Para Marcos Mazzuco
A nova votação no Congresso Nacional brasileiro, configurada
como manobra, aprovou a urgência no projeto da reforma trabalhista. Uma votação
no dia anterior derrotara o governo. Eles votaram de novo, até ter quórum para
sua vitória. O golpe no golpe, se fazendo cotidianamente, e transmitido ao
vivo, pela TV. A ação criminosa dos meios de comunicação cuja função é
desinformar, desintegrar, fragmentar, levando a população ao engano e a
alienação. O crescimento de figuras como Dória, empresários gananciosos gerindo
o estado, escrachando ainda mais a verdadeira verdade que é a de que o estado é
o balcão de negócios da classe dominante.
No plano internacional temos a guerra contra a Síria, mais
uma obra do império estadunidense, que já tem plantado campos de guerra no
Afeganistão, no Iraque, na Palestina, na Somália, no Haiti, e em tantos outros
espaços onde age, com armas ou conspirações. A possibilidade de um iminente
ataque nuclear no mundo, levando nações à guerra, sem nem saber por quê.
Nossa América Latina sob ataque constante dos “tanques de
pensamento” neoliberal e imperial, provocando a desestabilização, a violência,
a destruição. É o que se vê na Venezuela, onde a direita, financiada pelos
Estados Unidos, forma e arma jovens pobres para destruir a possibilidade de uma
nação ser soberana e livre. A perversidade da destruição por dentro. E tudo em
nome do enriquecimento de alguns, porque essa molecada que está na rua
provocando a violência não terá espaço numa Venezuela “azul” (cor dos
esquálidos).
O nosso Brasil, vivendo de maneira clara e concreta um
retrocesso abissal. Os direitos dos trabalhadores sendo retirados, a
impossibilidade de uma vida digna, a saúde destroçada, a educação entrando na
idade média, a violência aumentando de maneira exponencial, os povos indígenas
sofrendo novos reveses, perdendo territórios já conquistados, jovens negros
morrendo como moscas.
Tudo isso nos coloca um novo/velho problema: qual o lugar do
nosso corpo nessa cena?
Os governos petistas que atuaram desde 2003 incentivaram os
trabalhadores a acreditar que com eles lá, tudo estava dado. Os corpos em luta –
pelo menos uma grande parte - saíram de cena, apostando na institucionalidade.
Mas, a realidade mostrou que isso foi um erro. Um governo não pode tirar o povo
da rua. Pelo contrário. Tem de fomentar cada vez mais a rebeldia e a
radicalidade, porque as mudanças, mesmo as mais pueris, são enfrentadas com
violência pela classe dominante.
Agora aí está. Um golpe atrás de golpe. Um congresso entreguista,
que se move a partir dos interesses dos conglomerados empresariais. Tudo contra
as gentes, contra os trabalhadores, contra a vida. Votação trás votação, os
direitos se perdendo e a classe dominante abocanhando tudo o que há.
Enquanto isso, nas ruas, nos bairros, nas escolas, nas igrejas,
nas comunidades, as pessoas estão perplexas, hipnotizadas pela televisão. Há
uma paralisia, um estupor. E claro, não é “culpa” das gentes. A
responsabilidade é de quem, por apostar no campo institucional, descuidou da
formação de base. Um povo capaz de lutar é um povo organizado desde baixo, na
cabeça e no coração. E isso significa trabalho, árduo e cotidiano, nos fundões
da vida.
Esse é lugar do corpo na cena. O corpo em movimento, nas quebradas,
nos bairros, na vida dos trabalhadores. O corpo falante, contando as histórias
dos ancestrais, contando das tantas lutas já travadas, dos nossos heróis,
nossas heroínas, desvelando as possibilidades de vida boa e digna. O corpo
brincante, dançante, festivo, capaz de se alegrar na comunidade, ao mesmo tempo
em que aponta caminhos de belezas coletivas e solidárias. Um corpo capaz de
seduzir o outro, para além do discurso, mas com o exemplo concreto e cotidiano.
A cena do grande teatro humano é a sinistra globalização do
modo capitalista de produção. A luta de classes é o enredo. E o lugar do corpo,
do nosso corpo, é junto aos oprimidos, aos de baixo, à maioria. Não importa em
qual cantinho da cena estamos: na universidade, no teatro, na música, no
sindicato, na igreja. Nesse nosso cantinho singular nosso corpo deve estar em
luta. Em luta com os trabalhadores.
E todo esse movimento deve desembocar agora, no dia 28, na
Greve Geral. Depois, é ir crescendo, crescendo e crescendo... Para esse ainda-não tão sonhado, para lá
mandaremos nosso corpos em luta...
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