Nessa sexta-feira, técnico-administrativos, professores e
estudantes realizaram uma assembleia conjunta para discutir as ameaças que
pairam sobre a universidade e sobre os trabalhadores.
Um olhar desavisado diria: tudo está normal. Os pró-reitores
todos trabalhando, o reitor interino também, o Áureo passeando pelo saguão,
algumas pessoas indo e vindo das salas da reitoria, e num dos lados do hall, as
três categorias, em número não muito significativo, expressando a pouca
mobilização, discutindo a conjuntura e buscando caminhos para sacudir a UFSC.
Motivos não faltam. O governo Temer vem desmontando o
serviço público desde o congelamento dos investimentos, e agora promete
diminuir salários, retirar direitos e quem sabe, de quebra, privatizar um pouco
mais essa já combalida instituição.
Ora, isso é a normalidade.
Não, não é!
No saguão da UFSC, onde se desenrolam todas essas cenas, há
uma presença, que interpela e exige. É a presença de Cau Cancelier, o reitor.
Impossível não sentir. Há pouco mais de um mês ele saltou para a morte, não
suportando o peso da acusação de ser um “criminoso”, responsável por obstruir o
trabalho de investigação sobre uso indevido de recursos.
A operação da Polícia Federal, que infligiu ao reitor uma absurda
e desnecessária humilhação, até agora nada disse sobre as acusações. Eram
verdadeiras? Eram falsas? Nada! A
comunidade segue no escuro. Só no dia 27 de outubro , quase dois meses depois
da malfada ação, o Conselho Universitário finalmente montou uma comissão para
investigar os fatos relacionados ao processo que deu origem a operação ouvidos
moucos. A equipe, que conta com dois professores, dois estudantes e dois
técnicos, terá 30 dias para apresentar a conclusão dos trabalhos. Assim, até o
dia 27 de novembro, a comunidade seguirá às escuras.
Então, nada está normal na UFSC, apesar da aparente
tranquilidade.
Um homem morreu. E os outros professores e técnicos que
foram presos também, acusados de malversar dinheiro, seguem vivendo a agonia do
desterro da UFSC. Quem pode esquecê-los? Eu não. Os via todos os dias no
corredor do meu Centro, pertencem ao meu mundo cotidiano. Lembro e me preocupo,
ainda que mal os conheça. Quantos não estarão também com a alma em escombros?
Tem um mistério aí para se revelar. E a UFSC é a que precisa
fazer isso. Esclarecer a sua comunidade, interna e externa, sobre o que
aconteceu, e que levou à ainda dolorosa ausência do reitor. Que isso não tarde. Há que restituir à memória
de Cau a sua dignidade. A UFSC deve isso a ele.
Por isso, nada está normal na UFSC.
Hoje, observando os mesmos lutadores de sempre, na cotidiana
batalha de informar e formar, contra vento e maré, acerca dos grandes desafios
que estão postos para nós, trabalhadores e estudantes, me veio essa terrível
sensação: nada está normal. Nada está
bem. Nada está como sempre foi.
Há que reconstituir essa alma despedaçada da UFSC. E isso é
trabalho nosso.
Nessa manhã chuvosa de uma assembleia esvaziada, eu tinha
tudo para desesperar, mas não. É quando me dá essa gana louca de começar a
rolar de novo a pedra até o alto da montanha. Há um longo caminho de reconstrução
da nossa luta como trabalhadores, e há que recuperar aquele velho amor que
sempre embalou nossa relação com a UFSC, essa universidade que ainda não é como
a queremos. Mas, que pode ser.
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