peça de arte, é produto, direto ou indireto, de uma construção coletiva, aberta.

A primeira forma que a população tem de contar com a cooperativa é se apropriando dos seus conteúdos, sugerindo outros, narrando através de sua cultura, mobilizações e reivindicações. “Nossos serviços seguirão os seguintes princípios: informar, educar, formar e mobilizar, com o objetivo de uma sociedade justa, democrática e universal”, destaca o cooperante. Os serviços oferecidos se adaptarão à demanda, ou seja, pode-se comunicar uma notícia, artigo, audiovisual, livro, cobertura de eventos, apresentação de arte, entre outros.
Celebração e integração

Com o objetivo de comemorar a recente fundação da cooperativa e também aproximar o grupo da comunidade, a cooperativa promoverá, no sábado (10), o Café Anticolonial. O evento, que também será veiculado ao vivo no portal Desacato, tem início às 14h, no auditório e hall do Centro de Artes (Ceart) da Udesc, em Florianópolis.

O cardápio conta com pratos e bebidas diversos e a programação será bastante variada. A banda Pirofônicos embalará os visitantes com clássicos do rock nacional dos anos 80 e uma pitada de internacional. Haverá também as batidas do rapper Maycon, líder comunitário do Monte Cristo, em Florianópolis. Também haverá contação de histórias, sebo, brechó, mesa de trocas e venda de camisetas. O grupo ainda irá distribuir 50 mudas, sortear camisetas e uma gravura do artista Luciano Martins e exibir curtas: A casa, A ilha (The Island), Imagine uma menina com cabelos de Brasil... e Passo.

Todos são bem-vindos.

Os ingressos já estão à venda por R$ 15 e R$ 10 para estudantes.
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Contato: Raúl Fitipaldi (48) 96229128
Vanessa Bortucan (48) 9629-1525
Larissa Cabral (48) 9953-5339

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Fela - rei

Estupendo músico nigeriano que lutou contra toda a opressão em seu país. Valente, nunca se rendeu... Cantava na periferia, era o "rei" da Nigéria. Chamava os presidentes de ladrões e não calava a boca para ninguém. Irreverente, apaixonado, ácido, único. Vale a pena ouvir e conhecer sua trajetória.





sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O correio e a privatização

O correio sempre foi uma instituição crível. As pessoas confiavam que, mandando uma carta, ela chegaria, com certeza. Mas, agora, com todo esse processo de privatização, mandar uma carta talvez não seja mais possível. Tudo é feito para que o "cliente" use o serviço de sedex, que é caríssimo. A ver. Uma carta simples, para Brasília, custa 1,50. Se for registrada, pode chegar a cinco reais, mas vai demorar para chegar. O sedex custa 33 reais e chega no dia seguinte.


Outro dia mandei uma correspondência para Joinville, cidade vizinha de Florianópolis. Pois a carta saiu da ilha no dia 07 de novembro e até hoje não chegou. Fui reclamar no correio e me disserem que: É, pode acontecer. Mas com o sedex não.


Aí então entendi a jogada. Todo o processo de demora das correspondência e até a não entrega faz parte do mesmo velho modelo de desmonte das empresas públicas. Primeiro se desacredita, depois se vende para que o dono privado possa encher as burras. Isso foi bem visível durante a greve dos trabalhadores. Parou tudo, menos o sedex. E por quê? Porque já é um serviço privatizado dentro dos correios.


Um dos atendentes chegou a me dizer que, agora, as pessoas têm acesso a computador. Não mandam mais cartas. Mas isso não é verdade. Basta ver o programa do Gugu nas tardes de domingo. Existem pessoas nesse Brasil de deus que não têm sequer um real para comer e precisam do "milagre" do apresentador sortear sua carta (logo, mandam carta) para que voltem para sua terra.


O fato é que as pessoas mandam cartas sim, e muito. Principalmente as pessoas empobrecidas que não têm como gastar com "lanrause" ou com telefone. Mas, com esses, quem se importa? Quem está preocupado se suas cartas cheguam ou não? Ao que parece, cada vez mais, só os endinheirados terão acesso à comunicação nesse país.


Às vezes bate um desânimo...