Alzheimer/Velhice

terça-feira, 1 de maio de 2018

Dia do trabalhador no Campeche



Fotos: Rubens Lopes

No Campeche é tradição. Todo primeiro de maio a comunidade se junta na missa que celebra o início da safra da tainha. Porque o Campeche é bairro de pescador. Terra do seu Deca, seu Chico, seu Aparício, seu Getúlio, seu Hélio e tantos outros que fizeram do mar sua roça, e dali tiraram e tiram o peixe que alimenta corpo e cultura.

A missa foi ideia do seu Getúlio, maestro e pescador, sempre preocupado em não deixar morrer os antigos costumes da comunidade. Assim, desde há 13 anos, o povo vem até o racho de canoa, onde rende graças e pede boa safra. Esse foi o primeiro ano sem o seu Getúlio, que encantou faz três meses. Foi triste e foi bonito. Triste porque ele não estava, com seu andar miudinho, colocando ordem em tudo, e bonito porque veio todo mundo lembrar o quanto ele foi importante para essa comunidade.

E tudo se repetiu. A banda formada por alunos do rancho, a procissão, as bandeiras subindo, tremulando ao vento, os pescadores, as senhorinhas, o povo da reza, o pessoal da Floram, do projeto Tamar, o SOS Praia limpa, a Amocam, os turistas, a gente da praia. E vieram ainda os trabalhadores da prefeitura que estão em greve, com seus cartazes e panfletos, para informar a comunidade e pedir o apoio nessa luta contra as OSs. Estranhamente não veio o prefeito, que sempre vem. Gean Loureiro não apareceu, nem ele, nem qualquer secretário. Hum... Primeira vez na vida que o prefeito não vem.

Veio o Espiridião Amin com Angela Amin, mas ficaram lá atrás. Perto do altar, só mesmo a gente do Campeche. Vieram os vereadores Lela e Afrânio, discretos, entre os pescadores. E quem brilhou mesmo foi o padre Antônio, na sua primeira missa no Campeche, chegado do Paraná. Ele saudou a gente local e fez uma menção especial aos trabalhadores em greve da prefeitura, que ali estavam com seus cartazes. E o povo aplaudiu o padre e os trabalhadores. Hora bonita demais.

No final da missa teve as homenagens ao seu Getúlio, lembrado com carinho e saudade. Teve poema, teve fala de amigo, teve flores e lágrimas. No rancho da canoa Gloria o povo comeu, tomou café e suco, porque o rancho sempre foi a morada da gente. Ali se falou do seu Getúlio, se contou causos, se deu muita risada. Teve abraço, teve beijo, teve emoção.

A manhã sem sol foi perfeita, o vento leve. E as gentes cantaram e comungaram no amor. Amor pelo nosso lugar, pela nossa cultura, pela nossa história, pelos nossos amigos. E entre as pessoas que se aglomeraram na tenda em frente ao altar dava até pra ver a Dona Nicota, com seu tercinho e o seu Getúlio, de olhar atento, cuidando pra não sair nada do script. Os vivos e os mortos, juntos, nessa festa de bênçãos e bem-querenças. Esperando o peixe que virá com o vento suli e o ar gelado de maio.

O Campeche é essa belezura de gente e história. Esse nosso bairro jardim, que pesca e reza. Que canta e se move. Que luta e vence. E, nesses dias assim, a gente se sente como numa rede, descansando corpo e coração, pronta para enfrentar os gigantes.

A bênção seu Getúlio, nosso mestre, a bênção Irene Baldacin, que fez tudo acontecer, e que venham as tainhas!

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