Alzheimer/Velhice

sexta-feira, 4 de maio de 2018

A bandeira do Brasil



Minhas primeiras palavras criaram vida nas carteiras duplas, de madeira marrom, na Escola Municipal Francisco de Miranda. Ficava no bairro do Paso, na beira do rio Uruguai, em São Borja. Ali, além do amor aos livros, aprendi a amar os libertadores da América do Sul, a língua argentina e a bandeira do Brasil. Uma mistura encantadora. Só podia dar nessa paixão latino-americana. De manhã, ficávamos em duplas, no pátio, para o hasteamento da bandeira e o hino nacional. Eu acompanhava com olhos brilhantes o pavilhão nacional tremulando lá em cima. E, em casa, desenhava a bandeira colorida em cada lugar.

Sempre amei os hinos e as fanfarras. O hino do Brasil, o hino do Rio Grande, o hino da bandeira, em particular: "salve lindo pendão da esperança"... e era com a mão no peito que eu cantava: “recebe o afeto que se encerra em nosso peito juvenil, querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil”. Sempre fui às lágrimas com o hino da Marinha. 'O cisne branco que em noite de lua, vai deslizando no lago azul".. A pátria era minha mátria. Sempre.

Quando fiquei mais velha e comecei a entender o que acontecia no meu país, senti a necessidade ainda maior de expressar meu amor por esse Brasil, espaço dos meus afetos e amores. Lá em casa sabíamos bem o que era a ditadura e o que aqueles milicos faziam em nome da “pátria”. Mas, eles não eram a pátria. Estavam usurpando o que eu considerava o “sagrado pavilhão”. E isso me fazia amar ainda mais a bandeira verde e amarela, a qual sempre tinha colada nos cadernos.

Por isso que ao longo da vida sempre gostei de me vestir com as cores da bandeira. E quando chegava o tempo da Copa do Mundo eu saltitava de alegria, porque sabia que poderia, enfim, comprar várias camisetas verde-amarelas, as quais não se encontravam em tempos normais, pois os brasileiros, em geral, acham brega usar as cores da bandeira. E a vida toda foi assim. Nos anos de copa, lá estava eu fazendo minha provisão.

Quando viajo para fora do país faço questão de levar a minha camiseta verde-amarela e coisas que marquem a minha origem brasileira. Sou irremediavelmente uma patri/matriota.

Digo isso porque vejo com tristeza, outra vez, pessoas usarem esse símbolo que amo tanto para defender uma minoria que nada mais quer do que servir a outra bandeira, que não a nossa, mas a do "tio Sam". Falo dos chamados “coxinhas” que vestem as cores da bandeira contra os pobres, contra os trabalhadores, contra os sem-terra, contra os sem-teto, que apoiam políticos que entregam nossas riquezas, que se vendem por 30 dinheiros, que se dobram ao grande capital, que sangram o país. Sinto como nos tempos da ditadura que estão usurpando os símbolos nacionais. Causa-me profunda dor.

Venho ao tema porque está chegando o tempo da copa e eu vou comprar minhas camisetas verde-amarelas. Porque nunca vou permitir que tirem de mim esse símbolo que amo tanto. A bandeira do Brasil, o pendão da esperança, que encerra todo o meu afeto. E mesmo com os olhares virados de alguns, seguirei carregando essas cores que dizem tanto do nosso espaço geográfico. O verde das matas, o ouro do sol, o azul dos rios abençoados, o branco do luar do sertão. Meu brasil brasileiro, o qual gosto de cantar.

Sou comunista, quero a força do comum, e quero no mundo todo. Mas, sou filha desse lugar, do descampado da pampa e aqui estão fincadas minhas raízes. Patriota sou, matriota, brasileira, e me cubro de verde e amarelo porque amo esse lugar e essas gentes. E como dizem os meu compas sem-terra, “e é por amor a essa pátria, Brasil, que a gente segue em fileira”.

Assim que não estranhem se me virem com a bem-fadada camisa verde-amarela. Ela não é dos coxinhas. Ela é de quem ama o Brasil.


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