Na UFSC, uma das grandes batalhas que sempre travamos foi a
da autonomia universitária. Garanti-la durante os momentos mais cruciais sempre
foi cimento para unificações – no geral complexas - entre técnicos, professores e estudantes. Autonomia
na sala de aula, autonomia administrativa, autonomia política. Claro que sempre
alinhada às grandes políticas traçadas pelo estado, afinal a universidade é uma
instituição pública.
Nunca foi fácil caminhar por esse caminho de autonomia. Primeiro
porque quase sempre tivemos reitores visceralmente atrelados politicamente às
políticas conservadoras dos governos de plantão. Ainda assim, quando do
interesse dos gestores, a autonomia era chamada. No geral, assim, obedecendo a
esse uso instrumental. Quantas batalhas perdemos nós, trabalhadores e
estudantes, porque os administradores não quiseram usar do princípio da
autonomia, e quantas outras perdemos porque eles arrogaram autonomia? Os que estão
na UFSC por mais tempo sabem disso.
É por isso que seguimos lutando pela tal autonomia. Mas
entendemos que ela deva ser praticada para servir aos interesses da maioria da
população, que é quem usa e sustenta a universidade. Sabemos também que isso só
vamos conseguir quanto tivermos uma administração alinhada com as grandes lutas
nacionais por transformação. Infelizmente na UFSC temos tido administrações conservadoras,
no mais das vezes alinhada com o mercado capitalista.
Durante a gestão de Roselane/Lucia, vivenciamos um momento
estranho. Houve um afã desenfreado de processos contra trabalhadores, mais
de 500, muitos deles sem qualquer fundamento, sob a alegação de que a UFSC
estava sob a fiscalização cerrada de outros órgãos federais. E houve uma questão
em particular que acendeu a luz vermelha dessa relação de submissão da
instituição ao Ministério Público. Foi a
imposição do ponto para os técnico-administrativos. Segundo a reitora, o MP
estava pressionando e a UFSC iria acatar, sem levar em conta a sua autonomia.
Na época, sugerimos à reitora que trouxesse os membros do MP à UFSC para
explicar como a instituição funcionava, como ela não era uma fábrica de
salsichas e como não podia ter as mesmas regras. Sugerimos também uma proposta
autônoma e adequada ao papel da universidade sobre como controlar o ponto dos
trabalhadores. Não teve jeito. A reitoria assumiu a reprimenda do MP e impôs a
folha-ponto.
O que precisa ficar claro para a sociedade é que ninguém
aqui está dizendo que a universidade não deve se submeter a controle. Ela tem
sim que estar sob controle da sociedade e existem mecanismos para isso. Mecanismos
que são usados o tempo todo. Poucas instituições são tão controladas como a
universidade. Se estouram alguns escândalos de desvio de verbas, podem apostar
que estão sob o comando das fundações, porque essas sim estão livres e não
prestam contas com rigor. As fundações são empresas privadas dentro da
universidade, configurando uma excrescência que poucos têm a coragem de
discutir. Durante o mandato dos TAEs Livres no Conselho Universitário bem que
tentamos trazer um mínimo de transparência para as contas. Esbarramos na sempre
subserviente relação entre os professores e as fundações. Avançamos pouco.
Nossa proposta sempre foi pelo fim das fundações dentro das universidades, mas
o próprio presidente Lula as legalizou.
Voltando a autonomia, a universidade poderia sim evocá-la
para discutir com qualquer outro órgão federal. Um reitor ou reitora que
realmente conhece e defende a instituição não deve ter medo de dialogar e
apresentar os argumentos sobre como está fazendo seu trabalho. Enfrenta MP,
enfrenta tribunal de Contas, enfrenta Controladora Geral da União. Chama para
conhecer, mostra as diferenças, abre as contas, abre todos os “cofres”. Transparência
e firmeza. Com isso pode-se ir conversando e encontrando caminhos.
O que não dá é para temer.
Compreendo que o que aconteceu com o Cancellier possa
colocar medo nas pessoas. Se ele, sendo um homem do sistema e um conciliador,
passou o que passou, o que não poderia passar àquele ou àquela que decide
enfrentar com autonomia esses setores que hoje assomam com tanta empáfia, arrogância
e intolerância? Não deve ser fácil arriscar ser preso por um jovenzinho
pseudo-calvinista por não cumprir uma determinação imposta pelo desconhecimento.
Mas, apesar de toda essa treva que se abate sobre o país, é
preciso resistir. Nossa UFSC precisa de uma administração sem medo, capaz de
apontar o caminho da resistência. O Cau foi tomado de surpresa. Ele não teve
chance. Não sei se ele enfrentaria, mas o fato é que não teve chance. Foi arrancado
de casa e impedido de entrar na universidade. Sofreu humilhações e ficou
impedido de fazer contato com seus colegas da UFSC. Nessa hora faltou mesmo liderança. Ninguém do
grupo da administração assomou levantando a bandeira da autonomia. Nem seus
correligionários. Ficou um estupor. Nossas entidades sindicais internas estão
mortas. Não se moveram. Os estudantes tampouco.
Então o reitor se matou. E isso abriu os olhos de alguns.
Começou uma movida, ainda muito burocrática. Denúncia do
estado de exceção, pedido de justiça. Mas nenhuma ação massiva da comunidade. A
vida segue nos departamentos, nos centros, como se nada fosse com a gente.
Agora, mais essa. A nova reitora em exercício se rende aos
órgãos de fora. Desfaz um ato administrativo que buscava esclarecer denúncias
sobre o corregedor. Atropelos, titubeios, medo. Não é disso que a UFSC precisa.
Os técnico-administrativos vão realizar um encontro auto-convocado
nessa quinta-feira, dia 26 de outubro, às 9h e 30min, no Hall da reitoria.
Chamamos todos e todas. Os velhos, que já se aposentaram, os novos que aí
estão, atônitos diante de tudo. É tempo de retomarmos o protagonismo que sempre
tivemos sobre os grandes temas da UFSC. Os trabalhadores fazem a UFSC. É hora
de encontrar caminhos coletivos que fortaleçam nossa universidade e que
permitam assomar propostas de autonomia e bom-governo.
Sem medo, avante! TAEs, vamos dizer nossa palavra.
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