Alzheimer/Velhice

domingo, 30 de abril de 2017

Não é o método, são os motivos



Na Venezuela, "opositores"

 No Brasil, "vândalos"

Certa vez um amigo me dizia que colocar fotos de palestinos mortos nos atos pela Palestina não era bom. Afastava as pessoas. Ninguém quer ver tragédia, argumentava. Eu fiquei muito tempo pensando sobre isso, tentando encontrar outras formas de falar sobre a Palestina ocupada e violentada. Mas não havia. Eu então me perguntava. Mas por que tanta gente assiste a esses programas horríveis, de mortes e tragédias? Se não gostam de vê-las, por quê?

O mesmo se dá com o lance dos vândalos. Quando os que quebram e depredam estão na Venezuela, são “opositores”. Se isso acontece no Brasil, contra a reforma da Previdência, são vândalos. 


Ora, não é preciso a gente ser muito inteligente para se tocar. Não é o método. São os motivos. Se alguém sai às ruas botando fogo em prédios públicos, carros de polícia e machucando pessoas, mas o faz contra o “ditador” Maduro, tudo bem. São até transformados em heróis. Vejam o caso do ex-prefeito de Chacao, Leopoldo Lopez, que é tido como um “prisioneiro político” pela direita mundial. Incitou o povo à violência e foi o responsável por mais de 40 mortes.


Mas, no Brasil, se as pessoas quebram vidros, queimam ônibus, ou se defendem com pedras de uma polícia assassina, são chamados de vândalos. E as carolas destilam seus ódios pelas redes sociais, desejando que jovens morram, porque não deveriam estar na rua lutando contra a ditadura do capital. 


São dois pesos e duas medidas. Noam Chomsky já desvendou essa dupla mirada que existe principalmente nos meios de comunicação. No seu livro “Guardiões da Liberdade” ele mostra como os inimigos dos Estados Unidos são mostrados como bandidos, à exaustão. E os inimigos dos amigos dos EUA também. Já os amigos que fazem coisas ruins, aparecem muito rapidamente, numa nota de roda pé. E olhe lá. 


A questão deve ser vista então sob um olhar de classe. Todos aqueles que lutam contra o sistema capitalista estão a favor dos trabalhadores, tem um lado claro, sem rugosidades. E os que atacam os governos progressistas ou socialistas, mesmo que sejam pobres, estão ao lado da classe dominante. Escolheram um lugar. E não é do lado dos trabalhadores. Preferem seguir comendo as migalhas da mesa do banquete dos patrões. 


Por isso os jovens venezuelanos “guarimbeiros” aparecem na mídia como defensores da liberdade. É uma verdade isso aí. Só que a liberdade que eles estão a defender é a de meia dúzia de milionários que os descartarão tão logo cheguem ao poder. Ou o manterão apenas como subalternos, cães de guarda.


Já a nossa juventude que se arrisca no confronto com as forças da repressão, são os “comunistinhas vagabundos”, os que estão “pedindo para levar”. E se por acaso se ferem gravemente ou morrem, os bons cristão proferem a sentença: bem-feito, quem mandou fazer baderna. E se quebram o vidro de um banco então, deus nos acuda. Pobrezinhos dos bancos. São tão pobres que precisam ter suas dívidas de 25 bilhões perdoadas pelo governo. Claro, o governo pode tirar do trabalhador. 


Então a parada é simples. Não importa como a gente faça a luta. Se nossos motivos forem as lutas contra o capital ou contra a classe dominante, a ideologia que é vomitada pelos meios de comunicação sempre nos colocará como bandidos. Ainda que entreguemos flores, como foi o caso de uma ciclista em São Paulo. Ela ofereceu flores ao prefeito João Dória e ele indignou-se, jogou tudo pela janela. Pois não é que teve gente que achou bom? Na visão dessa gente a garota e seu gesto de paz era apenas “uma ridícula”. Pois é. Insisto: não é o método, são os motivos.




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