Uma das experiências mais bonitas tocadas pelo Partido dos
Trabalhadores no início de sua trajetória como institucionalidade foi a do
Orçamento Participativo. As cidades sendo pensadas pelas gentes mesmas, as que
as constroem e que as vivem. Florianópolis viveu esse momento durante o governo
de Sérgio Grando, no qual Afrânio Boppré (então PT) era vice-prefeito. E foi uma belezura. Todos
os bairros faziam suas reuniões e discutiam suas prioridades para obras e
serviços. Depois, decidiam o que fazer e quanto gastar em cada coisa. Pela
primeira vez na história da cidade os moradores eram chamados para uma
participação real e direta, na qual definiam eles mesmos o que fazer com os
recursos do município. Foi um tempo em que as prioridades eram invertidas, pelo
bem da maioria.
Com a volta dos políticos conservadores esse processo todo
se perdeu, ainda que o germe da participação direta continuasse ativo. E tanto
que quando a lei nacional do Estatuto da Cidade obrigou os prefeitos a
iniciarem o Plano Diretor Participativo, toda aquela gente que viveu a experiência do Orçamento Participativo
voltou à carga, com força e com disposição. Decidir a vida da cidade é coisa
que todo mundo quer. E é coisa que todo mundo deveria ter direito. E ainda que
o processo do Plano Diretor não tenha sido vitorioso, a lógica da participação
direta formou muita gente. Isso é ganho popular.
Pois agora, numa conjuntura na qual a Câmara de Vereadores
conseguiu juntar um pequeno grupo de vereadores capaz de pensar os moradores
como sujeitos reais de direitos, surge a proposta de um Orçamento Legislativo Participativo,
uma ideia inovadora que pretende envolver os moradores da cidade na discussão e
na decisão sobre os investimentos e gastos públicos do município no que diz
respeito as emenda que os parlamentares têm direito.
A proposta envolve os vereadores Afrânio Boppré (PSOL), Lino
Peres (PT), Marcos José de Abreu (Marquito, PSOL), Pedro de Assis Silvestre
(Pedrão, PP) e Vanderlei Farias (Lela, PDT) e tem como objetivo principal
manter a lógica de participação popular nas decisões da cidade, buscando tornar
democrática a tomada de decisão acerca das prioridades sobre obras e serviços.
Os vereadores querem fortalecer a prática da participação
direta e reverter a mentalidade clientelista que é marca registrada das emendas
orçamentárias dos vereadores. Onde colocar o dinheiro das emendas
historicamente tem servido como moeda de troca com o Executivo e para campanhas
políticas, tornando o Legislativo um lugar onde o povo não é verdadeiramente
representado.
O Orçamento Legislativo Participativo foi lançado nessa
segunda-feira, dia 13, em sessão especial da Câmara de Vereadores e deve se
fortalecer como um dos mais importantes desafios desse pequeno grupo de
vereadores que realmente respeitam o mandato que receberam. A ação dos
vereadores aparece como um importante contraponto à vergonha nacional que tem
sido expressa na relação fisiológica de deputados e senadores, historicamente
vendendo seus votos aos interesses da classe dominante.
Não será um processo fácil, os vereadores reconhecem, pois a
prática da democracia direta não encontra espaço nos governos conservadores que
se repetem na cidade. Mas, é uma iniciativa generosa e cheia de esperança. No
lançamento da ideia, ontem, era possível sentir a alegria de cada um dos
envolvidos em iniciar essa caminhada que é desafiadora, mas absolutamente necessária.
Será, talvez, a primeira vez que esse
parlamento cumprirá uma função de utilidade real na vida dos moradores da
cidade. Os recursos – de dois milhões e meio – que os cinco vereadores têm para
usar com emendas parlamentares – serão usados a partir dos desejos das
comunidades, depois de boas discussões comunitárias. É um valor baixo, que
muito pouco mudará o rumo das coisas na cidade, mas na medida em que esses
cinco vereadores decidem mudar a lógica, e entregar a decisão para a população,
eles abrem as portas para uma prática verdadeiramente democrática que, se
vingar, fatalmente obrigará os demais vereadores a abrir o debate com seus
apoiadores também.
Com a presença de entidades sociais e populares na abertura dessa
generosa proposta, o lançamento do Orçamento Legislativo Participativo foi um
respiro de alegria nesses tempos tão sombrios.
Agora, é acompanhar a ação de cada um desses cinco
vereadores que deram ontem um passo histórico. Juntos, ainda que com divergências,
eles abrem passo para o “mandar obedecendo”, a única democracia possível.
Parabéns a todos e toda a força avante. É no chão da vida
que as coisas começam a mudar.
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