Alzheimer/Velhice
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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
Aprender a lidar com o velho
O pai não andava muito bem e eu levei ele no Posto de Saúde para uma consulta. Cumprimos todas as regras. Ir para a fila de madrugada, pegar a senha e depois marcar a consulta. Claro que não levei ele para a fila. Ele ficou em casa, esperando. Com a consulta garantida o Renato levou ele. No posto é o de praxe, com alguma espera. Até aí tudo bem. Mas, ocorre que há um ar-condicionado no modo polo norte. O pai com problemas respiratórios. Uma coisa complicada. Isso sem falar nos outros doentes, com gripe e tal. Aquilo não é de deus. Mas, tá.
A médica pediu uma radiografia do pulmão. Beleza, seguimos os trâmites da espera. O pai tomou os antibióticos e era para ver se tinha ficado tudo bem, então a espera de mais de uma semana para fazer o raio-x não complicou. Beleza.
Hoje fomos fazer a tal da radiografia. E no meu coração assomou a certeza. Poucas pessoas estão habilitadas a cuidar de pessoas velhinhas, com demência. O moço insistia em pedir para pai encostar o queixo e o peito na placa. Ele não entendia. Eu falei: deixa eu ajudar. O moço: não, a senhora não pode entrar. E eu: Mas, moço, ele tem demência, não compreende as coisas, eu preciso mostrar pra ele como fazer, tem que ter paciência. O moço: não. E insistia em dar os comandos. O pai foi ficando nervoso, porque não entendia. Com muito custo eu convenci o moço de ficar com o pai dentro da sala. Ele me colocou uma roupa de chumbo, eu acho. E eu tentando fazer o pai fazer o que era preciso. Mas, ele já estava nervoso e com dor no braço por conta de uma queda, e não obedecia. Um climão.
Por fim fizemos a chapa de costas, mas tinha uma que era de lado. O pai não conseguia, de jeito nenhum, erguer os braços. Doía. O moço tentou levantar, ele gritou de dor. Eu fiquei braba. - Moço, ele está com o braço luxado, não poder erguer. Quer saber, não vamos fazer essa chapa. Foda-se. Fica só a de costas.
O moço ficou meio brabo. Mas, porra, aquilo estava sendo uma tortura e uma confusão. E o pai foi ficando nervoso a ponto de descompensar um pouco. ´Já não ordenava mais a fala, gemia com dor no braço. Um terror.
Resumindo a ópera. A radiografia ficou pela metade. Não sei muito bem como as coisas deveriam ser, mas creio que poderia ter alguma técnica para ajudar pessoas nessas condições. O pai, no geral, não consegue verbalizar o que está sentindo direito. Tudo tem de ser muito intuitivo. Claro que entendo que o trabalhador do raio-x está ali atendendo dezenas de pessoas por dia, às vezes até em condições ruins. Mas, haveria que ter uma capacitação sobre como lidar com pessoas assim, bem velhinhas e confusas. A nossa população está envelhecendo, isso é uma novidade, e cada vez mais haverá gente assim. Não creio que eles possam seguir o atendimento padrão. Sei lá, algum jeito tem de ter, afinal saí sem a chapa.
Fica a dica então para o sistema de saúde. Hoje foi difícil.
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