O dia na UFSC hoje foi quente. De manhã, uma reunião
auto-convocada pelos trabalhadores técnico- administrativos – visto que o
Sintufsc está morto - juntou mais de 120
TAEs para discutir a situação da universidade. Aberta a reunião, logo foi
concedida a palavra para que os trabalhadores pudessem analisar os fatos que se
sucedem na UFSC desde a prisão arbitrária do reitor Luis Cancellier e mais outros
trabalhadores da instituição. Foi apontado que a administração da UFSC deveria
ir a público explicar de maneira clara o que acontece na universidade, afinal,
até agora não houve qualquer pronunciamento.
A invasão da universidade e a prisão dos professores foi um
ato típico do estado de exceção e feriu profundamente a autonomia da
universidade. É preciso que a sociedade saiba que a universidade tem mecanismos
de controle interno e externo muito eficazes e que ela mesma tem todas as
condições de resolver seus problemas. A ação de instituições externas como
Ministério Público, Tribunal de Contas e outras, podem apontar problemas e
pedir explicações. Mas não têm poder algum para impor qualquer coisa à universidade.
O que se espera da administração é que ela responda a altura. Não é o que está
sendo feito. Pelo contrário. Isso precisa mudar.
Também se discutiu o papel do corregedor e a ação submissa
da vice-reitora em revogar a portaria que abria processo disciplinar administrativo
contra ele. É sabido por toda a UFSC, com denúncias de trabalhadores da própria
corregedoria, que esse senhor tem uma postura violenta e desrespeitosa no
setor, já tendo sido acusado de assédio moral por mais de uma servidora.
Os trabalhadores ainda avaliaram as disputas internas que
existem na UFSC, os grupos de poder e os interesses que estão por trás de cada
ação. Ao final do debate, que durou mais de duas horas, decidiu-se que seria
levado um documento desses TAEs para ser lido na reunião do CUn, onde
essas avaliações fossem colocadas e com
as seguintes exigências:
(a) posicionamento público imediato contra as ações abusivas
dos envolvidos nas prisões desta operação;
(b) prosseguimento do processo administrativo referente ao
corregedor, respeitando o devido processo legal;
(c) manifestação em defesa da autonomia universitária e,
portanto, contrária a quaisquer
tentativas de intervenção externa, via indicações de cargos ou mecanismos de
controle.
A reunião do CUN
Se a reunião da manhã correu tranquila, a do CUn explicitou
o completo esquecimento da prerrogativa da autonomia. Seguindo a lógica do que
acontece hoje no Brasil, de um estado de exceção, o Conselho Universitário não
permitiu a entrada da imprensa, inclusive a interna. Alguns conselheiros
chegaram a questionar a presença da Agecom, que é o setor oficial da comunicação
da UFSC. Também a TV UFSC não teve acesso. Todos ficaram de fora. Nem mesmo a câmera
que faz a filmagem da reunião foi manipulada, ficando aberta e mostrando uma
imagem geral. Coisa assim só foi vista na trágica votação da Ebserh, que foi
feita dentro do prédio da Polícia Militar.
O TAE Hélio Quadros, escolhido pelos trabalhadores para ler
o documento, não teve permissão de entrar. Ele então foi conversar com os
representantes legais dos TAEs no Conselho, que foram eleitos pela categoria,
para que lessem o documento. Pasmem. Negaram-se, dizendo que o documento não tinha
sido feito pelo sindicato. Ora, os representantes dos TAEs no CUn não são
representantes do sindicato. São eleitos
em eleição geral. Mas, como se viu, ao que parece, só fazem o que o sindicato
manda. E se o sindicato está morto, eles se calam.
Assim, dessa forma antidemocrática começou a reunião. A
vice-reitora se pronunciou dizendo que tem clareza de que o Conselho já havia
decidido pela sua permanência e que ela estava pronta para enfrentar o desafio.
Caiu por terra as teorias de que ela iria renunciar. Não vai. Teceu loas à autonomia universitária e logo em seguida informou ao CUn que havia suspendido
a portaria do processo contra o corregedor porque a universidade estava vivendo
uma situação de muita instabilidade.
Assim, decidiu que enviará o processo
envolvendo o corregedor para a Corregedoria Geral da União, em nível nacional,
para que eles lá decidam sobre a vida da UFSC. Paradoxo total. Como falar em
autonomia e imediatamente depois ceder soberania para a CGU? Um vexame total.
A professora Sônia Probst interveio dizendo que aquela não
era pauta do Conselho e que a informação da vice-reitora, bem como sua decisão,
não estaria respaldada pelo CUn.
Ao final, o conselho decidiu criar comissões para investigar
as denúncias que pesam sobre a UFSC. E ainda contratar empresa para ver o que ficou de impacto negativo da operação ouvidos moucos sobre a UFSC. Surreal.
Ao que tudo indica, a vice-reitora segue o
mandato, inclusive com o aval para refazer a equipe de comando, uma vez que
vários pró-reitores pediram para sair.
No campo dos trabalhadores técnico administrativos ficou o
compromisso de construir uma Assembleia Geral Universitária.
Como análise geral fica a certeza de que essa administração
seguirá submissa aos órgãos externos, cedendo soberania e abrindo mão da autonomia.
Segundo o professor Áureo Moraes, que encaminhou o processo contra o corregedor,
a vice-reitora estava sabendo dos trâmites e só voltou atrás depois de receber
a visita de representantes de órgãos externos à UFSC.
No que diz respeito aos trabalhadores já está bem claro como
a banda vai tocar. Nenhum respeito e ignorância total sobre as pautas. Restará
ao grupo que hoje se auto-convocou seguir se reunindo e apontando caminhos.
Nessa sexta-feira tem assembleia do sindicato, mas os dramas
da UFSC não estão na pauta. A luta vai ser dura, principalmente porque
estaremos com o sindicato jogando contra. A posição dos conselheiros hoje deu o
tom.
O caminho é centrar fogo na Assembleia Geral Universitária, buscando mobilizar também os professores e os estudantes.